Mãezera

Cipó-imbé: filho pródigo da mata atlântica. Dele, pessoas simples – os cipozeiros – apropriam-se, fazendo artesanato. Retiram-no da floresta: fundos de vales, encostas. Da planta mãe – a mãezera -, alojada na galhada das árvores desprendem-se raízes adventícias; sucumbentes, buscam o solo.  Depois de beneficiadas, resultam  em fibras de apreciável valor.  Manuseadas pelos artesãos geram utensílios e souvenires diversos: cestas e arranjos, adrede preparados. Garuva projeta-se como pólo produtor, e laborador de artesanato de cipó.

Em razão da legislação vigente – Lei da Mata Atlântica – a atividade de uma hora para outra, à margem, passou à clandestinidade. Centenas de famílias, que tem na atividade seu “ganha pão” sentiram-se alijadas, legadas à contravenção: “perigosos criminosos”.

Ora, esquecem-se os órgãos ambientais, os ecologistas de plantão, que todas as atividades humanas estão intimamente associadas à natureza. Do reino animal, vegetal e mineral  provém tudo o que serve ao homem e seu engenho. Se há abusos, e exageros, é outra história. Que seria de nós sem alimentos, e sem fibras?!

Felizmente, no caso do cipó-imbé, um grupo de jovens universitários: UFSC e UDESC e técnicos da Epagri, com apoio da Prefeitura de Garuva, meteram a mão na massa. Resultado: pesquisa e extensão, um trabalho integrado com os cipozeiros. Ao invés de enxotá-los, como é praxe do ambientalismo bissexto, integraram-nos, inserindo-os num projeto de valorização da cultura local. Mapeadas as áreas de produção na floresta, pesquisa-se o cultivo, a retirada sustentável; de outro lado, desenvolvem-se tecnologias visando facilitar o processamento da matéria prima: redução do uso de enxofre, por exemplo. E o design? Novas figurações à vista. E o marketing, então? É a visão da sustentabilidade.

Parabéns à nova geração de ecologistas: pragmáticos e aliados de nossa gente simples e de tempera inigualável.  Novos tempos à vista.  Mãezeras agradecem.

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