Rescaldo de campanha

– Mas por que esta poliçada aí, na frente da casa do cara?

– De certo, tá com medo do foguetório, o pessoal gosta de tripudiar sobre o vencido, isso ainda mais nas eleições para prefeito.

– Não acredito que o pessoal venha até aqui fazer isto. Tem mais candidatos derrotados.

Nisso, se aproximou um vizinho que conhecia o candidato e até tinha sido seu cabo eleitoral; e esclareceu à turma de curiosos:

– Nada. O homem, no dia véspera da eleição, chegou em casa à noite e prometeu para a mulher: “Amanhã tu vais dormir com o novo prefeito”.

– Agora, está com medo que o outro venha aqui.

Na quarta-feira, quando chegou em casa, após o resultado das eleições que não lhe deram a prefeitura, frustrando o que esperava – tantas foram as andanças e esperanças da campanha – encontrou a mulher com uma frasqueira.

– Que é isto?

Passou a mão e verificou o conteúdo:

Um jogo completo de peças íntimas Luiza Brunet, chinelinhos, pós para toalete, batom carmim sensualíssimo, sais de banho.

– Onde é que pensas que vais com isto?

– Cumprir a tua promessa: dormir com o novo prefeito.

Escafedeu-se do estádio onde computavam os votos. Saiu de fininho, tamanha a vergonha que lhe causara a reduzida votação. Gastara montões, tivera a máquina administrativa ao seu lado, todo o esforço da sua vida destinado à conquista da prefeitura tinha ido por água abaixo.

– Povinho fia dumas unhas!

Recebera adesões, fora festejado nos bairros, seus programas de televisão eram realizados por equipes de comunicadores especializados em política. E agora, aquilo: derrotado! Entrou no carro e resolveu dar umas voltas pela cidade, amaldiçoando cada um que encontrava. Não reparara a propaganda grudada no carro e, por onde passava, sempre havia manifestações, ora de gozação ora de apoio.

Ficou mais pê da cara, ainda. Parou o carro e arrancou tudo, riscando a pintura.

– F…-se!

Quando chegou em casa, a mulher estava no portão. Viu abrir-se um sorriso:

– Vais me levar lá na casa dele ou ele vem aqui, mesmo?

Se os meus adversários forem de palavra, vou ter de tomar Catuaba do Laboratório hoje – pensou o candidato eleito.

 

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