Maria de Lourdes Zimath (Marinaldo)

Texto-presente para Maria de Lourdes Zimath

Marinaldo de Silva e Silva

 

Estou ansiosa. Penso na minha trajetória enquanto me embelezo; é um dia importante! É um dia de consagração. Essa Sueli, daquele jeitinho mineiro, só ela mesmo pra me convencer a assumir um posto na Academia! E o Fiúza, que gesto mais nobre! Pois não colocou na minha cabeça que a hora é agora! De tudo que eu li, passei, lutei. Tantos códigos, incisos, artigos que tive que aprender, outros que tive que engolir. Agora aqui, na frente do espelho, corrijo o pó, ajeito o cabelo, estou me sentindo feliz, linda e feliz, e forte, num imbricamento completo entre uma mulher e uma pessoa humana.

Meu nome é Maria de Lourdes Zimath. Sou professora, advogada, ativista de certa forma. Luto pelo verdadeiro empoderamento da minha classe, da minha raça, quando retiro desse conceito não uma questão etnicista, mas uma questão de força, do que meus avós falavam sobre ter raça = fibra, e de tudo que li enquanto pessoa que não para de crescer e olhar para dentro da criança, que hoje, em meu discurso de posse, terei a honra de saudar: essa criança que todos nós já fomos.

“Sou avó da Cecília”. É meu coroamento essa menina. O coroamento de uma trajetória que começou com um universo de personagens que me construíram, que começou com a minha família, cresceu com minha primeira professora, esses estão nos alicerces. Mas daí tive que brincar de arquitetura, de decoração, de iluminação dos interiores; foi aí que vieram eles! Histórias reais captadas no Reader’s Digest, quantas vezes tive vontade de enviar um texto meu para ser publicado ali. “Acho que comecei a escrever instigada por temas que me davam enorme inquietude”. As imagens se personificavam em mim ao ler as Diversões Juvenis, as coleções de Monteiro Lobato, os Contos e Lendas dos Irmãos Grimm. Nunca me diverti e viajei tanto ao ler as Mil e Uma Noites! Sherazade se parecia comigo enquanto eu lia, e não o contrário! Aprendi sobre o universo de quem estava em evidência lendo Manchete, Fatos e Fotos, a revista O Cruzeiro. Tive a honra de conhecer a Mademoisele Beauvoir, seu marido Sartre, andar nas ruas da antiga Paris lendo Victor Hugo, passear de avião com o menino do Pequeno Príncipe, e ter tido o privilégio de ter conhecido Shakespeare, Huxley, Hemingway, Cervantes e Dostoiévski. Mas foi em Fernando Pessoa que me tornei, creio eu, mais pessoa. Acho que ao lê-lo modifiquei meu sorriso. Acho que a poesia tratou da minha alma. Acho que ela me deu calma mesmo quando eu estive nervosa… Bem, agora está pronto! Estou pronta para ir até à Rua XV de Novembro. Estou um tanto nervosa. É um momento muito simbólico se tornar imortal mesmo estando viva! De repente eu me sinto como uma Palavra, porque a palavra tem essa sobrevida, esse QUÊ de eternidade. Eu já havia preparado meu discurso mas acho que vou acrescentar esse recorte e citar Fernando Pessoa: “ A minha Pátria é a Língua Portuguesa e eu a defendo usando a mais poderosa de todas as armas: a Palavra! “ Sim, vou encerrar o meu discurso com essa frase.

…E saiu de casa. Decidida. Como quase sempre.

 

Ac. Maria de Lourdes Zimath

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