Ac. Nelci Seibel leu “Os Garotos de Veneza” (Luca di Fulvio)

 

OS GAROTOS DE VENEZA

(Luca di Fulvio)

 

O autor italiano Luca di Fulvio foi persistente. Em mais de 700 páginas descreve a forma de vida e o comportamento das pessoas do submundo de Veneza, – hoje uma das cidades mais veneradas pelos turistas de todo mundo. Entre os séculos XVI e XVII era povoada por miseráveis, doentes, ladrões, trapaceiros e impostores, em que o sangue de uma facada não significava mais do que um arranhão de uma roseira. O nível da linguagem oferece ao leitor uma imagem viva das situações do dia a dia.

A elite, ou a aristocracia como se auto definiam não fugiam à regra, embora as expressões se ancorassem em mais enfeites linguísticos.

Os preconceitos tinham lugar de destaque entre as classes sociais. E o pior deles era a hostilidade dos cristãos contra os judeus que viviam na cidade e vice-versa. Num determinado momento, um príncipe, de cuja família fazia parte também o patriarca da Igreja Católica, determinou a criação de um “cercado” para os judeus, com moradias pequenas e apertadas, rodeado por muros e portões para entrada e saída, além de uma série de restrições intolerantes e injustas. Obrigados a usarem barretes amarelos na cabeça, eram alvo de zombaria e gozação dos demais habitantes. À noite os judeus ficavam trancafiados nesse círculo, denominado “gheto”, o que só fazia aumentar o ódio e o rancor entre uma e outra casta.

Também a “Santa Inquisição”, o terrível conselho da Igreja Católica Apostólica Romana, que julgava pessoas acusadas de bruxaria, mais intensa, é claro, quando se referia a judeus, funcionava a pleno vapor em Veneza. E o povo, em sua santa ignorância, torcia por um espetáculo, por mais funesto e macabro que fosse, e se reunia em multidões nos locais em que tal fosse acontecer.

Bem escrito, fácil leitura, porém temas densos, pesados e desagradáveis.

 

Nelci Seibel

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