O palácio que a música resgatou
Quando eu era criança ouvia com muita atenção as histórias que meu pai contava. Esta que vou recontar sempre achei muito interessante:
“Há muitos, muitos anos, existiu numa terra distante um rei rico e poderoso. Uma coisa porém chamava a atenção. Ele não possuía um palácio. Vivia numa casa simples, menor que a dos príncipes e nobres que ali moravam. O pai desse rei, no entanto, havia morado num riquíssimo e grande palácio, tão belo que pessoas vinham de longe para admirá-lo.
Certo dia, na infância do rei atual o palácio foi engolido por um terremoto, quando a família real estava fora da cidade.
O rei, entristecido, durou poucos anos e o jovem príncipe não quis construir outro palácio, pois conforme uma lenda registrada nos mais velhos livros do reino o belo palácio havia surgido da terra no espaço de um só dia, ao som de uma música extraordinariamente bela.
Assim, o povo daquele reino esperava que algum dia a história se repetisse e dizia que aquilo que já foi feito uma vez, pode ser feito novamente. Todos esperavam que algum músico compusesse uma melodia capaz de fazer surgir um novo palácio no lugar do antigo.
Naquele tempo não havia orquestras. Os músicos tocavam sozinhos e cada um tentava criar a melodia que o levasse à glória de ver surgir o palácio. Tocavam liras, flautas e harpas. Não havia outros instrumentos.
Naquela época, vivia na cidade um moço de nome Abner, músico desde menino que tocava lira e compunha lindas melodias. Um dia teve a ideia de convidar seu amigo Gerson para tocar com ele nas ruínas do palácio. Lá, Abner começou a tocar uma música que compusera e Gerson disse: “Deixe-me ver se também consigo tocá-la” e – coisa curiosa! – Gerson não tocava as mesmas notas que Abner mas sim, outras mais graves na escala e em lugar de produzir sons discordantes soavam com tamanha doçura que ambos se surpreenderam.
Pensaram que, se mais músicos tocassem juntos, o efeito seria melhor e quem sabe realizariam o milagre!
Foram falar com o músico maior do reino, mas ele disse: “Não! Eu quero sozinho encontrar uma música para erguer o palácio. Quero a glória só para mim”. Outros músicos convidados responderam a mesma coisa.
Os dois não desistiram e foram tocar novamente no lugar onde existira o palácio. Lá chegando encontraram um estrangeiro que estava triste, pois tinha vindo de muito longe e tendo tocado uma linda melodia, nada conseguira.
“Junte-se a nós”, disseram Abner e Gerson. Sua lira é maior, deve ter som mais potente.
Ele aceitou e quando iam começar a tocar viram chegar todos os músicos do reino com suas harpas, flautas e liras. A um convite de Abner, todos os músicos se uniram e começaram a tocar, enchendo o ar com o som de uma música belíssima que ecoou por todo o reino.
O povo que acorrera para ouvir começou a gritar: “O Palácio! O Palácio!”
Todos admiraram com imensa alegria, o majestoso palácio que se elevava da terra, alto, cada vez mais alto, até que se ergueu de todo ao sol radiante da manhã.
O rei emocionado disse com gratidão: ”Este palácio foi a música que resgatou!”