Vacas pardas (Zabot)

VACAS PARDAS

Pasmem! Dezesseis milhões de norte-americanos acham que os achocolatados provêm de vacas pardas.  É o mundo virtual sobrepondo-se ao natural; percebe-se. Há um claro descolamento da realidade.  Com o devido respeito, porque não o denominar de alienação virtual.

É certo que o Homo sapiens, neste momento, passa por mais uma profunda transformação, a maior da história. Eis que se projeta o “Homo virtual”. E a Era da superconecitividade apenas se descortina.  A chamada quarta revolução industrial (4.0) em curso potencializa a interação da tecnologia da informação (TI), com a tecnologia de operação (TO).  A inteligência artificial, espécie de cérebro eletrônico, advinda de tecnologia da informação, e os braços, o componente mecânico, da tecnologia operacional.  É a máquina ocupando o lugar do homem.  Robotização a curso pleno. Se o fato é positivo ou negativo, há que, no devido tempo, avaliar-se. É obvio que certas tarefas repetitivas da Era industrial são desgastantes e não apropriadas ao biótipo humano que se desenvolveu em outras circunstancias. Caçadores e coletores, obviamente, careciam de tônus muscular.

Uma coisa é certa, porém: a velocidade das mudanças afeta todas as pessoas, repercutindo nas relações econômicas e psicossociais. Novos paradigmas afloram.   Jack Welch – guru desta nova Era -, fala em mentoria reversa; qual seja: os jovens ensinam os mais velhos. E, este fato é real e bastante comum. Caso dos idosos orientados por jovens nos caixas eletrônicos. Para a geração mais jovem – conhecida como geração Z (2000) -, a informática é algo familiar. Não, porém, às demais.

Mário Sérgio Cortella – filósofo e professor da USP -, tem abordado este tema. Destaca: vivemos uma época dos “pratos feitos” – dos “pacotes”, onde escapa à boa parte das pessoas a percepção do construir – do processo em si; e, sobra a visão estreita do produto final, presente na gondola dos mercados: frango e leite plastificados; ignorando-se, assim – a fase anterior -, a natural.

Em face desse contexto, propõe o pensador que se busque um retorno às raízes.  Amigos que se reúnem para cozinhar, por exemplo, exercitam esta virtude.  Além de um ótimo passa tempo, fortalece o convívio social, ao mesmo tempo em que resgata saberes e sabores e, sobretudo processos.

Dia desses lia uma matéria sobre o deputado Fábio Ramalho, MG. O mesmo informa que usa celular apenas para contatos esporádicos. Nada mais. No seu gabinete, em Brasília, montou um bufe com comida mineira, típica de sua região, e ali recebe seus pares para prosas alongadas.

A prudência recomenda que, a harmonia entre contato do mundo virtual e do real, seja resgatada. Espécie de ponte do saber. Toda a informação, portanto, há que passar por análise criteriosa – uma visão mais ampla da realidade.

Sem isso, com certeza, teremos mais gente acreditando que os achocolatados provêm de vacas pardas – a exemplo dos ianques.

 

Joinville,  abril de 2020

 

Onévio Antonio Zabot

Engenheiro Agrônomo

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