O Realejo (Carlos Adauto Vieira)

 

O REALEJO

Carlos Adauto Vieira

 

Ainda ouço as músicas tocadas pelos seus pinos de aço, à medida que girava…

Nosso avô, Victor Olinger, após casamento com nossa vó italiana, Catherine Tadei, passou  a ser conhecido como o Sr. Vitório, grande negociante de gado e abastado estancieiro em Brusque, Itajaí, Lages, sede de Camboriu, Forquilhas, São José  e Florianópolis.

Sua maior riqueza, a que mais estimava,  porém, só era exibida no Natal, o realejo, que tocava inúmeras eternas músicas natalinas, fazendo girar o pinheirinho, espetado em um suporte de aço. Era um mecanismo de aço parafusado em uma tábua de pinho-de-riga e coberto por uma tampa de metal semelhante à forma para bolo da vovó, feita pela Solingen na Alemanha.

Vieram ambos de Luxemburgo. E durante anos, ao que me lembro, era o que mais nos causava admiração: aquele cilindro cheio de pontinhas de aço girando e produzindo músicas ao encontrar-se com folhinhas de metal  fixas.

Como podia?

No ano em que nos mudamos da Rua Victor Meirelles para a Conselheiro Mafra, ambas no centro  de Florianópolis, onde cresci, o Natal não teve o giro do pinheirinho espetado no realejo do  avô, que já falecera.

Nunca mais  o Natal foi o mesmo, ainda que com todos os enfeites, luzes e a música da tecnologia moderna, especialmente vindas  da China e adquiridas na Casa China. Cheguei a ouvir algumas daquelas músicas antigas natalinas (Still war die Nacht; Leise rieseit der Schnee; Der erst schnee; O Tannenbaum”) no apartamento da vó (Dra. Schulz) do meu neto alemão Philipp Alexander, em Frechen, uma pitoresca,  elegante, charmosa  e tranquila cidade da Alemanha, localizada perto de Colônia, no distrito de Rhein-Erft-KreisRenânia da Norte-Vestfália, a que – rapidamente – se ia de metrô. Gravadas em longplays de metal próprios para gramofone, cujo giro soltava as melodias. Daqueles que a Kolbach fabricava em Joinville lá por 1914 e de que alguns exemplares, ainda, decoram o Hotel Porto de Paz em Itaguaçu, São Francisco do Sul. Conto isto para meus filhos e meus netos, que não gozaram desta ventura, e meus olhos se marejam de lágrimas saudosas.

Feliz Natal e Próspero Ano Novo 2022!

Stelinha ( in memórian)

Marcia e Adauto

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