Discurso de posse da acadêmica Taiza Mara Hauen Moraes

DISCURSO DE POSSE 

 

Cumprimento às autoridades presentes já nominadas, aos acadêmicos da Academia Joinvilense de Letras na figura de sua presidenta Maria Cristina Dias, e in memoriam ao meu companheiro de vida Ademar, incentivador para que avançasse na caminhada de leitora/escritora.

Cumprimento meu filho Rafael, meus irmãos Daniel e Antenor Jr., às cunhadas Celita e Simone, ao sobrinho Eduardo, aos integrantes do Grupo de Pesquisa Imbricamentos de Linguagens, aos acadêmicos/mestrandos/doutorandos e professores do Cursos de Letras e do Programa de Patrimônio Cultural e Sociedade da UNIVILLE, companheiros de sonhos e demais convidados aqui presentes e que acompanham a cerimônia online.

A minha trajetória como leitora iniciou numa família na qual o livro, a poesia e as histórias de vida circulavam como força propulsora para a existência. As lembranças de encontros com a leitura advêm da primeira infância, pois minha mãe, Noily selecionava uma história para contar à noite para mim e para meu irmão Daniel, um ano e oito meses mais novo, criando uma atmosfera mágica que antecedia o sono.

As memórias da adolescência estão associadas fortemente às influências literárias de meu pai, Antenor que selecionava um poema por dia e lia para a família antes do jantar. Momento que iniciei a questionar seu romantismo, pois na época valorizava a arte modernista/moderna e a literatura existencialista proposta por Simone de Beauvoir e Sartre. Período de demarcação de um rumo profissional. Fase existencial, em que meu pai foi decisivo para impulsionar minha trajetória pregressa, pois como vereador do Munícipio de Mafra, norte de SC, impulsionou uma campanha para implantação dos primeiros cursos superiores com a criação Fundação Universitária do Norte Catarinense (FUNORTE), na década de 1970, inicialmente estruturada por três cursos universitários: Letras/ Matemática/ Ciências Econômicas. Atualmente Universidade do Contestado (UnC – Campus Mafra).

Conclui a Licenciatura Letras/Inglês e ingressei no Programa de Mestrado a Universidade Federal de Santa Catarina e após a defesa da Dissertação de Mestrado desenvolvida a partir da literatura existencial de Clarice Lispector abriram-se múltiplas perspectivas para meus estudos literários que se proliferam e aprofundaram com o meu ingresso como professora de Literatura Brasileira, no curso de Letras (FUNORTE/Mafra), cidade para qual retornei e atuei profissionalmente por um ano. Prossegui minha jornada profissional em Joinville, na FURJ, atual UNIVILLE, cidade adotada após o casamento e na qual atuo há quatro décadas.

Ingressei na FURJ, no curso de Letras como sucessora do professor escritor/acadêmico David Gonçalves e a paixão pela leitura abriu espaços profissionais para atividades dirigidas ao desenvolvimento políticas de leitura articulando a escola e a sociedade. No ano de 1994 em parceria com o Programa Nacional de Incentivo à Leitura – PROLER, da Fundação Biblioteca Nacional foi criado um núcleo PROLER/Joinville até hoje atuante. Programa de leitura dirigido para uma prática desescolarizada da leitura, compreendida em uma conceituação mais ampla, voltada para a leitura de mundo e às várias linguagens que lhe dão formas impulsionado por parcerias internas e externas e em especial destaco a parceria com Fabio Henrique Nunes Medeiros, que  iniciou no PROLER como acadêmico de Letras e impulsionou  o desenvolvimento do sub projeto Salve o Cinema, para o qual foi adaptado o Anfiteatro da Biblioteca da UNIVILLE e  há três décadas ocorrem sistematicamente sessões de cinema arte, acompanhadas por um olhar crítico e discussões com público após a projeção do filme.  Fábio como profissional seguiu sua carreira acadêmica mestrado em Teatro pela UDESC e doutorado em Artes Cênicas pela USP/SP, porém manteve-se vinculado ao desenvolvimento e manutenção de ações leitoras em Joinville e região e parceiro em publicações pela editora da Univille e de uma coletânea de contação de histórias agregando vozes múltiplas da cultura brasileira, Contação de Histórias: Tradição, Poéticas e Interfaces, Edições Sesc /SP, reeditada em e-book. Atualmente, o projeto Salve o Cinema está sob a curadoria do Dr. José Isaías Venera, professor atuante na Univille e estamos com um terceiro livro no prelo com as leituras críticas desenvolvidas a partir das projeções de filmes.

O projeto Salve o Cinema foi desenhado em homenagem ao meu pai Antenor Rauen, sócio fundador da EMACITE – Empresa Mafrense de Cinema e Teatro, advindo das iniciais do nome do empreendimento inaugurado no final da década de 60. O cinema tornou-se num ponto de encontro cultural em Mafra e região e sua programação era predominantemente aos sábados e domingos com sessões noturnas e diurnas voltadas para o público infantil e sessões especiais às quartas feiras à noite para as mulheres que não pagavam ingresso.

Em 2002, defendi a tese de doutorado na UFSC focada nos diários do escritor, Harry Laus que desvelam os conflitos de um escritor/leitor ou de um leitor/escritor que encontrou chaves para a compreensão da existência na leitura e no fazer literário. Primeira obra que publiquei em livro em 2005 com o título: Diários: espaços de presença e ausência de Harry Laus: edição crítico genética, via Edital de Apoio à Cultura do Município de Joinville, em 2005.Portanto minha trajetória de escritora/organizadora de livros é marcada pela potência do literário de abrir espaços subjetivos e sociais de interação com o mundo.

Trajetória de vida traçada por livros e pela leitura que propiciaram e propiciam encontros vida/arte entrelaçados e neste de momento início de novos pactos, agradeço especialmente aos acadêmicos da AJL a oportunidade de partilha desse espaço de valoração da leitura e da escrita do literário e à Josephina Dalila Johann Nocchi, minha antecessora, escritora mulher e fundadora da AJL, membro ocupante da cadeira 15.

GRATIDÃO

Taiza Mara Rauen Moraes

 


 

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