O trem de Jandaia faz parada em Quadrínculo (David Gonçalves)

 

O TREM DE JANDAIA FAZ PARADA EM QUADRÍNCULO

conto poema

David Gonçalves

 

Ah, mana Chica, o trem de Jandaia está passando e quero levar você na estação de Quadrínculo. Lá sou David, o rei do nada.

Lá te amarei eternamente e todos os dias iremos ver a ciranda do Sol nascer, com a revoada dos pássaros cantando nosso amor.

Ah mana Chica! Quase nada tenho, mas o que tenho é tão solido como aroeira.

O rei do nada não pode dar muitas coisas, senão as maravilhas da natureza, e isto, eu sei, não enche barriga, não compra colares de pérola, mas enriquece a alma, e isto vale mais do que as riquezas dos Reis.

Por você abandono o concreto desta Curitiba maldita, dos luxos e da vida sufocada das metrópoles.

Lá o simples sobrepõe ao complexo; o barro vermelho ao cinza do asfalto e dos edifícios.

Tem rocinha de milho, pomar com mimosas cheirosas, que perdem pro seu corpo, tem um pé de jasmim, que perfuma a casa toda.

Lá não tem os mares verdes do Caribe, nem do Nordeste, nem as belezas de Santa Catarina, nem o verde dos pampas, nem os véus de noiva das Cataratas do Iguaçu.

O que ofereço é muito pouco, mas este pouco enche a vida de prazeres.

Ah, mana Chica, todas as tardes vamos sentar na varanda da casa à beira do riacho, e namorar, e espiar a lua curiosa se desgrudando do chapadão, e a gente de mãos dadas como adolescentes, divagando com a brisa farfalhando as roseiras…

Ah, mana Chica, lá sou o rei do nada, e só posso ofertar meu coração!

Pra quem tem coração amoroso, e pra quem não tem nada, poeira é roupa, e pode ser rei em qualquer pôr de sol esbraseado.

Ah, mana Chica… O trem de Jandaia está passando e faz parada na estação de Quadrínculo.

 

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