Ac. Ronald Fiuza leu “Impérios”, de Jane Burbank e Frederick Cooper

 

Impérios

 

A História Universal não está sendo construída por países e seus dirigentes. A História sempre foi forjada pelos impérios e seus comandantes.

O livro “Impérios”, de Jane Burbank e Frederick Cooper nos mostra que o que nós hoje conhecemos como país, o “Estado-nação”, com seu povo, suas fronteiras e sua soberania é uma estrutura social recente, de cerca de 70 anos. Antes, eram os impérios que definiam os acontecimentos. O livro mostra que a noção de que o Estado-nação como natural e inevitável é desafiado pela predominância marcante dos impérios ao longo do tempo.

Os autores definem impérios como “grandes unidades políticas expansionistas, com regimes que mantêm distinções e hierarquias ao incorporarem outros povos”. Por outro lado, o Estado-nação se baseia na “ideia de um único povo em um único território, com comunidade política também única.

Começando pelo Império Romano e pelas dinastias chinesas, as quase 700 páginas do livro percorrem mais de dois mil anos de História, incluindo os bizantinos, a idade média da Europa de Carlos Magno, chegando aos mongóis, aos otomanos e aos austro-húngaros. Percorre a conquista (e depois queda) europeia das Américas, passa por Napoleão, pelos massacres entre os impérios nas guerras mundiais e se dedica especialmente ao nascedouro e desenvolvimento dos impérios russo e americano. Termina pela independência das colônias europeias da África e Ásia.

Os impérios se relacionavam uns com os outros de maneira amigável ou inimiga. A guerra entre eles mudava o mapa do mundo durante séculos (Império Romano) ou mesmo durante poucos anos (Alexandre, o Grande). Os autores mostram as reações às conquistas, tanto dos povos vencedores como dos vencidos.

Um aspecto avaliado com detalhe é a política de integração que os conquistadores impunham aos conquistados, os limites da exploração, o nível de tolerância às diferenças étnicas, religiosas e sociais, a assimilação cultural, as permissões e proibições. São apresentadas as possibilidades e dificuldades causadas por cada estratégia de dominação, das mais permissivas às mais truculentas.

Os povos dominados podiam se organizar como colônias, protetorados, domínios ou regiões semiautônomas. Em cada caso os autores avaliam a situação do império dominador e como se dava sua expansão, o estilo de suas lideranças e as dificuldades na construção das novas fronteiras. Salientam as motivações das conquistas, sejam aquisição de riquezas, acesso a matérias primas, questões étnicas ou religiosas, ou simplesmente situações estratégicas ou de poder.

Surge finalmente a compreensão do alto preço moral e de recursos que era pago pelos colonizadores. Aí começa finalmente a ser aceito o conceito de nação-estado, com seus direitos, sua soberania e seus limites.

É um livro premiado e é mesmo interessantíssimo, pois nos faz repensar a História que conhecemos e compreender as situações de maneira bem mais abrangente. Seu nível de detalhe pode torná-lo pesado para os iniciantes, mas quem gosta de História verá inúmeras peças se encaixarem no seu quebra-cabeças.

 

Ronald Fiuza

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