Relevância da Sucam (Zabot)

RELEVÂNCIA DA SUCAM

Tempos de pandemia – refletir sobre a evolução dos estudos sobre microbiologia -, certamente, contribui para nos posicionarmos quanto aos desafios do setor.

Incrível, mas Louis Pasteur, sanitarista francês, mudou a história do mundo. Impulsiona a revolução pasteuriana. Ao lado de Ferdinand Cohn e Robert Koch, protagonistas da microbiologia.  Doenças propagam-se por contágio, segundo Girolano Frascatoro, médico italiano.

Neste momento, antes de tudo, vem à tona Oswaldo Cruz, notável médico sanitarista brasileiro que empresta, reconhecidamente, nome à FIOCRUZ, respeitável instituição.

Senão vejamos:

– “Diretor-geral da Saúde Pública (1903), nomeado por José Joaquim Seabra, Ministro da Justiça, e pelo Presidente Rodrigues Alves, coordenou as campanhas de erradicação da febre amarela e da varíola, no Rio de Janeiro. A nomeação foi uma surpresa geral. Organizou os batalhões de “mata-mosquitos”, encarregados de eliminar os focos dos insetos transmissores. Convenceu Rodrigues Alves a decretar a vacinação obrigatória, o que provocou a rebelião de populares e da Escola Militar (1904) contra o que consideram uma invasão de suas casas e uma vacinação forçada, o que ficou conhecido como Revolta da Vacina. A cidade era uma das mais sujas do mundo, pois dos boletins sanitários da época se lê que a Saúde Pública em um mês vistoriou 14.772 prédios, extinguiu 2.328 focos de larvas, limpou 2.091 calhas e telhados, 17.744 ralos e 28.200 tinas. Lavou 11.550 caixas automáticas e registos, 3.370 caixas d´água, 173 sarjetas, retirando 6.559 baldes de lixo e dos quintais de casas e terrenos 36 carroças de lixo, gastando 1.901 litros de petróleo (são dados do livro indicado abaixo, de Sales Guerra). Houve um momento em que foi apontado como inimigo do povo, nos jornais, nos discursos da Câmara e do Senado, nas caricaturas e nas modinhas de Carnaval. Houve uma revolta, tristemente célebre como a revolta do quebra-lampeão, em que todos foram quebrados pela fúria popular, alimentada criminosamente durante meses pela demagogia de fanáticos e ignorantes” (Wikipédia).

Antes da campanha, a cidade do Rio de Janeiro chegou a ser conhecida como “túmulo dos estrangeiros”. Malária e febre campeavam à solta. Michel Derrion, protagonistas do falanstério do Say, São Francisco do Sul, retornando ao Rio de Janeiro, perece de febre amarela (1851).

Percebe-se pela narrativa, que pandemias exigem, não apenas conhecimento, mas sobretudo firmeza de propósitos, campanhas organizadas, e adesão da população – mesmo a contragosto.

Neste aspecto, a SUCAM – Superintendência de Campanha de Saúde Pública, marcou época. Com uniformes cor toddy percorriam áreas urbanas e os fundões do país. Atuavam com regularidade franciscana, verdadeira operação de guerra. Placa nas residências, atestavam a passagem das equipes.

Em 1990, no governo Collor, foi extinta sendo substituída pela FUNASA – Fundação Nacional de Saúde.

E vejam o descalabro: a dengue que havia sido declarada extinta no país em meados de 1954; o Brasil recebeu certificado internacional pelo feito, renasce das cinzas. E no embalo, a febre Chikungunya e a zika vírus.

Com a extinção da SUCAM – coincidência ou não – a dengue avança assustadoramente. Em 1990, registram-se 110 mil casos; 360 mil, em 1998; 430 mil, em 2007; e 1.649.008 em 2015. Escalada surpreendente. E, ressalte-se: a SUCAM, além da malária e da febre amarela, combatia também a doença de chagas, a esquistossomose, a filariose, tracoma, a peste, o bócio endêmico, e as leishmanioses. Ações preventivas, próprias de sanitarismo de campanha. Fundamentais, obviamente.

Que fique o registro, somos pródigos em extinguir estruturas operativas e eficientes. E nada pródigos em substituí-las. Fere-se, assim, o princípio basilar de qualidade que, antes de tudo, significa: 1) estabelecer, 2) manter, e 3) melhorar padrões.

Na obra – Sonhos Tropicais – o médico-escritor Moacir Scliar da Academia Brasileira de Letras -, prospectra esse universo. Leitura obrigatória nestes tempos de pandemia.

Quanto a Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, agigantam-se com tempo; inspiram às novas gerações.

Joinville, 4 de janeiro de 2021

Onévio Antonio Zabot

 

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