Suscito ou sucinto
Vez por outra me surpreendo com a magia das palavras e de seus significados. A evolução humana foi beneficiada pela invenção do alfabeto: 26 letras que se combinam, criando palavras e organizando ideias capazes de vencer as barreiras do tempo e do espaço; colocando o homem do passado, com suas reflexões, em contato direto com o do presente e o do futuro.
Se a junção dos caracteres proporciona uma ligação atemporal, também precisamos estar atentos aos detalhes que preservam a exatidão da linguagem que nos cerca.
Dia desses, enquanto distraía os ouvidos amealhando falas alheias, ouvi parte de uma conversa entre dois adultos sem identificar a primeira palavra que trocaram.
– Sucinto (ou suscito) – disse o primeiro, com convicção.
– Tem certeza?- questionou um interlocutor, espantado.
– Claro!
Os dois calaram por um espaço de tempo longo o suficiente para que minha senha de atendimento fosse chamada e eu levasse aquela dúvida comigo.
Sucinto. Estaria o primeiro homem indicando ao segundo que expusesse algo de forma breve, limitando-se ao essencial? Ao que teria este, surpreso com o pedido, confirmado se havia mesmo que restringir o que de tão importante tinha a contar? Se assim foi, a pausa estendida seria uma tentativa do interlocutor de encurtar sua história sem perder a consistência.
Mas a palavra inicial do primeiro homem também poderia ter sido suscito – fomento. Neste caso, o que estaria ele disposto a provocar?
Pelo tom assustado do questionamento que se seguiu, a ação de suscitar algo que não sabemos o que é causaria efeitos devastadores.
Impossível compreender. De certo, apenas, que se sucinto, não suscito. E vice-versa.