Casa das Revistas (Zabot)

CASA DAS REVISTAS

De hábito, nas manhãs de domingo, ouso frequentar banca de revistas; em Joinville a Casa das Revistas, no início da Max Colin, proximidades do rio Cachoeira. Márcia, simpática proprietária, extremamente atenciosa, não perde tempo, aponta as novidades: novas publicações. Atenta, acompanha o hábito dos leitores. As faixas etárias. Os novos lançamentos.  Faz isso com enorme alegria; percebe-se claramente. Constata: as novas gerações afastaram-se da banca. Seria a internet, o poder aquisitivo ou perda hábito da leitura? Ou pouco de tudo. Os livros estão caros, uma realidade. Algumas revistas de qualidade também.

Vez por outra por lá me deparo com personagens ilustres como Apolinário Ternes, historiador e membro da Academia Catarinense de Letras; Marco Antonio Bitencourt, engenheiro civil; e Bráulio Barbosa, médico amigo.   Neste caso a conversa avança, pois todos são aficionados leitores. Apolinário notabilizou-se como editorialista do Jornal A Notícia; Marco Antônio, como bom riograndense, pelo conhecimento sobre a saga de Los Gauchos, povo que colonizou o cone sul; e Bráulio Barbosa, médico intensivista experiente sabe das coisas, especialmente nestes tempos bicudos.

Vamos aos fatos, porém. Em qualquer lugarejo ou cidade maior, fascinam-me três atrativos? Banca de Revistas, Biblioteca Pública e Livrarias. Livrarias de livros novos, e sebos.  Estes acolhem fantasmas, a maioria dos quais longevos, mas sobretudo abrigam glamour. Boas obras, confesso, comprei em sebos. Obras boas com valores módicos.  O único problema: matar os ácaros, via de regra, dominantes nestes ambientes. Encrenca certa, se não forem combatidos. Para isso, para superar o imbróglio sempre apelei para o sol e o vinagre. Um pouco de vinagre e algumas horas de sol, um santo remédio. Assepsia completa.

Nas viagens, o primeiro passo que me move, assim que posso… visitar a biblioteca pública, espécie de santuário da sabedoria. Ali, velhas raposas, e novas raposas, inevitavelmente coexistem.  Emprateleiradas, espreitam-se; nos espreitam.

Boas horas de minhas andanças dediquei-me a esse prazeroso affaire. E, há bibliotecas e bibliotecas, a de Viena por exemplo (vi na internet), é simplesmente primorosa do ponto de vista arquitetônico. Outras mais simplórias espalham-se nos grotões. Pranchas de peroba, apenas isso, e volumes doados por abnegados, mas não menos importantes, pois bibliotecas expressam alma de um povo.

Quanto aos sebos, este é outro retrato. Espécie de Secos & Molhados abrigam um pouco de tudo. De Shakespeare a Mark Twain; de Machado de Assis a Manoel Bandeira; de Castro Alves a João Cabral de Melo Neto e por aí afora.  Necessariamente não seguem uma ordem, apenas incipientes instintos organizacionais. Daqui e dacolá volumes esparsos, inclinadas prateiras.  Possuem em comum o DNA de cada gestor. E o porquê dos frequentadores, pois o escambo é a essência dessa gambiara.

Falava das Casa das Revistas, uma instituição familiar. A família de Márcia varou gerações no ramo. A mãe, vez por outra ainda ajuda. Possuem outra banca na avenida Getúlio Vargas.

Escassearam os jornais afirma Márcia. Religiosamente ainda recebe A Folha de São de São Paulo e o Estado de São Paulo. Ah, e o Agora. E também o Valor Econômico, réplica da Gazeta Mercantil. Grandalhões conservam o estilo secular. Dos jornais locais restou o jornal A Cidade, um semanário. Enxuto, mas gratuito. Saudade do Jornal A Notícia hoje, restrito, no momento, a um misto de jornal e revista, também semanal. Outros apenas virtuais, caso do Jornal do Iririú do meu amigo Ary Silveira. Um ótimo jornal diga-se de passagem.

Márcia pondera: – Os leitores são os mesmos de tempos atrás, pessoas idosas; a juventude evadiu-se. Sinal dos tempos obviamente.

Aponta um lance curioso: dias desses índios adentraram na banca. Jovens índios. Percorreram os stands, e imagina(!) somente pararam na sessão de revistas pornô. Ela adverte: – Material somente para maiores de idade.  Ressabiados, retiram-se. Informa: – Ora! até índio anda mudado.

Entrego a ela uma edição de meu último livro – O Lobo do Bucarein. Informo sobre seu conteúdo, crônicas do campo. Eufórica, informa: – Joinville precisa disso, literatura da terra. Nossa história é muito rica. Concordo com ela, precisamos incentivar escritores locais e regionais. Deixo alguns exemplares, um deles para Apolinário Ternes que acabara de ligar reservando um jornal.

Cá entre nós, uma banca de revistas: acaso existe lugar mais abençoado, cuja energia conspira a nosso favor. Parto feliz com meus jornais debaixo do braço. Haja domingo!

 

    Joinville, 20 de junho de 2021

 

Onévio Zabot

Engenheiro Agrônomo

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