Morando na praia

Recentemente realizei um sonho. Estou morando em Barra Velha. É provisório. Logo volto a residir em Joinville, mas é melhor viver no paraíso um pouquinho do que nunca ter nele estado. Levanto cedo para ver o sol nascer enquanto caminho no calçadão. No final da tarde aproveito o horário de verão para brincar com o meu filho na beira do mar, ou andar de bicicleta.

É a vida que pedi a Deus. Sempre tive uma íntima relação com a natureza, e a vida na praia me possibilita esse contato. Pisar na areia, molhar os pés na água, sentir a brisa e ver o reflexo da lua no mar, com o molhe de pedra natural existente ao fundo, traz lembranças dos diversos verões que passei aqui.

Era uma época diferente. Não tinha as obrigações de um adulto. Praticamente três meses de férias. A família vinha para Barra Velha em dezembro e somente voltava em fevereiro. Todos vinham: avôs, avós, tios, tias, primos, cachorro e até papagaio. Os homens trabalhavam em Joinville e voltavam todas as noites. As mulheres ficavam por aqui cuidando das crianças.

A vida era mais simples. A televisão era horrível. Mal dava para ver a imagem. Colocava-se um Bombril na antena para melhorar o sinal. De noite o programa era conversar, tocar violão e cantar. A música era capitaneada pelos tios Paulo e Neco, que puxavam músicas no violão que até hoje sei de cor. Eu, sobrinho pequeno, olhava aquilo embasbacado, e ao chegar na adolescência acabei também me tornando um “violeiro”.

Muitos foram os “sons tirados” olhando para o mar com as “pedras de barra velha” ao fundo. Diversos foram os luaus na beira da praia, e as bagunças com os amigos de verão. Alguns deles, como o Carlinhos, o Júnior, o Dranka e o Edson, nem mesmo sei por onde andam. Faz tempo que perdi o contato. Outros se tornaram apenas amigos de Facebook.

Guardo com carinho a lembrança de todos aqueles momentos, e viver aqui por uns tempos abastece o meu coração com a energia de um tempo onde as preocupações eram menores. Volto todos os dias para trabalhar em Joinville renovado. Sei que não será para sempre, mas não tem importância, pois sonho não foi feito para durar, e Joinville, afinal de contas, é a cidade que chamo de lar.

COMPARTILHE: