Raquel S. Thiago (Nelci)
RAQUEL S. THIAGO
Quem foi Raquel S. Thiago. Como a conhecíamos? Professora de História e Ciências Econômicas na Univille, historiadora e escritora. Seu foco profissional sempre foram as letras. E imortal, da Academia Joinvilense de Letras, fez parte do segundo grupo de acadêmicos fundadores, ocupando a cadeira de nro 5.
E ela tinha por merecer, pelos livros que escreveu, abordando temas de grande interesse histórico para Joinville e para os joinvilenses. Além das pesquisas históricas, os livros de Raquel são enfatizados com sua opinião, às vezes por muitos leitores tidos como polêmicos. Como o último que lançou, “Opiniões, Memórias, Reflexões”, um apanhado geral dos inúmeros artigos publicados em jornais, desde 1980, sempre expondo seu pensamento sobre os mais variados assuntos. Com destaque para educação, política, economia, crônicas, ensaios e também sobre as funções públicas que exerceu em diferentes momentos de sua trajetória profissional. E quem já leu algum, ou todos os livros de Raquel sabe que não tem essa de elogios para agradar alguém. As possibilidades e a verdade sempre prevalecem.
Raquel gostava de falar sobre a Academia, do seu início, dos confrades acadêmicos, dos patronos e acadêmicos honorários, em especial do Adolfo Bernardo Schneider, escritor e primeiro presidente, a quem admirava e por quem mantinha grande carinho. Em relação a Schneider, um dos desejos de Raquel não foi cumprido em tempo. Denominar o Arquivo Histórico Municipal com o nome de “Adolfo Bernardo Schneider” era seu sonho. Por ele ter lutado muito, para que essa obra fosse concretizada, no governo do Prefeito Sr. Wittich Freitag.
A pedido dela, quando já estava às voltas com problemas de locomoção, falei com algumas pessoas influentes a esse respeito. Mas a receptividade não foi muito grande e me disseram que já havia uma sala no Arquivo com o nome de Adolfo Schneider. Para Raquel, a AJL seria a entidade ideal para conseguir essa nomeação ao Arquivo Histórico, “antes que seja batizado com o nome de algum político, que pouco ou nada fizera em favor”, ela comentava.
Conheci Raquel há muitos anos, e aos poucos nos tornamos amigas mais próximas. Quando já aposentada da Univille, nos encontrávamos seguidamente. E quando a filha Cláudia viajava, me pedia para dormir em sua casa e fazer-lhe companhia. Nessas oportunidades ficávamos conversando até altas horas, sobre nossos familiares, nossos erros e acertos na vida e sobre os projetos que ainda nos propúnhamos a realizar. Assistíamos documentários inteligentes, sobre os quais trocávamos pontos de vista. Ela gostava muito de assistir vídeos com falas de Olavo de Carvalho. Dizia que ele era um visionário.
Essa amizade continuou quando ela se mudou para Barra Velha. Caminhar pela calçada a beira mar, reunir amigos na praia eram momentos muito agradáveis. Voltar às 3 horas e almoçar as 4 fazia parte.
Mas foram se intensificando os problemas de saúde. E aí já não tinha condições de participar muito das reuniões da Academia. Porém, queria estar sempre a par das ações e contribuir com algumas sugestões.
Aprendi muito com Raquel. Os primeiros passos para criar e escrever um livro devo a ela. “São Francisco do Sul 500 Anos Construções Históricas” foi o primeiro. Edição totalmente esgotada, hoje uma raridade. Depois vieram vários outros e ela continuou sendo minha orientadora e revisora.
Raquel foi uma amiga de extrema lealdade, apesar das suas limitações. Sofria de depressão. Muitas vezes ao ligar para ela, chorava. E no fim da conversa, ria. Aí ela dizia: “Nelci me liga sempre, você consegue me fazer rir”. Tentei cumprir sempre que possível. Última vez que liguei para ela foi duas semanas antes de ela ir. E foi a primeira vez que não consegui fazê-la rir. Fiquei preocupada com um sentimento de que poderia estar chegando o fim…
No Natal trocávamos presentes. Várias lembranças em minha casa me fazem lembrá-la. Quando ela ainda morava em Joinville havia um quadro na parede da sala dela. É lindo e emocionante. Em cada visita eu dizia: “Que lindo esse quadro”. Um menino, com os trajes demonstrando pobreza, as mãos entrelaçadas sobre um grande livro velho, esfarrapado nas beiradas. E os olhos! Aqueles olhos bem abertos, como quem diz: “consegui o maior bem do mundo”! Ela também gostava muito desse quadro. Mas no Natal seguinte ela me deu o quadro de presente, está na minha sala…, o que sempre me faz lembrar dessa pessoa culta, de personalidade forte e amiga do coração! Que esteja em paz, querida Raquel!
Nelci Seibel – 15.02.2023