Uma vida vale muito (Cristina)
Uma vida vale muito – 5 mil, 7 mil vidas valem muito mais
Maria Cristina Dias
No final de maio de 1940, as tropas aliadas viviam um momento dramático na área de Dunquerque, ao Norte da França. A Alemanha nazista literalmente os encurralou na região e muitos até hoje não entendem porque não acabou de vez com eles ali mesmo já que estava com a faca e o queijo na mão. Foi uma derrota histórica para os aliados, milhares de pessoas morreram e outras milhares estavam fadadas a morrer também, quando o então primeiro ministro Winston Churchill tomou uma decisão corajosa.
Com um discurso que entrou para a história, ele reconheceu a derrota, admitiu que retiradas não venciam as guerras, mas que naquele momento era isso ou perder mais vidas (em uma tradução para lá de livre). Conclamou os civis, com suas embarcações particulares, a atravessar o Canal da Mancha, arriscarem as próprias vidas e ajudarem a retirar os soldados aliados (não eram só ingleses, tinha também franceses e belgas) da costa de Dunquerque, sob o ataque aéreo alemão.
Quantos homens exatamente estavam acuados em Dunquerque não saberia precisar (e a pesquisa nas fontes online não ajudou muito – me ajude quem souber). Mas a estimativa de Churchill era resgatar cerca de 44 mil soldados em dois dias, número que logo foi ampliado para 120 mil. Ao final, foram nove dias de evacuação e mais de 330 mil pessoas salvas.
Admitir a derrota e sair de uma batalha (seja ela qual for) com o rabo entre as pernas não é algo fácil. Mas virar o jogo com decisões honestas e corajosas, e transformar esse momento em motivo de orgulho para uma Nação é o que distingue um líder de um governante qualquer. É o que faz com que as pessoas o sigam mesmo sabendo que, embora não seja infalível, ele busca o melhor para o seu País.
Churchill, vamos combinar, tinha muitas controvérsias, mas era um ponto fora da curva, um grande estrategista político. Não vão haver muitos como ele no mundo.
Porém, o que a atuação dele nesse episódio crucial nos mostra é o que parece óbvio, mas não é: em situações de crise, os líderes se revelam.
É nesses momentos que precisamos de governantes coerentes e preocupados com a vida humana – em todos os seus aspectos. Pessoas que saibam analisar e usar as informações com bom senso para amenizar os prejuízos que toda crise traz, nas mais diversas áreas. Que acalmem a população ao invés de aumentar as incertezas e trazer pânico.
Não sabemos qual a dimensão que algo como o Coronavírus pode tomar em um País como o Brasil, marcado por uma profunda desigualdade social e de renda, onde boa parte da população vive aglomerada em condições precárias sem acesso a elementos essenciais como água tratada e esgoto sanitário e a certeza de comida na mesa. Um país, onde uma legião está desempregada ou sobrevive na informalidade – vende o almoço para comer no jantar, quando consegue isso.
Mas na dúvida sobre qual essa dimensão, Santa Catarina vem tomando decisões sensatas. Em um primeiro momento parou tudo para evitar que o problema chegasse e se espalhasse por aqui. A partir daí avaliou os impactos, o desenrolar dos acontecimentos e, aos poucos, foi flexibilizando as ações para adequá-las ao momento. Prudência, bom senso. Palavras importantes sempre, mas essenciais nesses dias que vivemos.
O que não dá é para fingir que não há um problema ou minimizar a situação e simplesmente enterrar os mortos depois. Uma vida vale muito, pois mais insignificante que ela possa parecer para alguns – 5 mil, 7 mil vidas valem muito mais e precisamos defendê-las.