O significado de Babitonga (Vieira)
O Significado de Babitonga
Eu era garoto, quando ouvi, pela primeira vez, a dramática história de Don Alvar Nuñes Cabeza de Vaca.
Em clima de aventura e mistério, meu amigo Homero Gastaldi Buzzi contou-me a fantástica viagem transcontinental dos primeiros brancos que, juntando-se aos índios e por seu intermédio, buscaram alcançar o reino dos Incas, no Peru, partindo de Santa Catarina.
Em 1541, teriam adentrado mais precisamente pela foz do Rio Itapocú e acompanhando seu curso, venceram a muralha da serra do mar, alcançando já do outro lado as nascentes do rio Iguaçu.
Dali, através de um caminho milenar, o Peabiru, construído pelos índios e pelos incas, explorando rios e florestas, seriam os a primeiros brancos a descreverem as cataratas do Iguaçu na seu trajeto por terra para o Peru antigo.
Homero dizia-me que os nomes Itapocú e Itaperiú (do município São João do Itaperiú) seriam corruptelas do nome-frase “itapé- aha-biru ”, que significaria “caminho feliz para o Peru”, em tupi- guarani.
Na biblioteca do Congresso Nacional tive contato com a cópia do relatório da viagem, em espanhol antigo, manuscrito por Pero Hernandez, o escrivão de Cabeza de Vaca, cujo original encontra-se guardado no Arquivo das Índias, em Sevilha, na Espanha.
Foi em uma cópia de um de seus mapas, de um cartógrafo francês, que descobri o significado do nome de nossa baía, Babitonga, não encontrado nos dicionários de línguas indígenas do Brasil. Sempre atento a esses topônimos, não tinha encontrado ainda significado aceitável para este, pois mesmo o estudo feito na nossa UNIVILLE, que apontava para a tradução “asas de morcego”, não me convencera. No mapa usado por Cabeza de Vaca lá estava a Lagoa de Saguaçu (grande macaco), e Bahia de Mbe Pitanga!
Sim, agora tinha sentido o nome Babitonga, pois não só temos muitas pitangueiras (e pouco s morcegos), como as águas calmas da baia sugerem o nome Mbe Pitanga (lugar das pitangas ou crianças) tendo em vista que a palavra pitanga também significa criança em tupi-guarani.
Mesmo que se argumente que o formato da Babitonga se assemelha a asa de morcego, me parece que sem as imagens de satélite que hoje temos, seria muita imaginação atribuir-lhe esta forma naqueles tempos.
Mais recentemente obtive pela internet o mapa do ano 1748 “Amérique Meridionale”, de J.B. D’Anville, publicado em Paris pelo Duque de Orleans, onde se lê “Bepitanga”, na foz do Rio de São Francisco, em Santa Catarina.
Fiquei imaginando os meninos índios, os curumins, nas canoas se divertindo nas águas calmas da nossa Babitonga, como nós o fazemos até hoje e que lhe rendeu este feliz nome “Baía das Crianças”.
Viva a Bepitanga!
José Carlos Vieira