A cantiga de Natal (Sueli Brandão)
A cantiga de Natal
Sueli Brandão
Minha mãe tinha uma casa grande, e ao seu lado diversas casa menores que eram alugadas. Um dos inquilinos era um senhor muito reservado, baixo, de cabelos grisalhos e de olhos tristes. Passava por nós e não cumprimentava, nem falava com ninguém da vizinhança.
Eu tinha muita curiosidade de saber de onde vinha, será que era de Minas Gerais? Nem sei onde ele trabalhava.
Minha mãe sempre nos recomendava que não devíamos nos interessar pela vida dos outros.
Eu gostava de conversar com os vizinhos e conhecia todos da minha rua.
Gostava muito da Lourdinha que fazia e vendia doces. Eu ia à sua casa todos os dias e até ajudava a mexer o grande tacho de cobre em que ela fazia os doces.
Nos meses de dezembro, ficávamos preparando os festejos de Natal. Eu sonhava com o Papai Noel, e nos preparativos montava a árvore de Natal e a decorava com algodão para imitar a neve e com bolas de Natal muito coloridas para alegrar e iluminar os nossos sonhos.
O dia amanheceu com sol e calor. Já preparava a minha roupa para a ceia de Natal, pois nesse dia dormíamos mais cedo para que Papal Noel pudesse passar e deixar os nossos presentes.
Ouvi uma música; prestei mais atenção, fui para a janele e ouvi:
Papai Noel, vê se você tem/ a felicidade pra você nos dar…
Eu pensei que fosse filho de Papai Noel…
Sempre fui obediente/ eu mereço um bom presente
Bem bonito lá do céu.
O violão era tocado com muita qualidade e era quase um gemido. A voz clara e melodiosa.
Fiquei pensando e ainda hoje isso me intriga: de onde vem tanta saudade? É dos filhos, da esposa, ou será de pai e mãe?
Eu pedia ao Papai Noel: conforte e atenda os pedidos daquele senhor.
Que no Natal ele consiga estar com os que ama.