Meus oitenta anos (Milton Maciel)
MEUS OITENTA ANOS
MILTON MACIEL
(Gratidão, Casimiro de Abreu!)
.
Ah, que deleites que eu tenho
No ocaso da minha vida,
Minha velhice bem-vinda,
Que os anos só trazem mais.
Que amor, que sonhos, que flores,
Desfrutei – uma vida inteira,
Que despontou na fronteira
Dos pampas, dos Uruguais!
.
Como são ternos os dias
Do entardecer da existência!
Respira a alma a coerência
De quem soube impor-se à dor,
E ver, com olhar sereno,
No céu um guia estrelado,
No mundo, um lugar sagrado
Na vida, um hino de amor!
.
Que ocasos, que sol, que vida,
Que notas de melodia,
Que suave e doce alegria,
Quando no piano a tocar!
Sob o céu, estro de estrelas,
A terra de plantas cheia,
Por minha mão que semeia
– Dom de colher e plantar!
.
Oh! dias desta velhice!
Oh! meu céu de Nova Era!
Que intensa a vida prospera,
Criando no hoje o amanhã!
Bendita ciência de agora:
Virais tecnologias
Revolucionando os dias,
Onde cientista é o novo Imã.
.
Livre filho das coxilhas,
Sigo um viver satisfeito,
Mantendo aberto meu peito,
Minha mente – ainda mais.
Correndo pelas Europas
A criar literatura
Atrás de uma arte pura
E não de glórias sociais.
Estes são tempos ditosos:
Apesar do andar mais lento,
Segue audaz o pensamento.
E é calmo, sereno, aceitar
Meus limites naturais.
Ainda acho o céu sempre lindo,
Ainda adormeço sorrindo
E ainda desperto a cantar!
.
Ah, que deleites que eu tenho
No ocaso da minha vida,
Minha velhice bem-vinda,
Que os anos só trazem mais.
Que amor, que sonhos, que flores,
Desfrutei – uma vida inteira,
Que despontou na fronteira
Dos pampas, dos Uruguais!