Classificados curiosos (Else)

Classificados curiosos

Cri-Cró era um grilo muito esperto. Sua cor verde musgo o diferenciava de todos os outros grilos que moravam na Vila Griléria.Esta vila, no início, só tinha grilos como moradores, mas com o tempo foram vindo outros bichos. O nome, no entanto, continuou o mesmo.

Cri-Cró havia tido um problema que o tornou muito conhecido na Vila. Ele não conseguia falar cri-cri como os demais grilos. Falava cri-cró daí o seu nome. Entretanto, com o auxílio de uma fonoaudióloga, indicada pelo doutor Sapão, renomado filósofo que tinha consultório de aconselhamento na Vila Griléria, o problema foi resolvido.

Um dia Cri-Cró lembrou que, quando foi fazer a consulta com o doutor Sapão, enfrentou uma enorme fila de bichos e, conversando com eles, percebeu que o caso de muitos deles se resolveria com um simples anúncio. Mas, pensou ele, anunciar onde?

Como a Vila não contava com nenhum órgão de comunicação, Cri-Cró teve a idéia de fundar um jornal. Chamou alguns amigos que eram jornalistas e em pouco tempo nascia “A CORNETA”, um jornal completo com vários cadernos muito bem elaborados.

Para o caderno de classificados Cri-Cró contratou o macaco Barnabé, criativo jornalista que entendia do assunto como ninguém. Entre anúncios de vendas, compras, trocas e serviços saíam alguns bem interessantes e que chamavam a atenção:

“Precisa-se de um tatu experiente para cavar uma grande toca.Tratar com dona Onça Pintada, no Taquaral.”

“Compro rebolo para amolar bico. Falar com Picapau na peroba grande perto do rio.”

“Vendo xales de renda fina. Tratar com dona Aranha, debaixo da escadaria ao lado da igreja.”

O jornal tinha ótima aceitação e os anunciantes faziam bons negócios. Certo dia foi publicado um anúncio que deixou muitas perguntas nas cabeças dos leitores do jornal.

“Vende-se um filhote de chupim. Tratar na Rua do Arvoredo número l0.”

Quem estaria vendendo um chupim? Será que os colecionadores de pássaros vão comprar um chupim? Bem cedo ao ler o jornal, Cri-Cró chamou Barnabé para saber quem tinha colocado aquele anúncio. Ele já havia recebido alguns telefonemas e queria esclarecer o assunto.

– Foi um tico-tico, senhor diretor, disse o macaco. Eu até questionei e ele me explicou:

– Olhe, quase toda a minha vida eu crio filhos de chupim e os meus próprios filhos morrem de fome. Agora cansei. Se ninguém aparecer para comprar, quem sabe o pai aparece e resolve cuidar do filho. Mas eu garanto que vai aparecer muito gato querendo comprar um passarinho para o almoço ou jantar.

Cri-Cró sorriu e comentou:

-Ah! Se pudéssemos dar um jeito em todos os chupins…! Você sabe que não é só em ninho de tico-tico que aparecem chupins, não é?

Dias depois um repórter do jornal trouxe a notícia de que a mãe do chupinzinho tinha ido até o ninho do tico-tico e levado o filho. Ele aproveitou a oportunidade e fez uma reportagem interessante com dona Chupim, mas esta é uma outra história que fica para uma outra vez!

 

Else Sant´Anna Brum – escritora infantil e educadora

   elsebrum@gmail.com

 

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