Ac. Guerreiro leu “De vulgari eloquentia”, de Dante Aleguieri

“DE VULGARI ELOQUENTIA”

Fato recente ocorrido depois de trabalhar durante quinze dias para realização de palestra cobrindo período que vai de 1906 a 1930 contextualizando a Semana de 22 ( e cancelada sem maiores explicações) me veio à lembrança a letra do Ultraje a rigor ( 1983): A gente somos inútil, bem adequada ao modo como os intelectuais são vistos pelos comuns mortais.
Depois disso só me restou mergulhar na leitura de uma obra quem sabe inútil, a “De vulgari eloquentia” escrita por Dante Alighieri provavelmente entre 1303 e 1305.
Qual o interesse em ler esse tratado como apologia da língua vernácula ( para o baixo clero: a língua que se fala no dia-a-dia) em relação à língua erudita que em sua época era o Latim por ele considerado idioma artificial, perpétuo e incorruptível uma vez que era falado nas universidades, pelo clero e internacional na diplomacia.
Assim sendo para nós pobres intelectuais qual a validade e o interesse para os estudos literários contemporâneos?
Dante discute a questão da língua “natural” em oposição à língua “gramatical” que seria artificial defendendo o vernáculo contra a língua douta apoiada pelos mestres e magistrados por eles combatido uma vez que o vernáculo sofre mutações constantes introduzidas pelo linguajar comum. Por aí se vê a atualidade da discussão contemporânea na assimilação de termos de outras línguas, do Inglês por exemplo que é o substituto do Latim como língua universal criando por outro lado neologismos provindos da Economia e das novas tecnologias.
Dante voltava sua atenção às famílias linguísticas eslávica, germânica e românica colocando-as ao lado das italiana, francesa e espanhola concluindo pela primazia da italiana pela proximidade à gramática latina e que por ser ela que origina as maiores poesias, forma máxima da literatura. Esperava-se que Dante defendesse o dialeto florentino como ápice mas ele vai além, para ele a língua vernácula vai além do regionalismo, é mais nobre por não ser exclusivo das cortes é falado e compreendido pelo povo. Assistimos dessa forma um desenho sócio-político da época recordando certas cenas do Inferno na Divina Comédia, De vulgari eloquentia é uma reflexão que ultrapassa a questão da linguagem, envereda pelo livre arbítrio e da arte da escrita que em sua época era rara, distinguia-se o auctor do autor em que o primeiro detinha conhecimento e cultura em relação ao segundo uma vez que a poesia era secundária em relação à filosofia; nisso ele propõe o Vernáculo como modo de alcançar formas de maior alcance para a poesia.
É uma obra característica de um homem renascentista e, curiosamente escrita em Latim o que parece paradoxal para quem defendia o Vernáculo, contudo última forma para ser divulgada e chegar até nossos dias.
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