Textos Vencedores do Concurso Carlos Adauto Vieira – 1º lugar Ensino Médio

 

A Academia Joinvilense de Letras tem a satisfação de apresentar os textos dos estudantes vencedores do 3º Concurso Literário Carlos Adauto Vieira, realizado em 2022.
O concurso é promovido pela Academia Joinvilense de Letras e conta com o apoio do Instituto Carlos Roberto Hansen.

1º lugar – Ensino Médio

Embaixo da cama, de Maria Eduarda Ferreira Silva

Professora responsável: Cristina

E.E.B. Prof° Antonia Alpaides Cardoso dos Santos

 

Embaixo da cama

 

Eu sou minha própria heroína, entretanto nada e nem ninguém vai me derrotar.

“Chegamos!” Minha mãe me tirou de meus pensamentos mórbidos, dizendo “um herói forte não protege a si próprio, mas sim aos mais fracos.”

Descemos do carro e por algum motivo havia mais duas crianças comigo, não entendi, minha mãe parecia desesperada, tudo em volta estava tão melancólico. Entramos em um jardim, flores mortas por todos os lados, as crianças saíram correndo na frente, minha mãe veio até mim e senti sua mão gélida segurar meus ombros com força enquanto perguntava:

– Você sabe o que são as vozes do seu quarto?

– São coisas da minha cabeça! – respondi firme.

– Errada, é o eco dos mortos!

Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, vi sua cabeça estilhaçar em vários pedaços. A despedida foi rápida, na verdade nem chegou a ser uma despedida, meu rosto ensanguentado tomado pelo choque e pavor, começou a fazer expressões inusitadas, minhas entranhas pareciam se mexer em meu interior, o veneno…era a única coisa que podia pensar, vomitei um líquido preto, não sei o que era, mas havia um papel, me estiquei e peguei o papel no qual estava escrito: " Ela está aqui!”

Direcionei meu olhar para frente a procura do atirador de minha mãe e acordei assustada com o rangido da porta do meu quarto. Minha vó entrou lentamente:

– Bom dia, minha linda! Desculpa, não queria ter te acordado! – atrás dela havia um ceifador, o mesmo que vi no dia em que minha mãe morreu, o mesmo que vejo atrás dela todos os dias.

Quando ela se aproximou não consegui me conter, comecei a chorar, abracei-a e não disse uma única palavra, apenas chorei, ela apreensiva disse deslizando a mão por meus cabelos:

– Eles voltaram né…os fantasmas!

– Não são fantasmas, fantasmas não existem! – a minha vida inteira fui cética quanto ao mundo sobrenatural e até mesmo quanto a existência de Deus, mas sempre respeitei minha vó por ser uma fanática religiosa.

– Deus tenha misericórdia de você minha princesinha!

– E fantasmas nós conhecemos…eu não conheço essas crianças! – minhas palavras saiam trêmulas de minha boca.

– Tem razão! – minha avó era uma boa pessoa, sempre foi, mas desde que tudo aconteceu ela tem se esforçado muito, me sinto ingrata às vezes, mas meu egoísmo me faz pensar o contrário e logo passa.

– Obrigada vó! – Disse limpando o rosto.

– Por nada, limpa o rosto e desce para tomar café, fiz chineque para nós! – eu amava chineque, então apenas assenti com a cabeça.

O resto do dia passou tranquilamente. Na parte da manhã eu havia ido à escola, por agora eu estava voltando e, neste ir e vir, tive a sensação de estar sendo seguida, não era do meu hábito sentir medo sem uma razão lógica, mas só por precaução comecei a andar mais rápido. Este morro parecia não acabar nunca, sentia o cansaço dominar meu corpo, mas logo chegarei em casa, então tomarei um banho para depois almoçar.

Me senti um pouco sufocada, estava com uma sensação ruim… então decidi tirar um cochilo. Era por volta das 3h da tarde quando acordei com um susto. No pé de minha cama estava o mesmo ceifador e uma garota, ela tinha cabelos loiros, a pele pálida a boca estava suja de terra, a menina possuía vários cortes pelo corpo, ela era quase do meu tamanho, nossos olhos se encontraram e senti um arrepio percorrer minha espinha, parecia que já tinha visto aquele olhar antes, não lembro onde, mas já tinha visto. " Me salve " …as palavras saíram abafadas pela sua boca. Fiquei em transe olhando a garota vir até mim, mas quando seu dedo estava a um palmo de distância da minha testa, dei um pulo, não sei o que me assustou, suponho que algum barulho da construção ao lado. A porta abriu-se abruptamente e minha vó entusiasmada comentou:

– Sua amiga Cris disse que está vindo brincar com você, mas precisa que você vá buscá-la na casa dela!

– Fala pra ela que eu não estou em casa!

– O quê? Mas por quê? – ela parecia brava.

– Não tenho mais idade pra brincar vó! – revirei os olhos.

– Vá buscar a sua amiga! – séria.

– … – permaneci em silêncio, nunca vi ela assim.

– De qualquer forma eu já falei que você iria, foi essa a educação que eu te dei? – ela sai do quarto.

– Está bem!

Não gosto de discutir com a minha avó, então apenas peguei minha sandália e fui até a rua de baixo buscar Cris. Enquanto voltávamos para a casa da minha avó uma senhora nos parou, ela estava com um vestido florido – de velha, seu cabelo estava todo bagunçado e havia algumas folhas e galhos preso nele, eu também consegui sentir um toque de insanidade em seus olhos, com passos pesados ela se aproximou:

– Não olha para ela, ela é louca, a feitiçaria a deixou assim! – sussurrou Cris.

– Percebi! – abaixei a cabeça, mas antes mesmo que eu desse um passo a mais sequer, a mulher agarrou meus ombros e começou a me chacoalhar, ela gritava.

– Onde está Marina?

– Quem?? – perplexa.

– Marina, minha filha, você a viu por último, onde ela está??

– Do que ela está falando? – olhei para Cris um tanto assustada.

– A Marina da nossa sala você não se lembra, acho que vocês acabaram brincando na semana em que ela desapareceu…

– Senhora, nós não sabemos da sua filha, talvez ela esteja no seu caldeirão, vai saber, bruxa nojenta! – Cris falou de forma rude e grotesca.

– Calada! – logo dois rapazes se aproximaram e me tiraram dos braços dela.

– Eu vou arrancar a verdade das suas entranhas! – ela gritou.

Esse tipo de situação nunca tinha acontecido comigo, fiquei bastante assustada…talvez fosse ela que estava me seguindo ao meio-dia. Seja como for, apenas caminhamos o mais depressa possível até minha casa.

Ao chegar peguei uma pequena HQ e fui até a varanda com Cris para observar o movimento da rua, um grande erro. Ao chegar lá me sentei na grama e abri a história em quadrinhos que eu havia pegado. Dei algumas risadas, mas durou pouco, minha atenção logo foi desviada para uma senhora que estava parada na frente do portão, ela estava toda suja, seu cabelo estava um emaranhado de fios vermelhos, manchados de um líquido pegajoso que chegava a escorrer, algo parecido com sangue, ela usava roupas de uma freira, porém sem o véu, ela também tinha um sorriso maldoso no rosto, com os olhos bem fixados em mim, era a mesma mulher de alguns minutos atrás.

Senti um arrepio percorrer minha espinha. Inesperadamente a mulher abriu o portão da residência e adentrou o terreno, eu queria correr, mas não consegui me mexer por conta do medo, eu a vi se ajoelhar a poucos centímetros de

distância de mim. Ainda me olhando ela começou a cavar um círculo no chão do gramado com suas próprias mãos. Ela pronunciava palavras estranhas para mim enquanto fazia o círculo, eu não entendia nada, sem falar que a voz dela tornou-se grave e abafada, não parecia a voz de uma mulher, não entendia o que ela queria dizer. Ela ainda me encarava com os olhos arregalados quando jogou um saquinho vermelho no círculo e umas pedrinhas brancas.

Desesperada e sem entender a situação gritei para minha vó. A mulher que tinha desenhado um círculo perfeitamente redondo parou sua atitude ao me ver chorar de medo, então criei coragem para me levantar e correr, mas ela foi mais rápida, só senti sua mão gélida segurar em meu braço, suas mãos estavam sujas de terra e sangue, provavelmente de cavar. Cristina correu chamar minha avó que logo apareceu na porta e sem entender o que estava acontecendo notou o susto em meu rosto.

A mulher então começou a se rastejar para fora da casa e me arrastar junto, gritei e tentei me soltar, mas foi em vão, minha avó tentou me puxar, mas acabou caindo por não ter muita força. A idosa então gritou aos senhores da construção ao lado implorando por ajuda, foram eles quem me salvaram, três rapazes tiveram que intervir com força bruta para me tirar das mãos daquela estranha senhora, ainda em meio às lágrimas observei a mulher que se rastejava descendo aquele morro, as manchas de sangue no asfalto quente, provavelmente de seus joelhos que a essa altura do campeonato já estariam mais que ralados, observamos ela até a mulher sumir de nossas vistas.

Por causa do ocorrido, vovó e eu decidimos registrar queixa, para evitar que acontecesse novamente, quando a situação se acalmou voltamos para dentro, mas não achamos Cristina, provavelmente ela deve ter ido pra casa, depois de tudo isso, eu também iria se fosse ela, decidimos tomar sorvete para esquecer um pouco da situação conturbada que havia se passado. Só voltamos para casa quando anoiteceu.

Era estranho como tudo ficou tão caótico e calmo, minha vó estava na cozinha fazendo janta enquanto eu decidi ir tomar um banho, enchi a banheira e mergulhei a cabeça dentro da água, me sentia como num filme de terror “Caroline a estranha”, ri de meus pensamentos por um segundo, mas batidas desesperadas na porta me fizeram sair da água.

– Abre a porta…por favor! – não pode ser…parecia a voz de Marina.

– Ah, você está aí! – pude ver as pernas do ceifador passarem por de baixo da porta.

– NÃO…POR FAVOR NÃO! AHHHHH SOCORRO! – ouvi Marina gritar…eu queria ajudá-la, mas estava com medo e minhas alucinações só pioravam conforme o efeito do remédio fosse passando.

– … – escutei o som de algo pesado caindo no chão, passos pesados pararam em frente a porta e logo em seguida o sangue escorrendo por baixo dela.

Sai da banheira toda molhada e nua. Hesitei em abrir a porta por alguns minutos, mas abri, não havia nada e nem ninguém do lado de fora, no entanto o líquido vermelho parecia que havia sido esfregado pela casa toda, desci até a cozinha o ceifador estava lá, sorrindo, me encarando com presunção e logo minha vó entrou, e se assustou comigo:

– Menina, mas que diabos está fazendo aqui embaixo?? Vá para cima agora se secar!

– … – olhei nos olhos fundos dela.

– Os remédios pararam de fazer efeito?? – ela perguntou claramente preocupada com o meu pânico.

– … – apenas assenti com a cabeça.

– Certo! – ela foi até a prateleira e pegou alguns remédios que a psiquiatra havia sugerido e trouxe até mim com um copo d’água – Aqui…tome, vou fazer bolinhos de carne para o jantar!

– Obrigada! – tomei o remédio e subi sem dizer mais nenhuma palavra.

Estava trocando de roupa no quarto, deitei-me na cama, depois de uns quinze minutos levantei, passei pelo banheiro, tudo limpo não havia sinal de sangue ou muito menos de Marina, desci as escadas e fui para a cozinha:

– Está quase pronto, sente-se amor, vou fazer um suco pra você!

– A cara está uma delícia! – sorri e peguei um bolinho de carne, ela se virou com o suco.

– Está bom? – me entregou o copo.

– Os seus são os melhores! – minha avó é uma excelente cozinheira.

– Que bom que gostou, o suco é de laranja – ela deu a volta na mesa e se sentou junto a mim para comer.

– Obrigada Deus, pelo alimento de cada dia e que você tenha no céu a alma da pobre vítima que nos alimenta nessa mesa, amém!

– Só virar vegana…eu hein tá achando que a vida é um mel! – disse com a boca cheia.

– Eles não têm culpa!

– Tem sim …o nome disso é cadeia alimentar, sobrevivem os mais fortes! Não se culpe tanto.

– Amém! – ela ignorou e começou a comer.

– Dizem que a mãe da Marina é o verdadeiro sequestrador de crianças…ela é louca, não duvido, ainda mais depois do que aconteceu hoje!

– Concordo!

Depois da janta subi para o meu quarto e fechei a porta; estava me preparando para dormir. Quando criança nunca gostei da porta do meu quarto aberto a noite, as vezes via crianças invadindo meu quarto e minha mãe também, um dia antes dela morrer, nunca vou me esquecer…aquela criança, com o coelhinho de pelúcia todo manchado de sangue, a forma como estava ferida, o jeito que me olhou, seu olhar ficou mais sombrio e diabólico a cada medida que de aproximava…até o ceifador buscá-la. Malditos terrores noturnos. Depois que relatei a minha vó, ela fechou a porta ao anoitecer; problema resolvido, eles nunca mais voltaram.

Deitei-me na cama, olhei para a escrivaninha ao lado e vi meus remédios, me perguntei o que aconteceria se eu deixasse de tomar por uma noite? Por mais que temesse, estava determinada a me desafiar. Estava olhando o teto quando cai no sono, não sonhei com nada, acho que minha mente se acostumou ao vazio que as pílulas deixavam, mas vira e mexe ouvia barulhos vindos de dentro da casa, até que escutei o ranger da porta do meu quarto, acordei, olhei em volta, tudo normal, porém aparentemente alguém entrou no meu quarto, havia uma fresta aberta, me sentei na cama e logo a porta fechou, engoli em seco, mas queria saber quem tinha fechado, levantei e fui até a maçaneta, olhei pela fechadura e havia alguém olhando de volta, um olho com a pálpebra levemente manchada de vermelho, um arrepio correu pelo meu corpo, senti as pernas tremerem, seja lá quem for que estivesse atrás daquela porta sabia que eu estava ali e que estava acordada, ouvi a respiração ofegante por trás da porta, e então me afastei, coloquei a mão na maçaneta e a girei, trancada. Agora tive certeza, tem alguém na casa. Eu podia ficar ali sentada e fingir que nada havia acontecido, mas estava curiosa; e como dizia o ditado “a curiosidade matou o gato”, nesse caso parecia que ela queria me matar também.

Fui até escrivaninha peguei meu celular e liguei para polícia, também mandei mensagem para minha irmã, mas ela não viu, fazia meses que ela não me respondia:

– Oi…eu não posso falar alto, mas tem alguém na minha casa! – falei baixo.

– Essa pessoa porta algum tipo de arma?

– Provavelmente…minha vó está sozinha e eu trancada em um quarto, preciso de ajuda, eu acho que pode ser uma mulher a qual eu fiz um boletim de ocorrência hoje mais cedo!

– Certo me passe o seu endereço, mandarei uma viatura em 15 minutos, procure um local seguro para se esconder.

Passei a localização e procurei a chave extra da porta do meu quarto; encontrei atrás de um porta retrato. Destranquei a porta e fui em direção da escada…a porta da frente estava aberta, o vento batia com força, por um segundo pensei em fechá-la, mas seria óbvio demais que eu teria levantado da cama, minhas pernas amorteceram quando ouvi um barulho de algo pesado caindo, passos pesados e gritos, apenas fui para a cozinha, todas as luzes estavam apagadas, exceto uma, a do porão, a porta do porão sempre ficava no cadeado, mas dessa vez a porta estava aberta, caminhei lentamente até a porta, e a expressão de horror em meu rosto foi inevitável, no final da escada do porão eu vi, vi o corpo de Marina, desci as pressas e me aproximei:

–Marina…Meu Deus o que aconteceu com você? – testei o pulso – morta.

–Huuuu…- ouvi murmúrios.

Desviei minha atenção de Marina, na sala havia mais três garotas todas em trapos, machucadas, pareciam não comer há dias e estavam amarradas, com as pernas bambas fui até elas e as soltei.

– Calma eu vou soltar vocês! … – elas choravam muito, mas enfim desamarrei todas.

-Obrigada! – disse uma garota que me parecia familiar, na verdade todas elas pareciam.

-Mas que merda aconteceu aqui?? – questionei apavorada, já temendo pelo pior.

-Uma velha… nos trouxe para cá. – Minha vó?? Como assim?

-Eu sei que estão confusas e assustadas, mas fiquem calmas, eu chamei a polícia!

-Eu me lembro de você! A outra garota, a que está morta ela me disse que falaria com você! – uma delas disse ainda assustada, logo minha atenção retornou a Marina, voltei até seu corpo já sem vida e tentei reanimá-la, mas foi em vão.

Já havia desistido de reanimar Marina. Não queria que elas saíssem dali, podia ter mais alguém na casa, mas logo os policiais chegaram, e o que eu temia que fosse verdade, logo fora comprovado: minha avó era uma maníaca demente que sequestrava e torturava crianças e ela me usava pra atraí-las. Também descobri que havia outras cinco garotas, mas todas vieram a óbito, policiais descobriram o corpo de uma outra, a qual foi pedido a mim, para reconhecer…não acreditava no que estava vendo, era a Cris, minha vó foi acusada de pelo menos 37 assassinatos de crianças, sequestro de menores, entre outras coisas ilegais que ela fez, infelizmente a polícia não encontrou minha avó, provavelmente ela fugiu após jogar Marina da escada.

Olhava os corpos sendo retirados do porão, sentia raiva. Como pude não perceber? Fechei os punhos com força, em meu momento de ódio um policial veio até mim, quantas vítimas mais minha vó teria feito se eu não a descobrisse?

– Não foi sua culpa! – disse um policial segurando em um dos meus ombros.

– Eu deveria ter percebido!

– Seria um pouco difícil estando drogada! Eu encontrei os exames e milhares de remédios, duvido que você se lembre do que aconteceu! Mas o que você fez hoje…foi algo muito importante, se não tivesse saído do quarto e ligado para a polícia, essas garotas provavelmente não estariam vivas.

– Eu deveria ter salvado a Marina e a Cris, mas fiquei com medo de abrir a porta do banheiro! – olhei para o chão de forma pensativa.

– Está tudo bem… até mesmo os mais corajosos heróis têm medo, na verdade o ditado dos heróis é “primeiro proteja a si mesmo, depois proteja o povo”.

– Faz sentido…será que você pode ligar para minha irmã? – o que ele disse fez eu me sentir bem.

– Claro…vamos lá!

O policial ligou para minha irmã, mas como de costume ela não atendeu, então ele decidiu me levar até a casa dela:

– Que loucura né!

– Sim! – ele parecia calmo.

– Como você está? – ele me encarou pelo retrovisor.

– Bem…me sinto parte de um plano profano! – sorri sem graça.

– Entendo, mas pelo menos agora estará em boas mãos …você e sua irmã são próximas?

– Não muito, ela foi embora depois que minha mãe morreu!

– Entendo, acha que ela sabia sobre sua avó?

– Não…talvez desconfiasse, mas saber, não!

– Encontramos uma bolsa vermelha, havia umas marcações dentro dela, algo como 15/03/2000…você sabe o que significa?

– Sei…- era bolsa da minha mãe, ela a matou também. Velha desgraçada! – A data de vencimento da identidade da minha mãe! – sorri de lado, era meio engraçado, minha mãe nunca se lembrava dessas coisas, por isso anotei pra ela.

– Interessante haha! – ele deu uma risada curta. – Bem Caroline…chegamos!

– É CORALINE! – falei corrigindo o próprio.

– Okay Caroline, pode descer! – ele desceu do carro.

Revirei os olhos, odiava que falassem meu nome errado. Fomos até a porta e minha irmã atendeu, o policial contou o que havia acontecido, ela me abraçou apertado e chorava feito uma criança, acho que ela se sentia um pouco culpada. Não a julgo, eu também teria abandonado tudo se tivesse a oportunidade. Depois de tudo acabamos indo dormir, minha irmã falou para dormirmos juntas, como antigamente, ela fez sua cama no chão e eu dormi na cama, finalmente peguei no sono e tive meu primeiro sonho, em tempos, não era um pesadelo…na verdade era uma lembrança de mim e das garotas brincando no playground, bem… enquanto elas estavam vivas; minha mãe também estava no sonho, com um vestido azul olhando nós brincarmos do banco, Coraline…ouvi alguém sussurrar. Acordei no vácuo da noite e vi minha irmã aos pés da cama:

– Coraline se levanta, está na hora do seu remédio!

– Mas eu não preciso dos remédios, nunca precisei– disse sonolenta.

Antes que eu pudesse sequer reagir, ela me puxou para fora da cama e me arrastou até o andar de baixo. Enquanto descíamos ela parecia assustada, estava ofegante e tremia um pouco:

– Laura o que aconteceu? – questionei ela.

– Os remédios são só uma desculpa, eu tenho certeza de que tranquei a porta, mas quando acordei vovó estava embaixo da sua cama.

 

Maro_Naldke

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