Joel Gehlen – Discurso de posse

24Vindo lá das barrancas do Lageado, dos grotões do Mamborê, empenho minha gratidão pela fortuna de ter mais essa oportunidade na vida para tornar-me menos tolo, menos ignorante e menos presunçoso.

Sobre o fundador e primeiro ocupante da cadeira nº 23 Augusto Sylvio Prodöhl

Nascido a 17 de março de 1917, Augusto Sylvio foi professor, sociólogo, jornalista e escritor, transitando com facilidade sobre temas os mais diversos. Aos 44 anos, em 1961, juntamente com Adolfo Schneider, fundou o Instituto Joinvilense de Cultura, assumiu a cátedra de sociologia na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis e publicou o seu segundo romance “Ás Margens do Cachoeira”. Seu romance de estreia, “O Engenheiro Misael”, fora publicado três anos antes, em 1958. E em 1969, Augusto Sylvio ajudou a formar a Academia Joinvilense de Letras. Teve também destacada produção de artigos e estudos, ao ponto de ter seu nome incluído num seleto grupo de autores brasileiros pela Faculdade de Filologia e História da Universidade de Augsburg, na Alemanha.

 

Sobre a Patronesse Julie Engell Günther

Contratado para tomar posse das 8 léguas de terra onde seria instalada a Colônia Dona Francisca e fazer os preparativos para recepção dos imigrantes, Hermann Günther chegou nas plagas onde hoje se encontra Joinville, em 20 de maio de 1850. Suas tarefas eram definir o lugar de desembarque, escolher o melhor local para o assentamento provisório, derrubar a mata, preparar a terra e plantar mandioca, feijão e milho; abrir caminhos e construir galpões para abrigar os recém-chegados, até que pudessem instala-se em suas próprias choupanas.

Trouxe do Rio de Janeiro “duas famílias” que deveriam fazer o serviço pesado. Mas, talvez tomado por um sentimento humanitário, escolheu dois imigrantes inexperientes, com jovens esposas e filhas nenéns. Um deles, jurista de saúde precária. O Engenheiro Günther trouxe do Rio também “um ‘pobre homem’ que deveria acompanhá-lo e funcionar como seu criado”, nas palavras do primeiro cronista da colônia, Theodor Rodowicz.

Ocorre que este não era nem pobre nem homem, mas uma mulher de vasta cultura: Julie Engell.

Faltando pouco mais de um mês para a chegada do primeiro navio com emigrantes, Günther não tinha dado conta das suas incumbências. Apesar de levados gastos, havia feito apenas uma picada, uma pequena clareira na mata e as primeiras construções: dois ranchos, uma casa, um casebre, além de uma horta. E o pior, em local considerado inapropriado para abrigar o núcleo colonial. Por esse motivo, foi demitido. Muito a contragosto, o casal teve de deixar a colônia.

Embora tenha sido rotulada pela historiografia simplesmente como a “amásia” de Günther, uma espécie “Eva” que desvirtuou o Engenheiro, a posteridade revelou uma personagem interessantíssima, que teria feito toda diferença caso permanecesse na colônia por mais tempo. Na verdade, tratava-se de uma intelectual, cronista, feminista, livre-pensadora, autora dos primeiros textos e gravuras publicados na Europa sobre a colônia.

Em um excelente estudo, Izabela Liz Schlindwein revela que Julie foi uma mulher extraordinária, viveu no interior de São Paulo, onde foi preceptora, até os 91 anos (1819-1910), publicou seis livros e artigos na imprensa de diversos países e manteve numerosa correspondência com a intelectualidade de seu tempo.

Muito provavelmente, além do pendor pelo trabalho e pelo voluntariado que caracterizam Joinville, teríamos raízes mais profundas de apreço pela cultura, liberdade e humanismo, legadas por Julie Engell Günther, se em vez de escorraçado, o casal tivesse permanecido na Colônia Dona Francisca.

 

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