A propósito do aniversário de Joinville (Raquel)

A PROPÓSITO DO ANIVERSÁRIO DE JOINVILLE

MEMÓRIAS DE UM TEMPO BOM E PRODUTIVO

O texto abaixo – Promessa de Vida –  escrito por mim, consta do “folder” publicado na então (e saudosa) Fundação Cultural de Joinville, contendo a programação dos festejos dos 136 anos da fundação da Colônia Dona Francisca em 1987, quando eu exercia as funções de Diretora do Arquivo Histórico de Joinville.

Foi um tempo de intensa movimentação cultural quando a Fundação Cultural de Joinville fundada em 1982 no governo de Luiz Henrique da Silveira, um órgão de apoio à cultura e independente.  A intenção foi incentivar artistas, escritores, artesãos, músicos, enfim àqueles chegados ao fazer cultural a realizar suas obras e movimentar a cidade trazendo alegria com suas produções e não apenas a contemplação do que era produzido fora da cidade.

Lembro com saudade da dinâmica e alegria que tomou conta da Praça Nereu Ramos, onde foi inaugurada a Feira de Arte e Artesanato; também ali poetas montavam varais literários e declamavam suas poesias, artistas plásticos expunham suas obras, músicos animavam a festa. Eu não perdia um sábado.

Em Joinville, São Francisco e São Bento do Sul, um convênio entre a UNIVILLE, as respectivas prefeituras, a Universidade Federal de Santa Catarina e o então SPHAN permitiu a realização do valioso Inventário que resultou no tombamento do Centro Histórico de São Francisco do Sul. Coordenei a parte de Joinville e São Francisco do Sul pela UNIVILLE. Um trabalho exaustivo, em finais de semana, porém prazeroso.

PROMESSA DE VIDA

“É um passo, é uma ponte,

É um sapo, é uma rã

É um resto de mato

Na luz da manhã

São as águas de março

Fechando o verão

É a promessa de vida

No teu coração…”

Dir-se-ia que Tom Jobim inspirou-se na saga do nosso imigrante para escrever “Águas de Março”, aliás, um março bem posterior ao de 1851, após o que quê muitas águas rolaram.

“E a promessa de vida

No teu coração”

Promessa que foi cumprida pelo sacrifício, perseverança e coragem dessa gente que, mesmo na incerteza do futuro, construiu Joinville.

“É a promessa de vida

No teu coração”

Promessa que ainda está sendo cumprida à  medida que  a  preservação da memória  histórica e dos bens culturais  são características marcantes da comunidade joinvilense.  Por si só é uma promessa de vida. É vida preservar os bens culturais; é vida preservar a memória histórica; é vida lembrarmos com carinho os pioneiros desta terra.

O dinamismo econômico de Joinville se confunde com a dinâmica cultural. Ao lado das grandes empresas e casa comerciais, surgiram, da década de 1950 em diante quatro museus, além da Casa da Cultura, Casa da Memória e o Arquivo Histórico, dando vigoroso corpo ao “élan” cultural da cidade. Estas instituições estão em constante atividade, mobilizando os intelectuais e a comunidade joinvilense em torno das artes e da história numa ciranda que acaba envolvendo a esfera federal, em benefício dos valores culturais de Joinville e região. O SPHAN (Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) há quatro anos iniciou e atualmente está concluindo o Projeto Inventário das Correntes Migratórias.  Envolvendo universitários e comunidade, o SPHAN atua há precisamente 50 anos por este Brasil afora, pesquisando e preservando cidades e monumentos históricos.

O imigrante e seus descendentes que fizeram Joinville é tão importante que o SPHAN inventariou tudo o que ainda resta dos seus móveis, imóveis e utensílios. São relíquias históricas que devem ser preservadas na medida que despertem consciência histórica em nossas crianças e jovens. Foi com o imigrante que tudo começou. Foi com seu descendentes e luso-brasileiros que Joinvile conheceu a maturidade. E é da sua juventude que se espera a plenitude de uma comunidade próspera e feliz, identificada com suas coisas, com suas raízes.

É promessa de vida

No teu coração.

Esclarecimento aos críticos – Quando me refiro que tudo começou com a chegada dos imigrantes em 1851, refiro-me apenas à Colônia Dona Francisca, empreendimento alemão da empresa Sociedade Colonizadora de Hamburgo. Nesta época, nas imediações da Colônia havia significativa população de luso-brasileiros e caboclos em terras pertencentes ao Município de São Francisco do Sul. Esta população mais tarde agregou-se a Joinville e muito contribuiu para seu desenvolvimento.

Raquel S. Thiago

COMPARTILHE: