O sonho de um velho peixe (Else)

O SONHO DE UM VELHO PEIXE

                                                                   

No sítio do tio Jeremias tem uma grande lagoa que é ponto de encontro de vários animais. Ali mora um velho peixe que aprendeu a respirar fora d’água e passa o tempo conversando com os bichos que vem tomar água, banhar-se ou simplesmente bater papo.

O velho peixe costuma chamar cada bicho de “amigo” e justifica dizendo que “para amigo a gente abre o coração contando segredos e sonhos”.

– Será que o velho peixe tem algum segredo ou algum sonho? Quis saber uma garça branca que era novata na redondeza.

– Tem sim, respondeu um sapo morador antigo da lagoa. Segredo eu não sei se ele tem mas sonho é de certeza, pois ele já nos contou várias vezes. É só chegar freqüentador novo e o sonho é revelado.

– Conte-me, pediu a garça gentilmente.

– Não, não, disse o sapo. Não me compete. Pergunte a ele. Garanto-lhe que vai ficar feliz em revelar.

E assim, a pedido da linda garcinha, mais uma vez o velho peixe abriu seu coração para uma platéia de “amigos. A jovem garça escutava atentamente.

– Nasci nesta lagoa, começou o sonhador. Tive uma infância feliz ao lado dos meus irmãos e dos bichinhos que povoam esta lagoa, até o dia em que um casal de garças pousou aqui na lagoa e me falou sobre rios e mares. Fiquei encantado. Imagine nadar e deixar-se levar pela correnteza de um rio até chegar ao mar! Eles também contaram sobre as grandes baleias e sobre as muitas espécies de peixes que vivem nos rios e nos mares. Desde aquele dia meu pensamento voa querendo captar imagens de coisas que desconheço. Eu sempre achei que o mundo era só esta nossa lagoa.

A pequena garça ficou tão sensibilizada com o desejo do velho peixe que resolveu ajudá-lo. Depois de se despedir do agora “amigo”, voou até o rio onde morava com sua família e contou o que tinha ouvido. Seus pais lembraram que foram eles que estiveram lá na lagoa conversando com o velho peixe.

Decidiram, então, voltar lá e convidar o velho peixe para deixar-se levar até o rio onde moravam porque uma vez lá, a chegada ao mar seria natural.

– Como irei? Perguntou o velho peixe ao receber tão inesperado convite.

-Não se preocupe. Vou convocar minha família e resolveremos a situação, falou o pai da pequena garça que em sua mente já havia arquitetado um plano.

Dias depois, numa ensolarada manhã, após comovente despedida dos amigos da lagoa, viu-se uma cena realmente impressionante: um bando de garças levando nos bicos uma rede com o velho peixe, cujo coração batia forte pela emoção de ver seu sonho realizado!

 

 

* Else Sant’Anna Brum, escritora e educadora

   elsebrum@gmail.com

 

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