A vida dos poetas (Donald Malschitzky)

A vida dos poetas

Donald Malschitzky

 

Ribeirão Grande, hoje, município de Salete, no Alto Vale do Itajaí, deu as boas-vindas ao menino Alcides Buss em1948. No mesmo ano, a 19 km dali, em Taió, nasceu Herculano Vicenzi. A mãe do primeiro sonhava em ter um filho padre; seu desejo e as circunstâncias, levaram Alcides, a se matricular no Seminário, justamente, em Taió. Herculano, por vontade própria e, talvez, por vocação, fez o mesmo. Ambos descobriram que o caminho não era esse, e, porque era para ser ou por puro acaso, os dois acabaram em Joinville; Alcides, em 1966 para fazer o Ensino Médio, e Herculano, no início dos anos 1970, para cursar Letras.
As palavras, principalmente as escritas, se tornaram o ganha-pão deles, em trajetórias diversas, um, poeta de formação, de magistério e de missão. Se alguém ceder à tentação de lamentar que a Igreja perdeu um padre, certamente se confessará pecador ao conhecer a poesia de Alcides Buss, expressa em dezenas de livros; o outro, Herculano, mergulhou na poesia cultivada nos campos e nas roças e soube fazê-lo com tal encantamento em vários jornais e livros que transformou-se, ele próprio, num personagem dos “fundões”, como apelidou o interior de Joinville e adjacências.
“Domus amica, domus optima”: a casa amiga é a casa ótima, foi o lema escolhido pelos fundadores da Academia Joinvilense de Letras, em 1969. Entre eles, Alcides Buss. Na revitalização da Casa, em 2013, Herculano Vicenzi foi o convidado a participar, tornando-se o primeiro acadêmico da nova safra.
Na quinta-feira passada, dia 3, a luta que travava há um ano contra um câncer, terminou: “Hercolono” foi buscar outras paragens.
Com um ano de idade, Marco Vasques, perdeu o pai. Quando tinha dois anos, a família, agora formada pela mãe e quatro crianças, mudou-se de Estância Velha (RS), para o sítio de seu avô materno, agricultor e pescador, em Imbituba, em Santa Catarina.
Joinville foi seu próximo destino. Ainda bem criança, vendia picolés e tapetes costurados pela mãe, usando retalhos da indústria têxtil local. Até que ponto os desenhos dos tapetes despertaram nele o sonho da poesia não se sabe, mas, decidiu viver da literatura, publicando seu primeiro livro aos 28 anos de idade. Levou a decisão a sério e mudou-se para Florianópolis, onde foi “adotado” por Alcides Buss para seus primeiros passos. Doutor em teatro, poeta, com várias obras publicadas dedicou-se com entusiasmo a fazer cultura em Santa Catarina.
Pescar era passatempo e, talvez sem dar-se conta, oportunidade de congraçamento para quem adquirisse seus pescados preparados para assar e reunir-se à mesa. Saiu a pescar no dia 9 de dezembro do ano passado, e o mar ficou com ele.
Este não é bem um feliz ano novo. Peçamos a Alcides Buss, que paraísa em Santo Antônio de Lisboa (Florianópolis), que minore nossa dor com sua explicação sobre o propósito das frases escritas pelos poetas: “… Um dia, morre – que todos morrem – e sequer saberá que morreu. Mais do que nunca, estará na mão de todas elas, da vida que pôs em tudo que escreveu.”

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