Peru de Natal (Adauto)

PERU DE NATAL

O saudoso Quinote, Aulo Abrahão Francisco, criava gigantescos perus, não para saboreá-los, mas presentear amigos, à época natalina. Vários os ganhei, todos, rigorosamente saboreados com a Maestria do Chef Abelardo Ganancinha, meu Fiel Escudeiro por trinta e seis anos, que os preparava, recheava e assava em sua casa, utilizando o prático forno à lenha. Num dos natais, o peru passou do peso. Veio com 16 quilos e não coube no forno do Ganancinha. Procuramos solução e a encontramos no Club Joinville, graças à gentileza e disposição do casal Schulz, então, seu ecônomo. Aceitaram a tarefa, desde que viesse já limpo e recheado, pronto à assadura, para ser entregue, no máximo, dia 23 de dezembro. Exato! Dia 23 eu já deveria estar em Florianópolis com a minha Família. Viria buscá-lo no dia 22, à noitinha.
Dia seguinte, levaria à Capital. Meu pai ficou felicíssimo. Era uma tarefa a menos na sua correria de Natal e Ano Novo.
Devidamente preparado, dia 21, pelo Ganancinha, foi entregue ao casal Schulz a enorme ave.
– Amanhã à noitinha, doutor! – Foi a advertência da Frau Schulz.
-Sem falta! – confirmei.
E cumprimos o trato. Fui buscar, levei presentes ao Casal e lhe quis pagar o trabalho, sem resultado. Nada aceitaram! Aliás, a Frau Schulz nem estava para me receber e me responder à curiosidade sobre a excelência da ave.
Àquela hora sempre havia uma turma de amigos, reunidos no Club, fazendo Happy Hour. Não declinarei nomes. Muitos, hoje, já falecidos. Outros que preferem o anonimato até agora.
Um eles, disse que iriam, naquela noite, fazer um jantar natalino e que gostariam da minha presença. Expliquei que só viera até ali para apanhar o peru, pois viajaria no dia seguinte. Lastimou. Ofereceu-me um uísque, no qual dei um gole e desejando feliz jantar e feliz natal a todos, me despedi, carregando a pesada caixa de papelão, onde se encontraria a nossa ceia familiar.
Ao chegar a Florianópolis, meu pai veio curioso ver a magnífica encomenda, tão elogiada por mim. Coloquei a caixa sobre a mesa de refeições, saquei o canivete suíço, cortei as fitas Durex, de segurança e descobrimos os 6 tijolos, que substituíram o nosso prato chefe, pelo prato chefe do jantar natalino, no Club, cujo convite recusei.

Carlos Adauto Vieira

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