Utopia no Saí (Raquel)

UTOPIA NO SAÍ   –   MEMÓRIAS

Raquel S.Thiago

A Vila da Glória (SFS) tornou-se famosa quando foi divulgada a história da experiência vivida por duzentos e tantos franceses liderados pelo médico homeopata Dr. Benoit Jules Mure, e crente convicto da utopia de Charles Fourier. Ali viveram entre 1842 e 1847 onde tentaram fundar, sem sucesso, um Falanstério, ou seja, habitação coletiva idealizada por Fourier. A presença e a vontade daquela gente que por cinco anos tentou realizar seu sonho de construir a sociedade   ideal, deixou um rastro histórico que tem atraído historiadores de várias partes do Brasil e de outros continentes.

Para comemorar os 150 anos da chegada dos franceses em 1992, alguns eventos foram realizados com apoio da Univille e da Prefeitura de São Francisco.  O ponto alto das comemorações foi a encenação da peça “Sahy dos Sonhos” de Borges de Garuva, com direção de Sivestre Ferreira, tendo por base   minha pesquisa, embora ainda não publicada.

Estreamos no salão paroquial da Vila da Glória. De Joinville partiu um ônibus lotado de professores, alunos e atores do espetáculo, numa alegria só, incorporando, quase, os franceses do Caroline. São Francisco se fez representar por  autoridades e um número considerável de francisquenses  e joinvilenses  além de moradores da Vila da Glória formaram  uma razoável plateia .

Confesso que aquela noite, em plena encenação, fui tomada por  uma enorme emoção  ao sentir presentes naquele momento meus ancestrais , Mestre Quincas,  bisavô, professor que diariamente atravessava a Babitonga para dar aulas na Vila da Glória ; Carlos da Costa Pereira, historiador e   Arnaldo S.Thiago, escritor e filósofo,  tios avós, com trabalhos publicados sobre os“ franceses do Sahy” ; meu avô, Álvaro S.Thiago que por meio da homeopatia tratou grande parte dos pobres de S.Francisco, evocando a intenção do  Dr. Mure de instalar no local  um Instituto Homeopático ; meu pai, Oswaldo S.Thiago, quando eu era apenas uma criança, contava-me histórias , entre as quais a dos franceses no Saí, incorporando no seu contar de pai afetuoso algumas fantasias …de outras histórias  e que eu achava que era apenas ficção  até tornar-me historiadora e encontrasse por acaso no Arquivo Histórico de Joinville  documentos originais referentes à passagem dos franceses por ali . Os mesmos personagens que meu pai contara do jeito dele. Tremendo, tentei ler algumas cartas do Dr. Mure, e daí seguiram outros documentos, outros, e outros…. Decifrar esta história tornou-se um “hobby” para mim.

Passaram-se dez anos até que em 1994 o livro fosse publicado.   Sob o título Fourier, Utopia e Esperança na Península do Sahy,  o livro trata da crise europeia do século dezenove, quando os intelectuais já não acreditavam nos ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, símbolo da Revolução Francesa de 1789. Daí o surgimento das utopias engendrando, cada qual ao seu modo, um mundo melhor. Fourier foi um deles. Em seu último capítulo, o livro trata principalmente do que foi possível elucidar sobre a presença dos franceses no Sahy e no Palmital. Jamais havia pensado em pesquisar, escrever e publicar um livro sobre esta incrível aventura.

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