O que é a Academia? (Hilton)

O QUE É A ACADEMIA?
Hilton Görresen
Alguém já disse que uma academia de letras é só uma associação metida a besta. Não no sentido tirirical de bestagem, mas pelo costume (eu diria obrigação) de manter rituais e tradições. Segue nisso o modelo criado pela academia francesa. Seus membros são 40 e somente há rodízio de membros quando um deles se torna uma vaga. Não se pode pedir a conta, tirar o boné do cabide, pois como pode um imortal se desimortalizar? Há cerimônias e cerimoniais: escrutínio para escolher novos membros, cerimônias de posse com fardão e colar, cafés acadêmicos com prosaicos salgadinhos.
Muitas vezes são os rituais que mantêm as instituições de pé. Pense nas celebrações que ajudam a igreja católica a disputar fiéis com as outras religiões. Não me esqueço das missas solenes de minha infância, o cheiro do sagrado circulando no ambiente.
É uma associação, mas com um pouco mais de peso, nem que seja o peso das enxúndias acumuladas pelos seus membros junto com a experiência literária. Um acadêmico já disse: não me sinto importante, mas os leitores e amigos têm um respeito…
Os membros de uma academia são chamados de imortais talvez pelo valor de suas obras. Autores como Machado de Assis, primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, tem obra que adquiriu status de imortalidade. Nem todos são Machados, óbvio, mas o que fazer? Reúnem-se, nesse reduto, autores experientes, que há muito perderam a virgindade das primeiras publicações. Que já se livraram da vaidade e escrevem pela necessidade de escrever. Terá que haver uma convivência amigável, prazerosa, democrática.
A Academia Joinvilense de Letras foi criada em 1969. Naquele longínquo ano era difícil encontrar autores com obras publicadas nas pequenas e médias cidades, como era o caso de Joinville. Muitos foram selecionados pelo vasto saber. E a academia foi instalada com as benções da “matriz”, a ABL, que liberou a presença do mestre Aurélio Buarque de Holanda e de Dinah Silveira de Queirós, entre outros.
Funcionou por algum tempo, depois quedou-se adormecida por vários anos, principalmente após a morte do presidente, Adolfo Bernardo Schneider. Nesse tempo, infelizmente, a maioria dos imortais transformou-se em vaga.
Somente em 2013 foi tirada do armário. Um advogado e estudioso de História, Paulo Roberto da Silva, recolheu as informações disponíveis sobre a instituição e resolveu consultar os integrantes ainda vivos e ativos intelectualmente sobre sua reativação. Foi assim que se renovou a academia, admitindo novos integrantes.
CRÔNICA PUBLICADA NO JORNAL A GAZETA DE SBS
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