Ac. Alessandro leu “O estrangeiro”, de Camus
Camus, Albert. O Estrangeiro. Coleção Os Imortais da Literatura Universal, Editora Abril Cultural: 1ª Ed. 1972.
O ESTRANGEIRO
“Compreendi, então, que um homem que houvesse vivido um único dia poderia sem dificuldade passar cem anos numa prisão.” (Pgs. 83,84).
Albert Camus foi um escritor, filósofo, romancista, dramaturgo, jornalista e ensaísta, nascido em 1913 na Argélia francesa. Conhecido por uma corrente interpretativa do Existencialismo, definida como “absurdista”, que explora a falta de sentido aparentemente aleatória da vida.
Camus possuía grande apreço em escrever romances, nos quais utilizava a literatura como forma de filosofia. As obras deste autor geralmente refletiam as condições sociais da humanidade na época em que vivia, sendo muito relevante em dias atuais. Temas que ainda assolam o mundo, nos mais diversos contextos, como o sentido da vida, a solidão e o autoritarismo. Podemos ver presente em nossos dias, em época de Pandemia (vírus chinês), ações flagrantes de autoritarismo, com ilegalidades e arbitrariedades exaradas por Suprema Corte e também por parte de alguns Governadores e Prefeitos, ferindo no âmago liberdades e direitos fundamentais, em defesa velada de uma guerra ideológica.
A obra, porém, é excelente. Prende a atenção desde o início. O personagem principal, Mersault, mostra-se uma pessoa em que tudo lhe é indiferente, pouco se apercebe da solidão em que vivia. A primeira parte, que começa com o enterro de sua mãe, se ocupa em mostrar que não lhe interessava crescer profissionalmente, em sua vida sentimental ou rotineira. Importava viver um dia após o outro, livre de qualquer sistema de valores. Recusa-se a simular sentimentos que não possui, recusando-se inclusive a chorar no funeral de sua mãe.
Adiante, uma situação que não dera causa, o transforma em possível criminoso. Em uma interpretação talvez um pouco forçada de minha parte, pude ver ali uma diferença conflitante entre árabes e franceses, o que nas entrelinhas pode denotar certa preocupação do autor com um tema inerente ao colonialismo reinante na época.
A segunda parte, a filosofia de Camus fica evidente quando questiona o conflito entre liberdade e castigo. Suas reflexões no cárcere, sobre a miséria humana (no caso da história contida no jornal velho debaixo da enxerga) e sobre o tempo merecem reflexão. Em algumas linhas mostra-se a triste realidade de que não importa quando nem o que você faça todos os esforços nos levará para o mesmo lugar, a morte. Então surge o questionamento, por que a vida tem que ter um sentido?
Ao final, um julgamento que se atém mais ao que o protagonista é do que no que fez, mostra bem o comportamento de Mersault frente à situação, onde derradeiramente as características da filosofia absurdista de revolta são reafirmadas, quando admite estar em um universo sem sentido e está feliz.
Livro sedutor. O li pela primeira vez quando tinha 18 anos, e certamente vale a pena ter em sua biblioteca.
Albert Camus nos brinda com outra maneira de ver a vida. A questão de concordar ou não é de cunho pessoal. A vida tem muitos sentidos e muitos significados, e cada um tem que descobrir o seu. Mesmo que este seja significado algum.
“Mal saiu da tipografia, O Estrangeiro (L’Étranger), de Albert Camus, teve o maior sucesso. Dizia-se e repetia-se que era “o melhor livro desde o armistício”. Entre a produção literária da época, esse romance era ele próprio um estrangeiro. Chegava-nos do outro lado da linha, do outro lado do mar; falava-nos do sol, nessa desabrida Primavera sem carvão, não como duma maravilha exótica, mas com a familiaridade cansada de quem o gozou bastante;” (SARTRE, 1968).
Vale a pena conferir também “O Mito de Sísifo”, onde o autor, de acordo com Sartre, dá o comentário exato de sua obra.
Alessandro José Machado
Joinville, 25 de julho de 2020.