Triste, estranho mundo (Milton Maciel)

 

TRISTE, ESTRANHO MUNDO

MILTON MACIEL

 

Triste bruto mundo,

Onde em latas de lixo por festim,

crianças reviram o seu parco de comer.

Cachorros coçam suas sarnas pelas ruas,

por onde humanos se esbarram desconexos.

Bebem os homens suas dores nos botecos

e matam-se uns aos outros sem porquê.

 

Triste feio mundo,

onde, moídas de competição,

mulheres TÊM que ser ardilosamente belas,

perenemente magras, eternamente jovens,

absurdamente responsáveis.

E desejáveis, usáveis, descartáveis.

(e matar-se de trabalhar pra pagar por tudo isso!)

Fiéis aos muitos seus e aos muitos seus deveres,

Porém estranhamente infiéis a si mesmas!

 

Ah, triste velho mundo,

Onde políticos corruptos vicejam,

Empresários corruptores sonegam,

Banqueiros rapinam na escorchância

E paraísos fiscais a todos acobertam.

Os honrados cidadãos fajutam, mentem,

também sonegam, pirateiam, fazem gatos.

Mas não deixam de cumprir o seu cívico dever:

vão às ruas protestar e quebrar contra a corrupção!

 

Triste louco mundo

de terrorismo, guerras e de exploração.

Países Senhores da Guerra vendem armas a dinheiro,

Mas fazem fiado a desgraça, a morte e a desolação,

a carne jovem por eles consumida em bucha de canhão.

A carne ainda mais jovem mercadejada na prostituição,

Meninas e mulheres sofrendo seu ordálio eterno:

Desrespeito, assédio, estupro. E agressão.

 

Triste estranho mundo,

onde crianças teimam em nascer,

onde os poetas insistem em sofrer

E os amantes se obstinam em amar.

Onde há doutores que ainda ousam curar,

e professores que se esfalfam pra ensinar.

Onde há malucos que não param de sonhar

e há visionários que ainda soem acreditar.

 

Ah, triste alegre mundo,

Que não para de girar!

 

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