Ac. Guerreiro leu “Nascido do crime”, de Trevor Noah

Criar um título para um livro é algo decisivo para atrair o leitor e foi o que fez Trevor Noah ao colocar “Nascido do crime”, a perplexidade entre os pronomes do e no, e do porquê. Não sou adepto de autobiografias, entretanto esse livro relatando num olhar pessoal o fim do apartheid na África do Sul foi uma revelação. O título advém do nascimento de seu autor como resultado de um crime, uma vez que pelas leis então existentes eram terminantemente proibidos relacionamentos íntimos interraciais gerando sérios problemas que ele os coloca de forma crua, de início pelo olhar de uma criança, depois adolescente e finalmente adulta, algo abordado de passagem, podendo ser visto como um romance de formação conduzido com humor ao descrever sua própria realidade nos desvendando o comportamento, a sociedade e as leis criadas para alimentar o ódio inter tribal, dividindo populações pelas linguagens num diálogo impossível, uma estratégia de dominação colonial. Coexistem a extrema pobreza, a violência doméstica, o crime como organização cuidando dos jovens ( o que nos leva à realidade brasileira) numa frase bem colocada: o crime não descrimina.
Uma obra de leitura fácil, cada capítulo antecipado por uma breve descrição da realidade histórica e de um desafio para o autor, como contar a falta de pertencimento através de sua própria vida de um mestiço, de um coloured na classificação governamental, não sendo aceito nem pelos brancos nem pelos negros, chegando ao absurdo de além dos coloured existirem as categorias de indianos, chineses classificados como “quase negros”, e japoneses “quase brancos” pelo interesse nas importações de automóveis e eletro-eletrônicos!
A figura materna dá o tom do livro, católica fervorosa educa o filho com rigor e em certo momento, devido a uma travessura acredita ter ocorrido um malefício, uma bruxaria ( onde se vê que a superstição sobrevive à religião) e convoca um grupo de orações para afastar o demônio.
Uma obra que recomendo, trará aos leitores de maneira prazeirosa
conhecimento sobre o colonialismo e a história bem recente do país mais adiantado economicamente do continente africano.

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