Saga poética em dois movimentos
O LENHADOR
Raio sonoro
fende a imensidão
furiosa do lenho.
Cavacos erguidos
nos umbrais do tempo
sem escolha.
Inútil apelo:
Ícaro tombado
no obstinado voo.
Ao transpor
recônditas faces:
ecos de dentro,
setas desferidas
à luz dos rochedos
de remota infância.
O lenhador lenha,
lenha o vento
que nunca será reposto:
ossos de profeta,
– palmo a palmo –
estivados na alma.
A LENHA
Será o fogo
a aquecer a alma?
Vaga-lume desnudo?
Será o raio
que rasga
a selva imensa?
Ou a flecha fugaz
à espera
do improvável retorno?