Ac. Guerreiro leu “O homem que confundiu…”, de Oliver Sacks

O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, de Oliver Sacks
A neuropsicologia dita uma das Neurociências no estudo dos mecanismos neurais em toda sua complexidade é abordada pelo neurologista e psiquiatra Oliver Sacks sobre quando surge a consciência na passagem do sistema sintáctico para o semântico. O instigante e curioso título se refere a um dos casos abordados , um de agnosia visual no qual todas as capacidades de representação e imaginação, o senso do concreto e da realidade são perdidos.
Dentre as chamadas ciências Psi que compreendem a Psicanálise, Psiquiatria e Psicologia no estudo das patologias mentais o autor deixa claro desde o início que as patologias são déficits, deteriorações de funções neurológicas expondo através de estudos de casos clínicos o ser essencial que busca se comunicar. Reside aí meu interesse voltado à poética do mundo, verdades condensadas em obras artísticas, signos que irei interpretar através dos instrumentos adequados das ciências Psi como no relato do caso que dá título à obra, um approach que vai além das causas funcionais abordando seu mundo interior, reminiscências e sonhos.
O senso dramático das narrativas como manifestações das atividades conscientes e proto-conscientes surge, por exemplo, ao citar os ataques epilépticos de Dostoiévski encarados por ele mesmo como “portais” para seus insights literários. Surgem assim casos de recordações involuntárias de pacientes terminais, de repressões totais da memória e do renascer da consciência, do uso clínico da Levodopa e do Haldol com bons e maus resultados .
De interesse abrangente são os casos de deficientes mentais e de autistas em que podemos ver um tipo de mente que existe no extremo oposto da mente generalizante, capaz de viver não em um universo porém em um “multiverso” de detalhes exatos e intensos.
Nas palavras de William James: ” o absurdo, o categórico não são do interesse da pessoa autista, o concreto, o particular é tudo”.
Esse é o caso do paciente autista José P. que imerso na visualização do gramado da clínica depois desenha um dente-de-leão com precisão de ilustração botânica, e que me remete às palavras do crítico de arte John Ruskin : “A natureza pinta para nós, dia após dia, quadros de infinita beleza se tivermos olhos para ver”…
Resenha de Walter Guerreiro
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