Ada, o indomável (Alessandro)

 

Ada, o indomável

Alessandro Machado

 

Hoje, sem motivo aparente, surgiu uma necessidade de abrir meu e-mail. Com as facilidades vindas com a modernidade, acabei por deixar de lado essa ferramenta que por muitos anos foi minha principal fonte de comunicação. Ainda em uso, com sua serventia, mas cada vez menos usada. Meu bom e velho hotmail, onde tenho uma ponta de satisfação, não sei o motivo, talvez nem tenha, de usar a minha primeira conta. As iniciais do meu nome, acompanhada do sobrenome. Um luxo que, hoje, pelos inúmeros usuários em todo o mundo, seria impossível conseguir.

Liguei o computador, aproveitando um raro momento de folga nas atividades profissionais, e fui direto ao meu e-mail. Caixa de entrada cheia. Começo a apagar as mensagens indesejadas, spans e recados antigos. Subitamente um sentimento de saudade invadiu meus pensamentos. Por anos a fio abria a caixa de entrada para ler as incontáveis histórias e descrições fantásticas de lugares e experiências do passado, sejam elas de Florianópolis, Joinville ou São Francisco do Sul. Narradas por ninguém menos que Ada, o indomável. E era indomável mesmo, passando por desafios e percalços que dariam um seriado televisivo. Sempre perspicaz, escritor incansável, publicou pelo menos um texto por dia durante anos. Muitos textos que na oportunidade não pude ler, guardava em um arquivo criado especialmente para isso. Não aguentei e fui lá.

Comecei a abrir os textos não lidos, um a um, ficando muitos e saborosos minutos lendo as palavras que o imortal indomável escreveu. O último que tenho, “Sambaquis e a ocupação do litoral brasileiro e Sul-Americano”, mostra um culto conhecimento histórico e arqueológico sobre as ocupações de nosso litoral há cerca de 5 mil anos. A data da postagem, 14 de abril de 2022. No dia 09 de abril de 2022 tinha o “Entulho” e a história de Beto Vintém. O último texto que li nesse dia, em mais uma coincidência fantástica, foi “Córrego Grande”, de 12 de dezembro de 2021, onde a personagem principal, Floresbela, cozinheira da Pensão Cruzeiro, ficou imortalizada em placa confeccionada pelo próprio Adauto, como homenagem a querida amiga de tantas recordações gostosas de sua infância. A coincidência a que me referi se deve ao fato de eu ter passado em frente ao Condomínio com a placa Floresbela da Silva, no bairro Trindade, da capital, e sorrir sozinho, em um suave calor de felicidade, por saber quem foi e ter comigo um pouco dela.

Ao mestre Adauto, minha continência e minha gratidão. O sentimento imortal de ir além da saudade, além da tristeza em abrir um singelo e-mail e não ter mais os seus textos, está presente em sua imensa obra e nos anais da história.

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