Herculano, o excêntrico (Apolinário Ternes)

Herculano, o excêntrico
(Apo Ternes)

O mais excêntrico de todos nós, criaturas do jornalismo. Herculano Vicenzi ocupou um espaço único na história da imprensa em Joinville. Cidade industrial, Herculano se especializou na área agrícola. Foi iniciador, no final do século passado, no cultivo das coisas e dos homens que viviam na periferia do centro urbano. Assim, escrevia sobre temas, lugares e pessoas ainda desconhecidas da cidade.
Com sua perspicácia e talento, construiu logo uma multidão de leitores que, aos poucos, se transformaram em amigos. Assim, no campo e na cidade, Herculano construiu trajetória única, em quase trinta anos de comunicação diferenciada. Amigo de tantos, logo adquiriu o status de jornalista que conhecia as ‘profundezas de Joinville’. Através de suas reportagens revelou a milhares de leitores as múltiplas atrações do mundo rural, numa cidade que acabou industrial, mas que nascera para ser a ‘maior colônia agrícola do Sul do Brasil’. O planejamento de Mathias Schroeder não deu certo, mas o universo colonial continua preservado ainda nos dias atuais. Herculano Vicenzi foi o ‘descobridor’ desse universo e o autor de um trabalho único – integrar o universo rural à cidade e mostrar a milhares de leitores a face escondida da antiga colônia.
Sua morte neste início de ano foi lamentada, especialmente por jornalistas exilados que somos quase todos os militantes da imprensa local, agora órfãos de quase tudo. Minha relação com o ‘colono’ principiou nos primeiros anos de 1960, quando cruzamos a vida um do outro nos imponderáveis 11 anos de idade no seminário de Taió. Ambos queríamos ser padres. Ambos desistimos, o que foi um benefício danado à santa igreja.
Cruzaríamos caminhos quase quatro décadas depois, nas salas apertadas e antigas de A Notícia na Rua Abdon Batista. Fomos vivendo de jornalismo, por destino, ou por maldade dele. Adiante, já no século 21 fizemos juntos dois livros bem interessantes: Imperial Estrada da Serra e Legislativo de Joinville, 150 anos.
Dividimos tarefas e arregaçamos as mangas. Herculano escreveu outros livros, mas tinha muito orgulho de nossos dois frutos da maturidade. Com o tempo, o ‘colono’ foi ficando mais ousado. Colocou chapéu na cabeça e, com ele, frequentava as reuniões da Academia Joinvilense de Letras, onde pontificou com seu charme único – jornalista especializado em gente e flores. Luiz Meneghim esculpiu o perfil de Herculano com rara precisão e maestria. Não é preciso dizer mais nada. Um colega de bom humor e com senso das fragilidades da vida. Bem por isso, ocupa lugar tão afetivo nas memórias de todos nós. A sua espontaneidade cativou todos os que circulavam ao seu redor, e nem ficávamos chateados com os apelidos que tão rapidamente dava aos novos e velhos amigos.

(aternes@terra.com.br)

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