📓Florescimento da Ordem Maçônica no Brasil (Lufiego)

GEOPOLÍTICA DO SÉCULO XVIII 

Século das Luzes

A Primavera do Ocidente

Florescimento da Ordem Maçônica No Brasil

 

O Século das Luzes foi a ponte progressista[1] entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea. Foi o século das revoluções que determinaram o curso da história humana e construíram a identidade do Ocidente, como a vemos hoje. A chaminé subiu na Inglaterra, a guilhotina desceu na França e o sangue lavou as ruas de São Domingos, a Pérola das Antilhas, aterrorizando os escravocratas do continente americano. Ainda no Novo Mundo, com a paulatina retirada britânica das 13 Colônias, surgiu uma inigualável república maçônica, realizando-se em parte o sonho de Platão. O Século XVIII foi a passagem, muitas vezes sangrenta, do Antigo Regime para a sociedade democrática; foi a passagem do Estado Absolutista para o Estado de Direito. O Iluminismo decretou o fim do monopólio de consciência exercido pela Igreja Romana. A Maçonaria, organizada nos moldes atuais a partir de 1717, cresceu geometricamente ao longo do século, impulsionada pela grande rede maçônica de acolhimento aos maçons viajantes, que se estruturou em quase toda a Europa, bem como pela atração da proposta esotérica de acesso a conhecimentos “ocultos” e ambiente fraterno, de amizade sincera, que, afinal, se consolidou nas Lojas Maçônicas. O Iluminismo[2], com a defesa dos direitos fundamentais e do Estado Democrático de Direito, foi uma reação ao Estado Absolutista e ao Direito Divino dos Reis. No campo político, na época, não é arriscado afirmar que a visão iluminista era progressista[3]também no sentido radical da palavra, quando a reforma não é apenas uma progressão, mas representa uma ruptura violenta com o status quo ante do grupo social em questão. A Escola Fisiocrata, contestando o mercantilismo – o franco-maçom Cédric Marchand, da Loja Goethe[4], diria: laissez faire, laissez passer, le monde va de lui même – também era revolucionariamente progressista, postulando a liberdade de atuação dos agentes econômicos e o fim dos monopólios reais. Adam Smith, precedendo e influenciando a David Ricardo, John Maynard Keynes, Milton Friedman e muitos outros ilustres teóricos da Ciência Econômica, neste diapasão, lançando as bases do liberalismo, representava a visão iluminista revolucionária, tanto na política, quanto na economia. Livre comércio, livre concorrência, individualismo econômico, estudo, trabalho, meritocracia[5]! Fim de todo e qualquer resquício de privilégios feudais e guilhotina para os reis absolutistas. Da Royal Society de 1660 para a Grande Loja de Londres de 1717 e dali para o mundo ao longo dos séculos seguintes: Liberdade, Igualdade e Fraternidade!

Pois bem, os tradicionais teóricos do sistema político onde “a vontade do rei era a lei”, a começar por Maquiavel, passando por Jean Bodin, Thomas Hobbes e seu “Leviatã”, até chegar ao padre tirano Jacques-Bénigne Bossuet, que na obra “A Política Inspirada na Sagrada Escritura”, defendeu a origem da realeza como divina, foram desafiados por John Locke, Montesquieu e Rousseau e, ao final, vencidos pela Revolução Francesa! Tão fortes eram os ideais progressistas do Iluminismo que, mesmo antes da Queda da Bastilha, vários governantes despóticos se tornaram “esclarecidos”[6], promovendo reformas em seus reinos no sentido da racionalização dos atos governamentais, agora voltados para aspectos econômicos, sociais e culturais, até então olvidados pelos monarcas absolutistas. Nesta quadra histórica, Pombal é o nome que mais nos interessa.

Reflexos deste amplo contexto histórico se fizeram sentir profundamente no Brasil e estão na origem remota da maçonaria brasileira e de seu perfil inicial eminentemente executivo. O ideário iluminista era o mesmo da maçonaria. Nas universidades europeias surgiram várias Lojas Maçônicas, citemos, mais uma vez, Coimbra e Montpellier. No século XVIII, os jovens filhos da elite agrária brasileira começaram a ir para a Europa fazer faculdade. Lá eram iniciados nas Lojas universitárias e retornavam ao Brasil com as mentes “iluminadas”. Aqui, defenderam a Independência, o livre comércio, os direitos dos povos, embora por injunção de suas próprias famílias alguns se mantivessem tímidos e reticentes diante da escravidão[7], o pior de todos os males da época. Atuaram, inicialmente, por conta própria, até que surgissem as primeiras Lojas, o que não demorou para acontecer.

O século XVIII foi um período de profundas mudanças para a humanidade. Na paisagem europeia, sobretudo no interior da Inglaterra, iam surgindo as chaminés das fábricas. O modo de produção artesanal era substituído pelo fabril e a produção, enfim, passava a ser realizada em série. A Revolução Industrial, em 250 anos, substituiu o remo e a vela pelo vapor e levou o homem ao espaço. Hoje vivemos algumas décadas a mais que os nossos recentes antepassados. Longe do ideal, temos mais de um bilhão de seres humanos ainda em condição famélica, com o capitalismo e a livre iniciativa, vamos avançando paulatinamente, até que um dia todos estejam socializados pela abundância. Em nenhum outro momento da história humana vivemos tão bem, nada obstante os nossos terríveis problemas humanos e geopolíticos. O século XVIII foi efetivamente o ponto de partida para essa caminhada em direção ao progresso dos povos que compõem a ainda problemática família humana. A livre concorrência é boa sobretudo para quem compra o produto ou contrata o serviço, e o sucesso dos melhores empreendedores é a garantia de bons empregos para os trabalhadores[8].

No Novo Mundo, sobretudo na segunda metade do século XVIII, a Arte Real[9], sob o malhete dos maçons Washington, Jefferson, Franklin e dezenas de outros maçons convictos e com sofisticado conceito de cidadania, criava, depois de Atenas na cultura e Roma na guerra, a maior de todas as Potências desde os Exércitos de Israel, sob Josué e guiados pelo Grande Arquiteto do Universo em pessoa, na época em que caíram por terra as Muralhas de Jericó. Ao sul do Texas, a vastidão territorial, que hoje corresponde ao que sobrou do México, América Central, inclusive parte insular, e América do Sul[10], as terras foram griladas pelas potências europeias. Até o Cabo Horn, no sul da Terra do Fogo, só existiam colônias de exploração. Espanholas, inglesas, francesas, holandesas e a portuguesa: o colossal Brasil! No campo geoeconômico, corolário da geopolítica, pesou sobre as colônias a política exploratória do Pacto Colonial. Tanto onde hoje se fala espanhol, uma das línguas mais faladas no mundo, quanto no Brasil, o Pacto Colonial não gerou nenhuma contrapartida em termos de desenvolvimento local. O objetivo era beneficiar apenas a Metrópole[11], e assim foi feito.

No Século das Luzes as potências europeias ainda eram as únicas protagonistas no campo da geopolítica internacional. As decadentes potências ibéricas, Espanha e Portugal, detentoras de vastíssimos impérios coloniais, tinham pela frente o desafio de mater seus domínios, abertamente contestados pelos ideais iluministas e pelos interesses geopolíticos das novas potências, Inglaterra, França e Holanda[12]. Enfim, é neste quadro geopolítico, segunda metade do século XVIII, que se originará no Brasil, “iniciada” na Europa, uma maçonaria inflamada pelos ideais iluministas e dotada de forte viés executivo, devido ao caráter emancipacionista profundamente arraigado nos corações dos nossos intelectuais, doutores em medicina e direito, formados no Velho Mundo e por lá também “iniciados” nos augustos mistérios da Arte Real. Cabe lembrar que os iluministas europeus não nasceram em colônias, mas em países soberanos e colonialistas, inexistindo no contexto europeu iluminista a ideia de emancipação do jugo colonial exploratório, pondo-se fim, com isso, ao Pacto Colonial. Este pensamento e modo de sentir não existia na Europa, mas apenas nas colônias europeias. Os objetivos dos iluministas europeus eram os direitos civis e o advento do Estado democrático de direito. O emancipacionismo é um fenômeno verificado na área colonial; processo bastante rico na história brasileira, no qual despontam os nomes de vários maçons, a maioria médicos, advogados e jornalistas[13]. Esse mesmo contexto histórico, devido às ambições francesas e holandesas, pressionará Portugal a sair em defesa, quase desesperada, de seus domínios coloniais. Para arguir o direito de posse e a manutenção dos territórios sob bandeira lusitana, os portugueses, como não tinham exércitos e armadas[14], precisavam de mapas, relatos históricos, até mesmo poemas de intelectuais que cantassem a tradição da presença portuguesa nas terras de além-mar, no Brasil, na África e nas longínquas colônias do continente asiático. Eis o motivo da criação em 1720 da Academia Real de História de Portugal e subsequentemente de academias nas colônias, especialmente no Brasil. Será no bojo do movimento academicista que surgirá a historiografia brasileira, e onde os nossos jovens doutores, iniciados na maçonaria europeia, aqui de regresso, vão atuar, como de fato atuaram, fomentando os ideais iluministas. Ideais que, das academias, mais tarde clubes de resistência, foram levados às Lojas tão logo tenham sido criadas. E nas Lojas, como sabemos, foi forjada a emancipação política do Brasil.

Portugal

No âmbito geopolítico internacional, o enfraquecido Reino de Portugal não teve dias fáceis ao longo do século XVIII. Embora seu governo fosse formado por indivíduos de maus costumes, moleirões e fedorentos, oriundos da realeza e da aristocracia decadentes, não ficou parado diante das ameaças das potências estrangeiras em invadir e tomar as principais partes de seu Império. Pernambuco sempre em destaque! Portugal procurou se defender como podia e o grande expoente nesse processo histórico foi o Marquês de Pombal, cujo governo, como ministro plenipotenciário do pusilânime Rei José I, pela importância e duração, ao longo de 27 anos, recebeu o título de “Era Pombalina”. Uma exceção de disposição para o enfrentamento das questões problemáticas e competência administrativa lusitana, tarde demais, é verdade, ao longo do Século das Luzes.

A decadência econômica do Estado monárquico absolutista português se acentuou a partir do limiar do século XVIII. Portugal, a Metrópole do Brasil, era refém da Inglaterra. Dependência formalizada e fomentada pelo Tratado dos Panos e Vinhos, firmado em 1703, que castigará Portugal e seu Império Colonial, especialmente o Brasil, ao longo de décadas. A conta gerada pelo péssimo negócio feito com os ingleses foi paga com grande parte do ouro produzido no Brasil, em pleno Ciclo da Mineração. É como ensinam muitos professores: “O ouro brasileiro deixou buracos no Brasil, igrejas em Portugal e fábricas na Inglaterra”. Por esta razão não se fala em invasões inglesas na história do Brasil; temos as francesas, no Rio de Janeiro e no Maranhão, e as holandesas na Bahia e em Pernambuco, mas nenhuma invasão inglesa, o que por outro lado não apaga da memória as incursões de corsários ingleses no nosso litoral, em São Vicente e Pernambuco, no chamado Período de Corso Elisabetano[15]. O imperialismo econômico exploratório e belicamente invasivo, no caso do saque ao Recife, realizado pela Inglaterra, faz do Reino Unido um grande devedor da nação brasileira. Como o nosso ouro financiou a Revolução Industrial inglesa, sem juros e sem devolução do principal, os britânicos, Estado e nação, considerado o produto interno bruto, nos devem uma indenização, enquanto não for calculada, estimada em muitos trilhões de Dólares, ou melhor, libras esterlinas, para que tudo se resolva por acordo bilateral, sem a necessidade de arbitramento internacional ou pressão direta, se um dia tivermos condições de cobrar essa conta.

No Reino de Portugal, internamente, o grande desafio para a Coroa Portuguesa era legitimar o Direito Divino dos Reis e manter consolidados os alicerces do Estado Absolutista, numa sociedade local decadente e atrasada, se comparada a outras da Europa, mas ainda assim permanentemente suscetível e vulnerável aos “famigerados ideais iluministas”! As tais “ideias francesas” de liberdade, igualdade e fraternidade! Para manter o status quo da tirania e do vilipêndio à população plebeia, era fundamental combater a mania revolucionária, que pregava e exigia o respeito ao direito dos povos. Depois do esclarecimento cívico corolário das ideias iluministas, não bastava um “contrato social” simbólico, que aludisse romanticamente às qualidades humanas de discernimento e disposição. O homem iluminado apenas pela moral não era suficiente, até porque a moral poderia facilmente ser escamoteada. Era preciso moral e mais! As nações que não adotaram um contrato social de efetivo respeito às liberdades, e tomamos como modelo àqueles institutos basilares contidos na Constituição dos Estados Unidos da América, sequer iniciaram o processo de desenvolvimento social compatível com o processo histórico humano; depois de milênios de caminhada rumo à civilização.

Entrementes, olhando atentamente para a história, defendo a tese de que a política externa portuguesa no século XVIII, sobretudo na Era Pombalina, por meio do movimento academicista, fomentou a formação e consolidação da maçonaria executiva brasileira, como também deu início à historiografia no Brasil. A Inglaterra, mesmo sem invadir, dominava o comércio com Portugal e suas colônias e não representava a priori uma ameaça, mas Holanda e França, que jamais reconheceram a validade jurídica ou histórica do Tratado de Tordesilhas, e não tinham os privilégios comerciais dos ingleses espertalhões, constituíam uma ameaça real de invasão, como, aliás, já tinha ocorrido em diversas oportunidades. A arma portuguesa para se defender era a diplomacia e a operação do direito internacional. Com base nisso, Portugal pacificou sua relação com a Espanha, por meio do Tratado de Madri de 1750, que, em última análise, acabou beneficiando territorialmente o Brasil. O princípio jurídico com o qual a diplomacia lusitana defendia seus interesses era oriundo do direito privado romano:  Uti possidetis, ita possideatis (“como possuís, assim possuais” ou “quem possui de fato, deve possuir de direito”)[16]. Era a ferramenta jurídica de direito internacional, utilizada para determinação de soberania territorial de uma metrópole sobre uma área colonial. Mecanismo, aliás, muito bem manuseado pelo brasileiro Alexandre de Gusmão, defensor dos interesses lusitanos, para o estabelecimento de limites, fronteiras e soberania sobre os territórios conquistados por Portugal.

 A Era Pombalina

Período histórico que se estendeu de 1750 a 1777 e se transformou num divisor de águas para a História do Brasil, pelo conjunto de consequências decorrentes das reformas empreendidas pelo Marques de Pombal, destacado representante em Portugal do despotismo esclarecido. O escritor maçônico João Ivo Girardi, na enciclopédica obra “Do Meio Dia à Meia Noite – Vade-Mécum Maçônico”, a respeito desse importante fenômeno político europeu do século XVIII, corolário das ideias iluministas, assim se manifesta:

Inspirados pelo racionalismo iluminista, os déspotas esclarecidos limitam o poder da Igreja Católica, reduzem privilégios da aristocracia e do clero, centralizam o poder, favorecem o progresso econômico e estimulam as artes e as ciências.

O ministro plenipotenciário de Portugal, Marques de Pombal, se enquadra perfeitamente na definição acima. Ainda que tirano, tendo efetivamente governado com mão-de-ferro, o alcance de suas reformas, confere ao Marques o crédito de ter sido um dos maiores nomes da história portuguesa e, via de consequência, porque éramos colônia de Portugal na época, da história do Brasil. O popular historiador Eduardo Bueno, na primeira edição da ilustrada obra “Brasil: Uma História”, sintetiza com maestria a figura do Primeiro-Ministro de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo:

Embora despótico e cruel, logo assumiu o controle da nação e, mesmo empregando parentes e distribuindo propinas, foi um administrador ativo e eficiente.

A descrição trazida pelo carismático historiador gaúcho nos remete com segurança ao arquétipo do brasileiro investido de autoridade pública. A tradição sub-reptícia é longeva. Caminha, por meio de carta, já praticava o nepotismo, Pombal era um corrupto eficiente. Lembra um antigo político paulista, cujos eleitores bradavam: “rouba, mas faz”. Felizmente, a sociedade contemporânea brasileira de tanto ser vilipendiada, explorada e mantida à margem do poder, vai aprendendo.

Efetivamente Pombal foi um administrador público destacado. No conjunto de sua obra, como chefe do governo português por quase três décadas, algumas medidas mudaram a história e a cultura para sempre. Inicialmente, cabe registrar que, nesta segunda metade do século XVIII, nesses tempos pombalinos, a maçonaria brasileira, eminentemente executiva, está em formação em Londres, Coimbra e Montpellier, com a presença dos jovens estudantes brasileiros (os “bem-nascidos”, porque a maioria da população era miserável e iletrada, sequer tendo noção desta possibilidade) nas universidades europeias, verdadeiros centros de propagação dos ideais iluministas de racionalismo, ilustração e exercício da cidadania. Vale reiterar que, enquanto na Europa os anseios iluministas exigiam direitos pessoais e sociais, na periferia colonial, destaque para o continental Brasil, o ideário do Século das Luzes vinha entranhado com o desejo de emancipação política e liberdade econômica, ou seja, vinha impregnado do ideal de independência, com a ruptura do colonialismo político e o fim do Pacto Colonial. Daí, decorre o caráter executivo da maçonaria brasileira em seus primórdios nas terras tupiniquins[17].

Pombal foi um competente administrador. Assumiu como desafio maior o desenvolvimento de Portugal, diminuindo paulatinamente a dependência econômica em relação à Inglaterra. As colônias, principalmente o gigantesco Brasil, foram “ativos” fundamentais nesse processo. Consciente da mudança do centro econômico brasileiro dos canaviais nordestinos para a região das minas de ouro e diamantes, já que as esmeraldas eram meras turmalinas, Pombal transferiu a capital da colônia, de Salvador para o Rio de Janeiro. Com isso, indiretamente, estimulou o desenvolvimento da maçonaria executiva no Rio de Janeiro, que atingiu a apoteose do desejo de emancipação política na histórica Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro, a partir da qual foi criada a primeira Obediência efetiva em nossa história, o Grande Oriente do Brasil, e realizado o processo de Independência do nosso país.  As reformas pombalinas também foram profundas e consequentes no Brasil. Aqui, Pombal impôs o uso do idioma português, proibindo a utilização da língua popular, o “Nheengatu”, com acentuada influência do “Tupi”. Por outro lado, proibiu a escravização de indígenas. Além disso, num de seus atos mais significativos para a História do Brasil, no âmbito do direito tributário, instituiu a “Derrama”, cujas consequências em Minas Gerais todos conhecem. Em seu governo, no afã de municiar a diplomacia portuguesa de elementos garantidores do direito de posse sobre as áreas coloniais, instituiu Academias. Em 1759, na Bahia, foi criada oficialmente a Academia Brasílica dos Renascidos, de duração efêmera, mas indubitavelmente importante para a compreensão do movimento academicista; importante para compreender o fato de que as academias não eram Lojas Maçônicas, embora, com o tempo, tenham se tornado centros de discussão de ideias maçônicas e os historiadores pernambucanos, a quem devemos considerar, afirmem, uníssonos, que o Areópago de Itambé era uma Loja maçônica. O maçom Manoel de Arruda Câmara bem que o queria.

Déspota Esclarecido, Pombal se debruçou sobre a atuação monopolística e retrógrada da Companhia de Jesus no campo da educação. O Marques pretendia oferecer aos filhos de Portugal e, nas colônias, aos filhos de portugueses, uma educação de melhor nível e adequada à realidade do século XVIII. Os Jesuítas dominavam a educação no Brasil desde Nóbrega e Anchieta, e na Era Pombalina tinham no Brasil 20 colégios, 12 seminários, 1 colégio feminino e 1 convento. Na visão iluminista do esclarecido autocrata Marques de Pombal, a pedagogia jesuítica caracterizada pela decoreba da gramática latina e pela ideologia escolástica, há muito não era mais adequada às necessidades do Reino. Os jesuítas foram expulsos, os colégios fechados. Pombal institui a educação laica, como deve ser entre povos minimamente civilizados. Escola num prédio, igreja noutro prédio, governo num terceiro prédio. É só estudar o exemplo dos países luteranos, como a Noruega, aprender e executar!

Caríssimo leitor, expresse sua análise crítica, ou correção a erro, por qualquer meio comum e também pelo e-mail marcelolufiego@yahoo.com.br e obrigado pela leitura até aqui.

 

[1] Na acepção do Dicionário Escolar da Língua Portuguesa da ABL e não no sentido do jargão socialista.

[2] Com raízes no século XVII, o Iluminismo atinge o fastígio de seu desenvolvimento no século XVIII, o Século das Luzes. Os ventos do Renascimento Científico foram fortes, mas não o suficiente para afastar de vez as trevas legadas à Idade Moderna pelo pensamento medieval. A partir da apoteose do Iluminismo, a certeza só pode vir da matemática e a matemática para fazer sentido, precisa ter uma aplicação prática, que leve ao desenvolvimento da sociedade humana. Contrapondo-se ao pensamento escolástico com suas explicações metafísicas eivadas de teologia, no Iluminismo as explicações são físicas, primando pela razão.

[3] Luís XVI, segundos antes de cair a lâmina da guilhotina, que o diga!

[4] O patrono da Loja é alemão, mas o maçom citado é francês . . .

[5] Meritocracia que multiplica a riqueza e não divide o pouco para igualar a pobreza e subordinar o cidadão ao Estado. Meritocracia que premia a liberdade, o individualismo, a disciplina econômica permitindo o desenvolvimento social, ainda que a sociedade tenha que convier com pobres e miseráveis. A missão da maçonaria é diminuir o número dos hipossuficientes em direção à utopia da sociedade capitalista sem pobres e miseráveis.

[6] Déspotas Esclarecidos.

[7] Os que eram dependentes de suas ricas famílias, não podiam assumir ostensivamente o ideal abolicionista, então atuavam juntando dinheiro para financiar Cartas de Alforria anonimamente, ou pelo menos sem o conhecimento dos familiares, principalmente da autoridade paterna.

[8] . . . que, se quiserem, também poderão empreender. Esse aspecto é revelador. No sistema capitalista, considerando uma sociedade desenvolvida, com escolaridade como fundamento social, a ideia de classes opostas é relativa, pois qualquer um pode realizar o “sonho . . . “ diga você, nobre leitor: cubano, venezuelano ou (norte) americano?

[9] O mesmo que maçoanria.

[10] Excepcionaria, mas deixo para o leitor decidir, a Guiana Francesa, que não é independente, mas também não é colônia e, pasmem caboclos do gigantesco Brasil, faz parte da União Europeia. Diria que, atualmente, com o pessoal do Presidente Putin na Venezuela assessorando o Presidente Maduro, a Europa é aqui! Parece que os enxadristas russos estão ajudando no setor de caça e pesca. Na agricultura também, com aviões de pequeno porte para pulverizar as plantações. Coisas assim, como o repasse desinteressado de tecnologia na área de produção de jogos de Xadrez. O que para o Brasil é excelente, pois tem logo na sua fronteira amazônica toda essa riqueza humanitária e enxadrística.  

[11] As principais Metrópoles eram Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda; todos países voltados para o Oceano Atlântico.

[12] Alemanha e Itália, ainda muito longe de suas unificações, não participaram do sistema colonial tradicional, só obtendo colônias na África muito tempo depois, no âmbito do processo histórico que ficou conhecido como neocolonialismo[12]. Citando dois exemplos amplamente conhecidos, a Alemanha subjugou a Namíbia e a Itália a Líbia, mas este é um outro contexto histórico.

[13] José Alvares Maciel, Cipriano Barata, Manuel de Arruda Câmara, Domingos José Martins, Frei Caneca, Padre Roma, José Bonifácio, Pedro de Alcântara, José Clemente Pereira, Gonçalves Ledo, Januário da Cunha Barbosa, Hipólito da Costa, Padre Miguelinho e muitos outros.

[14] Não olvidemos a Guerra Luso-Holandesa, da qual a Insurreição Pernambucana, com a expulsão dos holandeses do Brasil, foi um dos principais capítulos.

[15] Segunda metade do século XVI. O principal ataque que sofremos se deu em 1595 com a devastação do Recife pelos piratas de James Lancaster. Insisto no termo “piratas”. Corsários eles eram para os ingleses, para os pernambucanos foram piratas mesmo, bandidos que saquearam, estupraram, incendiariam e mataram os brasileiros durante quase um mês de inferno.

[16] Princípio jurídico, originário do direito privado romano, brilhantemente defendido pelo brasileiro Alexandre de Gusmão, embaixador e secretário do Rei de Portugal, D. João V, por ocasião do Tratado de Madri de 13 de janeiro de 1750, por ele redigido, reformando o antigo Tratado de Tordesilhas. Recebemos os territórios correspondentes ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e Amazônia, “sertões” distantes desbravados pelos intrépidos Bandeirantes e que, por isso mesmo, couberam a Portugal, pelo direito de posse.

[17] Lastimo que sejamos tupiniquins e não tupinambás. Quanto mais leio sobre a Confederação dos Tamoios, primeiro movimento nativista da história do Novo Mundo, de norte a sul, mais fico me perguntando se não teria sido melhor que hoje todos estivéssemos falando francês como língua-mãe. Infelizmente, os traidores Arariboia e Tibiriçá cooptados pelos agentes secretos Nóbrega e Anchieta, com os arcabuzes lusitanos a seu favor, dizimaram pelo ferro, pelo fogo e pelo vírus do sarampo e da varíola, a saudosa nação Tupinambá, os “pais dos nossos avós”. Pessoalmente, entre Mem de Sá e Villegagnon, se fosse obrigado a escolher, ficaria com o francês sem titubear, consciente de que mais tarde também teria que me livrar dele. Neste diapasão, entre os caciques traidores, antes referidos, Tupiniquins e Temiminós, aliados aos perós, e o Cacique Tupinambá, que se comunicava telepaticamente com a onça-pintada e adentrava todas as tabas batendo um dos pés no chão, lutaria pelo último com os olhos bem abertos para lhe dar a vitória e salvar o querido Brasil deste destino onde a palavra tupiniquim, deixou de ser nome próprio para virar adjetivo, com o significando de “ruim”, “incompetente”, “serviço mal feito”, “trânsito desastroso”, “voto mal dado”, todos os “ismos” e todo o azar de coisas ruins.

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