O chapéu mágico

Na fazenda do coronel Felisberto tinha, além de seus cinco filhos, uma porção de outras crianças, filhas dos empregados que moravam ao redor. Durante o dia, depois das aulas na escola que ficava na própria fazenda, a criançada se reunia para as mais diversas brincadeiras. Dava gosto ver aquela turma animada pulando, correndo, jogando e cantando.

Uma das brincadeiras de roda de que as crianças mais gostavam era: “Seu rato está em casa?” Agora, o que as deixava quietas e atentas eram as histórias contadas pelo Tio Felício, um antigo empregado da fazenda, já bem velho e que todas as noites vinha contar uma história.

Certa noite ele demorou um pouco a chegar por causa da chuva que caía e do forte vento. As crianças que esperavam quietas começaram a notar o barulho que o vento fazia: fu-u, fu-u! Ouviam também o plic-ploc da chuva, o pio da coruja, o coaxar dos sapos, o cri-cri dos grilos, até que escutaram com alegria o plac-plac dos tamancos do Tio Felício e o toc-toc da batida na porta.

Tio Felício começava dizendo: – Aprontem os ouvidos! E lá vinha a história!

Era uma vez um homem que tinha um chapéu mágico. Este chapéu, diferente dos outros, tinha três pontas e, aonde o homem quisesse ir o chapéu levava, o que o homem quisesse saber o chapéu informava.

Em uma linda tarde de sol, ele estava caminhando com seu chapéu quando um forte vento arrancou o chapéu de sua cabeça. Ele ficou desesperado, mas por mais que chamasse e gritasse, o chapéu não voltou. Desanimado, sentou-se na beira da estrada. Não demorou muito e um moço vinha passando. Ele perguntou:

– Moço, você viu o meu chapéu?

O moço respondeu: Como é o seu chapéu?

– Ah! O meu chapéu é mágico e tem três pontas.

– Não, eu não vi o seu chapéu.

O homem não desistiu e pensou: Há de passar alguém aqui que viu o meu chapéu!

Não demorou muito, aproximou-se uma velhinha e ele, cheio de esperança perguntou:

– A senhora viu o meu chapéu?

– Como é o seu chapéu?

– Ah!  O meu chapéu é mágico e tem três pontas!

– Não, meu senhor, eu não vi, mas sou amiga da fada Busca-Busca que pode lhe ajudar.

Tirando um apito do bolso, soprou suavemente e para espanto do homem o som do apito era: dim-dim-dom! Imediatamente apareceu uma linda moça a quem eles contaram o desaparecimento do chapéu.

– O seu chapéu, disse a fada Busca-Busca, está longe daqui, na gruta do bruxo Rupião. Eu vou buscá-lo, mas o senhor terá que imitar a voz de um passarinho.

O homem bem depressa cantou: – Bem-te-vi! Bem-te-vi!

Como num relâmpago, a fada desapareceu e logo a seguir apareceu mais linda ainda, com o chapéu de três pontas na cabeça e graciosamente o colocou na cabeça do seu dono.

O homem agradeceu e voltou para casa feliz da vida!

Tio Felício arrematou: – Esta história que contei, eu mesmo inventei.

As crianças bateram palmas de alegria e uma delas disse: Eu sei uma música que fala num chapéu de três pontas e vou ensinar para vocês:

O meu chapéu tem três pontas

            Tem três pontas o meu chapéu.

            Se não tivesse três pontas

            Não seria o meu chapéu!”

Todos cantaram e os olhinhos brilharam de satisfação quando vovó Ledinha chegou com uma peneira de pipoca. Então, o único som que se ouvia era: trec…trec…

 

 

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