A melhor coisa do mundo

   Schutz pertencia à categoria empresarial ascendente. Depois da Escola Técnica, de cursos no Senai, de vários empregos, nos quais não se adaptou, partiu para a sua própria empresa, havendo tirado a sua ideia de uma revista Stern, alemã.

   Passou a produzir, “em fundo de quintal”, algo destinado ao turismo e ao lazer.  Empresa de fundo de quintal é aquela em que trabalham os familiares, alguns vizinhos, clandestinamente, sem recolher tributos, nem contribuição social e, por isso, cresce tão rapidamente. Antiga a tradição e a raiz de tantas, até multinacionais.

   Com Schutz não foi diferente. Aliando talento, disposição e algum dinheiro de FGTS, nos acordos realizados com as empresas em que laborou, conseguiu o quase impossível, que foi produzir e vender o seu primeiro produto, que se revelaria um sucesso daí em diante. Encontrara o veio aurífero.

   Rapidamente os filhos adolescentes se integraram à novel indústria de fundo de quintal e ela, consequentemente, se desenvolveu, exigindo, mesmo, mão de obra de fora da família. Alguns mestres já aposentados, com muita experiência e necessitando de um suprimento mensal de verba, vieram colaborar, a fim de ser atendida a grande demanda.

   Afinal, estávamos entrando no milênio da informação e do lazer. E aquele artigo era de grande utilidade, para um e outro.

   A procura do mesmo obrigou a regularização da empresa. E, via de consequência, a adesão à sua entidade classista, de resto, muito forte na cidade e na região.

   Foi através dela que lhe veio o convite para participar do primeiro voo do Bandeirante para S. Paulo. Uma evolução! Dois voos diários de ida e volta.

Bandeirante era aquele avião em que se entrava passageiro e se saia sobrevivente. Só oferecia três momentos de risco: quando levantava voo, quando estava voando e quando pousava. No solo, nunca se soube de qualquer acidente. Mas, era possível…

   Ir pela manhã e já estar de volta à tarde, livrando-se das despesas de hospedagem, alimentação, transporte urbano. Uma sopa!

Schutz aceitou, meio a medo, o convite, pois seria a sua primeira viagem aérea.

   No dia aprazado, a família o foi levar ao aeroporto, onde se encontrou com os demais colegas empresários, igualmente participantes do voo inaugural.

   Logo, em fila, os convidados subiram à nave e foram colocados em seus lugares, previamente reservados.

   Verificada a presença de todos, teve lugar o procedimento de subida, com as orientações dadas pelas aeromoças, às quais – ambas – prestou muita atenção.

   Não queria perder nada para poder contar em casa, ao retorno. Ouvidas as instruções sobre salvamento, que lhe deu um frio na barriga, teve início o serviço de bordo com cada qual recebendo uma caixinha com água mineral, sanduíche, bombom e lencinho de papel.

   Por razões inexplicáveis, teve uma sede enorme e inesperada, obrigando-se a beber mais do que copinho da mineral. E sentiu a bexiga encher-se sem saber onde, a bordo, poderia esvaziá-la. Como se faz, quando se está apurado durante o voo? Mas calou-se, constrangido de buscar resposta. E aguentou firme, suportando o aperto crescente.

   Tão logo desembarcou, buscou no seu cicerone aquela resposta.

   – É ali, naquele fim de corredor. Pode ir que o esperaremos, aqui.

    Schutz foi direto e certo, mas não esperava aquela multidão desaguando. Havia fila! Entrou nela, espremendo-se e aguardando a sua vez, que custou a chegar.

   Quando, finalmente, chegou diante do mictório, e se pôs a satisfazer a brutal necessidade, disse de si para consigo:

   – Não tem coisas melhor no mundo do que urinar, quando se está apurado…

   O do lado, que já abotoava a braguilha, virou-se para ele e exclamou:

   – Das duas uma, meu camarada, ou você nunca soube urinar ou você nunca transou.

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