Leito do rio (Antônio Müller)
Leito do rio
Antônio Müller
O meu coração não viu
A dor que dele vazou.
E encheu o leito do rio
E muito ainda sobrou.
Eram cinzas dessa dor
Consumindo os sentimentos:
Saudades folhas do amor
Amor, suspiros do vento.
O tempo que leva a dor,
Também leva o que é bom:
Juventude e amor,
Tudo passa neste chão.
O eterno e o passageiro
Se abraçam na corrente.
No horizonte alvissareiro
Deita o sol em seu poente.
Tento ver neste ocaso
Um lampejo da esperança,
Ver nos filhos novos vasos
Que à vida dão pujança.