Cadê as armas vovô? (David )

CADÊ AS ARMAS, VOVÔ?

 

VOVÔ PERETA estava impossível. Contou histórias de lutas, de guerras, de cenas grotescas da mulher barbada no circo. Por final, disse:
– Eu tenho muitas armas!
Os quatro meninos, extasiados, queriam ver as armas. Curiosidade rói como soda.
– Não são armas comuns. Especiais, de longo alcance.
Os meninos queriam ver. Vovô Pereta entrou na casa, por um longo corredor semiescuro, os meninos atrás. Depois de várias portas, entrou.
– Aqui estão as armas.
Mas não havia fuzis, metralhadores, revólveres, lanças. Só livros. Muitos livros. Os meninos quedaram-se decepcionados. Mas Vovô Pereta pegou da estante, mostrou a capa:
– É Dom Quixote! Esse tem tiro longo. Tem 500 anos. Veja como dispara. Tá-rá-rá-rárááááá! – apontava o livro para todo lado, disparando. Tá-rá-rá-rárááááá!
Depois, pegou outro:
– Os Lusíadas! Está bem velhinho também. Mas em ótima forma. Tá-rá-rá-rárááááá!
Em seguida, mais outro:
– É Dom Casmurro! Também atira bem. Veja só: Tá-rá-rá-rárááááá! Tá-rá-rá-rárááááá!
Estava cansado. Os meninos, decepcionados. Vovô maluco!
– Esse é Grande sertão: veredas! Dá mais tiros do que a guerra de Canudos. Tá-rá-rá-rárááááá! Tá-rá-rá-rárááááá! Com essas armas se vence o Mal.
Exausto, suando, dobrou-se na poltrona revestida de pano e dormiu. Os meninos foram saindo, um tanto chateados.

 

David Gonçalves.

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