Escola Francisco Eberhardt (Zabot)

 

ESCOLA FRANCISCO EBERHARDT

Escola Estadual Francisco Eberhardt, Joinville, mas poderia ser qualquer outra, em outro logradouro. Porém, escola sempre é e sempre será escola. Abrigo. Aconchego. Amizades. Camaradagem. A Francisco Eberhardt, no entanto, neste momento, se destaca. Sobressai. Semana do livro e da biblioteca – 24 a 27 de outubro. Eventos e palestras, escritores e escritoras apresentando-se e discorrendo sobre a arte da palavra. Literatura. Louvável a iniciativa. Bom demais!  Ora, quanta ousadia atrever-se a adentrar ao mundo acadêmico.

Vamos aos fatos, porém. Em breve pesquisa sobre o personagem Francisco Eberhardt, líder político, vereador e presidente da Câmara Municipal – idos de 1946 -, uma curiosidade: notabilizou-se por ser adepto da homeopatia, popularizando-a. Recomendava medicamentos naturais.  Outra curiosidade: a origem da palavra Eberhardt: “forte como um urso”. E Francisco, então, evoca São Francisco de Assis, amigo dos animais.  Cravada nas proximidades da encosta de Serra do Mar, a denominação cai como uma luva.  Harmonia perfeita. Menos urso, pois a serra é terreno farto para outras espécies: tatetos e queixadas e a temida suçuarana, também conhecida como onça parda. Ou por outra: popular leão-baio no alto da serra.

Ora… escola, escrita, linguagem, tudo a ver. Senão vejamos:

–  Dias desses respondia uma indagação: qual a idade mais longa de história: a Antiga ou Média. A Moderna.  Ou pré-histórica. A resposta: a Pré-histórica. O marco divisor: a invenção do alfabeto, a palavra escrita. Impressionante: há um longo silêncio histórico antes da escrita cuneiforme. Aprendizado à duras penas. Predominância, obviamente da oralidade.  Saber ler e escrever, sejamos realistas, um privilégio rompido somente mais tarde. Arma poderosa e secreta de dominação, certamente. E, sabemos, não basta apenas saber ler e escrever, é preciso mais: interpretar. Ou por outra, ler nas entrelinhas, segundo meu amigo Franklin, filósofo nas horas vagas. E aí mora o perigo. “Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa”, ousam vociferar os manezinhos da Ilha Catarina. E há as doutrinas, as escolas de interpretação. No direito, dezenas delas. Daí a máxima: informar não basta, é preciso comunicar-se. E comunicação pressupõe o que o outro entende. O interlocutor. Interprete da mensagem, leia-se.  E para evitar mal entendidos, antes de iniciar qualquer diálogo, para que seja produtivo, primeiro é preciso definir o conceito, assim preconizava Cícero. Ou por outra: encontrar o denominador comum.

Divagações à parte, vamos à Escola Francisco Eberhardt. Situada na embocadura da estrada do Rio Prata, empresta charme ao lugarejo. Próxima da Igreja luterana. Evoca história e personagens marcantes da colonização joinvilense.

Ao chegar na escola, a simpática diretora Elenir reporta-se ao concurso de poesia realizado anos antes. Em visita casual à época – entregando livros -, vimos o resultado: poemas expostos no mural da escola. Alguns me chamaram a atenção. Bem elaborados. Linguagem poética. Jovens, promissores, certamente.  Agora, retornado em razão da semana literária, a surpresa: Elenir que na época lecionava língua portuguesa, hoje é diretora. E faz questão de apresentar a pasta com os poemas. Lê alguns deles. Percebe-se nela um vivo-olhar. O sonho: um dia publicá-los.

Lá estou pela Academia Joinvilense de Letras, escalado que fui pela escritora Bernardéte. Mera coincidência. Acaso. Pouco importa. De pronto um ambiente extremamente acolhedor: professores e alunos, atentos. Radiantes.

Pergunto à professora sobre a escola, idade dos alunos e, principalmente, o que almejam aqueles jovens. Há em todo o jovem algo inimaginável. Sonham. Vibram. Penso cá comigo: – Quanta responsabilidade ao dirigir-lhes a palavra. Nunca dei aula, mas sempre fui um aluno atento. Curioso, no mínimo. Vem-me à mente colegas de turma. Professores, muitos professores. E o primeiro deles – professor Stanislaw -, o bom polonês. E a escolinha isolada, onde todas as séries cabiam numa única sala de aula. Uns sendo alfabetizados, outros já no quarto ano. Era o que havia por ali. Seguir adiante só na cidade, no colégio das Irmãs do Sagrado Coração de Jesus. Distante, muito distante coisa de sete quilômetros. Mais tarde percorremos o trecho a pé. Chuva no lombo nunca faltou. E nem poeira na estrada. Suor. Insistimos, no entanto.

Sobre o que almejam os jovens, Elenir, é sincera:

– Alguns tem noção do que desejam, outros – a maioria -, pensam encontrar o caminho. Bem – cismo -, neste caso vou falar do escritor, suas peripécias. Erros e acertos. Nada mais oportuno do que ser sincero nessas horas.

Sala cheia, olhares capiciosos. A bibliotecária Jakeline – Jake -, após a fala da diretora, saúda a todos, discorre sobre a importância do evento e, ato contínuo, passa a palavra. Pergunto pelos professores ali presentes. Estes se apresentam. Entre tantos a surpresa:  Marcelo Maciel, filho de Milton Maciel colega de academia. E a professora Pabst, filha de dona Ilze – emérita apicultora.

Segundo Adauto Vieira, embora incursione no campo da poesia: quatro obras publicadas: 1) Arco de Pedra, 2) Campo de Nozes, 3) O Padre Que Voava (este cordel) e 4) Cancioneiros do Verde (em editoração), meus livros podem ser classificados como memorialistas. Cito-os e os apresento, discorrendo sobre os mesmos, breves palavras.  1) Redescobrindo o Campo; 2) Geada Café e Viola, Retrato de uma Época; 3) O Lobo do Bucarein; 4) Pois, Agora Franklin, e em coautoria: 5) Rodovia do Arroz – Um Marco de Nossa História; e 6) Irmãos Aventura – Asas da Imaginação.

Perguntam, qual gosto mais. É difícil responder. Ouso destacar Cancioneiros do Verde, no prelo.  Mas, no íntimo, prefiro Geada, Café e Viola, Retrato de uma Época. Obra inspirada em Canaã de Graça Aranha sobre a colonização do Estado do Espírito Santo e Eugene O’Neill, dramaturgo americano, prêmio Nobel de Literatura. Tudo se passa numa única noite apenas. A narrativa, obviamente. Pois vidas, suas lutas carecem de tempo e espaço. Ou é drama, ou tragédia. Ou comédia.  No caso, personagens reais se encontram num velório, e expressam seus sentimentos em relação ao passado, o presente e sobre o futuro. Este incerto. Sentimentos nada lisonjeiros, diga-se de passagem, norteavam-nos.

A grande ruptura: geadas imprevistas, o empobrecimento do solo, solo exaurido por sucessivos cultivos. O desafio: recuperá-lo – a busca do equilíbrio ecológico – da sustentabilidade. Embora o pessimismo de muitos, alguns ousam – descortinam horizontes. Salvação à vista, portanto. A esperança é última que morre, provoca Franklin.

Superado o tempo, a diretora – Elenir -, faz questão de recitar alguns poemas do último concurso.   Emocionantes poemas. Aplausos acalorados. No embalo declamamos A Florada do Jacatirão – do livro Arco de Pedra. Palmas ecoam. Emoções diria Roberto Carlos. Alegria. Quanta alegria. Cenário gratificante; percebe-se claramente.

Naquele momento – como forma de agradecimento e gratidão -, o poema: Mar Português de Fernando Pessoa salta aos olhos. Transluz. Ei-lo:

“Ó mar salgado, quando do teu sal/São lágrimas de Portugal/Por te cruzarmos, quantas mães choraram, /Quantos filhos em vão rezaram! /Quantas noivas deixaram de casar/Para que físseis nosso, ó mar!

– Valeu a pena? Tudo vale pena/Se a alma não é pequena/Quem passar além da Bojador? /Tem que passar além da dor. /Deus ao mar o abismo deu, /Mas nele é que espelhou o céu”.

 

Joinville,  novembro de 2022

 

Onévio Antonio Zabot

Da Academia Joinvilense de Letras.

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