Postai de Souza (Marinaldo)

TEXTO PRESENTE PARA POSTAI DE SOUZA

Marinaldo de Silva e Silva

 

Ficção? Realidade? Empiria? Poesia? História? Miscelânea? Narrativa? Discurso? Invencionice? Criação? Relato? Fato? Feito? Culpado, injustiçado, suspeito? … Tive que ler alguns textos que Postai postou, entre hoje e ontem, para entender que, a brincadeirinha que acabei de fazer – “Postai, postou” – já foi argumento num de seus contos, o Doutor Engraçadinho, que, entre processos e juntadas, argumentava que o melhor da vida era rir de si mesmo!

1998. Um adolescente de 16 anos escrevia sua carta – segundo ele, uma missiva – para o Jornal A Notícia, argumentando sobre a vinda da montadora Ford para Joinville, que disputava com Camaçari, na Bahia, a instalação aqui de seu parque industrial. Não encontrei o texto, a crônica expressa pelo garoto, mas soube do contexto de suas preocupações: a migração, o despreparo da cidade para receber tanta gente, os choques culturais, talvez até uma espécie de medo de desestabilização de um determinado status quo… O garoto extremamente tímido, que vivia num mundo a parte – segundo ele -, que tanto gostava da palavra e que encontrou na escrita um ímpeto para a realização da extrema vontade de se comunicar, publicava naquele 98, o registro do escritor que se transformaria! Um autor de contos, crônicas, artigos e poemas.

É tão bom reconhecer as histórias dos outros dentro das nossas histórias! É a prova da colcha de retalhos que somos, das coisas que somos feitos. Lendo Postai, eu encontrei um conto de fadas, jurídico! Eu já havia lido os contos de fadas por outra ótica, mas na narrativa dele eu encarei uma didática instrutiva, e divertida! Cinderela sem carteira assinada? João e Maria sem Conselho Tutelar? A Bela Adormecida, assediada? Branca de Neve… e 7 anões? Nem vou dizer no que pensei!, nesta indução Postaica! Na leitura de Preponildo Calado da Silva, um homem que não tem nada na vida a não ser aceitar, reconheci, de forma indireta, um dos maiores livros de todos os tempos: O Processo, quando o personagem, Joseph K., vai preso sem saber porque foi condenado.

A mistura de ficção com realidade constrói uma hipotética, e talvez verídica – creio que toda história é refém da literatura e toda literatura é cria da história – construção de uma realidade da fundação da nossa cidade, citando nosso príncipe e nossa princesa, eles na Europa, as alusões aos nomes de ambos às coisas que nos rodeiam, e as engraçadas casualidades que fez o Conde de Valsugana (https://academiajoinvilense.com.br/o-descobrimento-de-joinville-pelo-conde-de-valsugana-postai-de-souza/ ) para estar no meio da história do início do arquétipo do que somos, sem esquecer de que antes dos alemães, já éramos!

Postai, sem o conhecer, parece que o vejo em seu escritório. Se não mais tímido, ainda muito discreto, misturando termos jurídicos e palavras antigas em seus discursos, em suas missivas, em sua prosódia. Parece que o vejo, em 1998, levando o texto para o pai, esperando o seu olhar de orgulho, talvez saindo entusiasmado, porém comedido, para seu quarto, relendo tudo o que escreveu após ter recebido um abraço orgulhoso do pai, pensando no escritor que seria, ou no que escreveria após aquela catarse. Postai, sem o conhecer, entendo que traz para seu texto o seu cotidiano, outra prova de que toda literatura é cria da história, e em casos como este, da própria. “A inveja mata e a ignorância pena” vem de um de seus poemas. Talvez ele tenha pensado só num pássaro no momento da criação. Talvez sobre a própria prisão. Ou sobre um condenado.

Finalizando, reposto Postai para quem nunca o leu. Um trecho do poema que escreveu à luz da sombra, sobre a tarefa de ser quem é: “ …Continuo me escondendo/ Em poesias,  em manuscritos/ nos meus sonhos/ Cada um protagonizando sua própria história/ Filmada pelo Cotidiano e encenada uma única vez/ Sem ensaios, sem perfeição/ Os erros fazem parte do enredo/ E a tomada final de cada um/ Jaz em paz num suspiro último.

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