Nada a fazer (Jura)
NADA PARA FAZER
Jura Arruda
“Nessa cidade não tem nada para fazer”.
“Em Joinville, só chove”.
“No verão não fica ninguém aqui. Vai todo mundo para a praia”.
Não para por aí a quantidade de mitos sobre essa cidade ao norte de Santa Catarina, que tem tanta peculiaridade, quanto problemas, e tanto motivo para ser casa de aventureiros vindos de todas as regiões do país, e de fora dele. Vamos colocar em xeque algumas das certezas acima:
Nas últimas duas semanas, assisti a seis peças de teatro, dois shows musicais, fui ao cinema, fui ao estádio assistir futebol e a um encontro literário. Sete dos eventos citados acima, gratuitos. Deixei de ir a pelo menos outros sete por falta de tempo ou cansaço. Joinville tem muito o que fazer, talvez a informação sobre os eventos não chegue à sua bolha.
Não, Joinville não é um penico, ainda que, estando entre o mar e a serra, as nuvens se acumulem e tenhamos menos dias de sol do que a maioria das cidades do país. A imagem de ciclistas com guarda-chuvas ajuda a alimentar o imaginário popular. Soube esses dias que um dos primeiros quadros de Juarez Machado: ciclistas segurando guarda-chuvas sobre suas cabeças fora considerado pintura surrealista, porque, à época, não achavam possível pedalar sem as duas mãos no guidão.
Joinville está muito próxima do litoral. Barra Velha, Enseada ficam a menos de 40 minutos, sem falarmos na praia da Vigorelli, que ondula suas águas na própria cidade. É claro que um dos passeios preferidos do joinvilense típico é ir à praia, contudo, se 300 mil moradores deixam a cidade para banhar-se nos mares próximos, restarão por aqui o mesmo tanto de pessoas. Ou seja: não, Joinville não é uma cidade fantasma em janeiro.
Por fim, meu caro joinvilense, nativo ou forasteiro, urge repensarmos alguns conceitos. Joinville não é mais uma província colonizada por europeus nórdicos, estamos em uma cidade cosmopolita, em que a convergência de cultura a torna rica e diversa. Tem tudo para se tornar um grande centro cultural, por sua beleza natural, por sua arte, por sua história. Para isso, é preciso quebrar alguns paradigmas e sair de casa, aventurar-se pelos espaços da cidade e repensar conceitos arcaicos, senão, queridos, caixão pro Billy!
(Crônica publicada no jornal A Notícia, em 27/9/19)