📓 “Discurso de posse” de Rodrigo Bornholdt

Estimado Presidente da Academia Joinvilense de Letras, acadêmico Milton Maciel, em cuja pessoa cumprimento as demais autoridades e todas e todos os presentes

É com emoção e alegria que assumo hoje a Cadeira de nº 06 da honorável Academia Joinvilense de Letras. Conforme solicitação da Mesa, tentarei me ater ao tempo sugerido.

Inicio essa alocução com um agradecimento aos integrantes dessa Academia, por considerarem-me digno de figurar entre seus pares. Só mesmo muita generosidade para me conceder um lugar nesse panteão das letras. Até hoje, atrevi-me apenas nas jurídicas; num gênero, à falta de melhor palavra, científico de escrita, nada obstante nosso pendor para as obras de ficção que fazem a grande literatura, permitindo ao homem enxergar seu semelhante e viver suas alegrias e agruras.

Meu Patrono é Carl Julius Parucker, homem de senso crítico e índole liberal. Temos ainda alguma semelhança na escolha da profissão. Carl Julius foi advogado, professor e editor, três atividades às quais também me dedico ou me dediquei em algum momento da vida. Em sua vasta obra, composta fundamentalmente de artigos de jornais, Herr Parucker insurge-se contra a injustiça da escravidão, chaga do Brasil daquela época e cuja herança maldita persegue-nos até hoje; numa cidade dividida entre protestantes e católicos, Carl Julius enfatiza a importância da liberdade religiosa; e em reconhecimento a muitos que, como ele, deixaram a terra natal para aqui se radicar, valoriza também o imigrante. Trata-se, pois, de figura a ser por nós reconhecida e pranteada.

O Titular da Cadeira 06, a quem ora sucedo, era também um advogado: o Dr. José Accacio Soares Moreira Filho, detentor da histórica carteira nº 02 da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Santa Catarina. Conta a família que o Dr. José Accacio, como todo bom escritor, era um envolvente contador de histórias. Rígido no português tanto escrito como falado, evitava e censurava as muletas de linguagem, os “daís” e os “nés” da linguagem falada e coloquial. Uma opção consistente com a sisudez daquela época, num esforço para aprimorar a comunicação e a linguagem com seus semelhantes. Unindo a leitura à contação de histórias, chegou a descrever de modo exímio uma cidade inglesa, sem nunca ter estado lá. Dela, porém, já havia lido tudo.

Alegra-me demais pertencer a esta Casa, pois sei que aqui se cultuam os mais nobres valores, aqueles da arte, e notadamente das letras. Sartre dizia que escrever é fundamentalmente um ato de liberdade. E dizia mais: é um ato capaz de gerar comoção, de mexer com seu semelhante. O mais brutal dos seres, quando envolvido pela leitura, pode chegar facilmente às lágrimas. Essa irradiação de empatia existe, é certo, em outros gêneros, mas sua origem passa, quase sempre, pelas letras. Já Ferreira Gullar, com sua habitual precisão, anotava: pela escrita, dá-se a transfiguração de um sentimento. Eis aí apenas uma mostra de sua potencialidade e de sua beleza.

Também a escrita pode-se deixar envolver por uma polêmica sempre contemporânea: da arte como “l´art pour l´art”, ou dela servindo a um engajamento. Tenho, de minha parte, que a arte não carece de justificativas, nem necessita ser funcionalizada. Mas não posso deixar de anotar e de me filiar àqueles que, reconhecendo sua inerente liberdade, entendem-na amiga e promotora da Democracia e do Estado Democrático de Direito.

Dentre tantos objetivos, figuram nessa Academia alguns plurais. Ao mesmo tempo em que se cultivam as letras nas tradições de várias escolas, quer-se trabalhar também com as novas perspectivas da literatura, acompanhando a contemporaneidade. Vamos aqui cultivar vários estilos. E, sem perdermos o rigor de análise e de exigências própria a qualquer grande obra, não nos atenhamos apenas àquele empolado, das mesóclises ora preponderantes em Brasília!

Muito obrigado pela acolhida!

Rodrigo Bornholdt

Em 26 de novembro de 2016.

 

 

 

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