O fio vermelho que nos une (Cristina)

O fio vermelho que nos liga

            “Um fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se…

Independentemente do tempo, lugar ou circunstância…

O fio pode esticar ou emaranhar-se,

mas nunca irá partir.”

 

Maria Cristina Dias

Os japoneses têm uma lenda que fala do “Akai Ito”, o fio vermelho do destino, a linha invisível e inexorável que une as pessoas predestinadas a se encontrar nessa vidinha louca, rápida e carente de explicações que temos. Segundo o meu especialista particular para assuntos aleatórios (o filho), que é interessado pela cultura nipônica e não se nega a uma pesquisa sobre o tema, a expressão vem de Aka=vermelho + Ito=fio e a lenda teria, na verdade, origem na China.

Lendas são passadas de um para o outro, oralmente, através dos tempos, e nós bem sabemos o que acontece quando contamos um conto: aumentamos umas partes, reduzimos outras, o  modificamos de acordo com a nossa memória seletiva ou com as nossas intenções. As versões se multiplicam e, no fim, ninguém sabe exatamente qual é a correta, o que realmente foi dito. Então há quem atribua a esta lenda um caráter romântico, de amor eterno, de “almas gêmeas”.

Eu, com um ceticismo às vezes exacerbado, prefiro acreditar (hein??) que esse fio simplesmente une pessoas – não me pergunte para quê. Isso elas que descubram no meio do caminho, de preferência quando se encontrarem, pois é muito triste quando só entendemos o porquê daquela pessoa em nossa vida depois que ela já não está mais presente.

Há versões que dizem que quanto mais longa for essa linha, mais longe estão aqueles a quem estamos ligados, mais tempo para encontrá-los. E quanto mais curto o fio, mais próximos, ou seja, são maiores as chances de nos encontrarmos, nos identificarmos.

Sempre penso no “Akai Ito” quando me vejo diante das pessoas que surgem na minha vida – e são tantas, tão diferentes, em situações tão inusitadas que acho que tenho um novelo inteiro de relações que vão e vem. Fico imaginando que fio que nos liga, que laço que esta linha forma e quais os nós que podem interromper a fluidez. Procuro olhar o que elas deixam de bom e acreditar que levem algo assim também. Como diria a minha querida dona Jutta, um fio vermelho que já não está entre nós e que me faz muita falta, de toda situação, sempre tem algo que podemos tirar de bom.

Fico pensando nos encontros breves, nas pessoas que eu nunca mais vou ver. Em quem eu sou grata por algum motivo. Há anjos na nossa vida que aparecem do nada, marcam sua presença e somem com a mesma rapidez.

Uma vez, há muito, muito tempo, estava caminhando tarde da noite, na praia de Icaraí, em Niterói, sozinha, imersa em meus pensamentos. Tudo deserto, o mar de um lado, a rua de outro, e eu  ali, com aquela confiança de que nada de mal podia me acontecer. De repente fui interpelada por um garoto, adolescente, com certeza. Queria a minha mochila, vejam só. Olhei para ele e vi de relance um bando  de garotos se aproximando. Nem tive tempo de pensar muito. Quando me dei conta do que estava acontecendo, um rapaz veio correndo na minha direção, gritando e os moleques saíram correndo sem ter tempo de levar nada. Eu não sabia, não tinha visto, mas ele passou de carro e observou a cena. Me viu andando sozinha, distraída, e os meninos se aproximando. Viu que eu ia ser abordada, parou o carro mais adiante e ficou esperando, zelando por um estranho. Por quê? Para quê? Nunca vou saber. Me deu carona até em casa e eu nunca mais o vi. Não sei o nome, não lembro o rosto – só sei que estava ali, naquele momento, talvez ligado por uma invisível linha vermelha.

Histórias como essa, de encontros e desencontros, por um motivo ou por outro, se repetiram ao longo da minha vida. Acho que na vida de todo mundo. Mas elas sempre me fazem pensar que nada ocorre por acaso e que estar aberto ao outro pode ser o caminho para encontrar os nossos fios da meada.

 

 

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