Palavra que me habita (Elizabeth)
PALAVRA QUE ME HABITA
Elizabeth Fontes
Quando nasci, aquela palavra veio junto comigo.
Chegou quente, embrulhada num presente que ficava ao lado do berço.
Todos os dias a palavra vinha visitar-me e enchia-me mimos, carinhos doces, cuidados e beijos.
Cresci.
Do berço, a palavra foi brincar com os brinquedos. Aprendi a rir com ela, a correr, a buscar flores e bichinhos, a compor com pedras e punhados de areia.
Passou o tempo e a palavra foi comigo, vestidinho xadrez e caixas de lápis de cor para os bancos da escola. A palavra saiu comigo a aprender letras, rimas e canções. A plantar amigos e colher livros, a visitar estrelas e noites.
A palavra seguiu crescendo a meu lado e rapidamente, de menina virou moça, virou palavra mulher, palavra que virou mãe.
A palavra brotou, então, em muitos outros sentimentos. Deu perfumes e suspiros, dores e filhos.
A palavra envelheceu comigo por uma vida inteira. Costurou todas as coisas e bordou-me delicadamente em todos os tempos.
Palavra que fez em mim morada desde o umbigo e que ainda hoje, nutre.
Porque criou raiz.
E ainda floresce.
Palavra que é
AMOR.
(in Letras Associadas, vol 1. Ano 2015)