Ac. Hilton leu “Tartarin de Tarascon”, de Alphonse Daudet

 TARTARIN DE TARASCON – Alphonse Daudet (1840-1897)

 Resenha de Hilton Görresen

O cinema tem nos acostumado a vibrar com os feitos de heróis infalíveis. Alguns, é verdade, passam por maus momentos nas mãos dos inimigos, mas acabam alcançando a vitória.  Isso, é claro, não reflete a nossa realidade, a realidade de pessoas comuns. O que faria você diante de dois ou três bandidos armados? Ou no fundo de uma cova com um tigre faminto? Por essas e outras é que admiro o anti-herói, aquele mais próximo de nós, com seus medos e anseios. O herói mais humano. É o caso da divertida obra de Alphonse Daudet – “Tartarin de Tarascon”. Trata-se da obra mais conhecida do autor, ao lado de “Cartas do meu moinho”.

Tartarin é um personagem que apresenta uma seriedade cômica. É considerado um grande caçador de feras, embora nunca tenha se deparado com nenhuma delas. Fama conseguida em vista de suas histórias e sua coleção de armas e troféus, tirados não se sabe de onde. Nunca havia saído de Tarascon, cidadezinha na Provença, sul da França. Nele existiam dois Tartarins: o Tartarin-Quixote e o Tartarin-Sancho, que impunha um limite terreno aos seus sonhos de aventuras.

Pressionado pela opinião pública, coisa que também existia na pequena cidade de Tarascon, parte para o norte da África a fim de caçar os temíveis leões. Só de ver o embarque de sua bagagem bélica todos ficam impressionados. Coitados dos leões da África! E aguardam, embevecidos, sua volta triunfal.

Acontece de tudo ao pobre Tartarin: é enganado por um vigarista, roubado, perde a preciosa bagagem; só não consegue encontrar a temível fera. E ai dele se encontrasse, não é mesmo? Ao final, consegue atirar em um leão velho e cego. Será que acertou o tiro ou o leão morreu de velhice mesmo?

Frustrado, volta à sua cidadezinha carregando a pele da fera. Aliás, já a tinha enviado anteriormente. Mas qual a diferença entre a pele de um leão velho e doente e a de um terrível matador? Seus conterrâneos, empolgados, saúdam-no como herói. Sua fama de grande caçador é multiplicada.

Uma coisa dessas costuma acontecer muito, não é? Quantos falsos caçadores nos aparecem com uma pele de leão doente e são acolhidos como grandes heróis!

A obra se constitui numa sátira, colocando em ridículo, não sabemos por que, os habitantes da região, como na divertida passagem da “caça aos bonés”, esporte praticado pelos tarasconenses, na falta de animais nas redondezas.

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