Marinaldo de Silva e Silva – Discurso de posse

É UMA HONRA, ADVINDO DA REALIDADE ONDE CRESCI, QUASE QUE SURREAL ESTAR DE FRENTE PARA OS SENHORES NA QUALIDADE DE MEMBRO DESTA ACADEMIA. QUANDO LI A LISTA DE NOMES DE QUEM JÁ PASSOU POR AQUI, OU DOS PATRONOS DESSAS CADEIRAS, FIQUEI PENSANDO COMO NOSSO CAPITAL CULTURAL É REALMENTE UMA SOLENIDADE, E COMO A PALAVRA, NOSSA MOEDA DE TROCA E NOSSO CÂMBIO, AQUI NESSA ACADEMIA, NOS APROXIMA, DESCONSIDERANDO CLASSES SOCIAIS, POSICIONAMENTOS POLÍTICOS OU RELIGIOSOS, NESSA TEIA QUE FORMAMOS ENTRE ESCRITORES DE FICÇÃO E DE FATOS DA REALIDADE, POETAS, ADVOGADOS, EMPRESÁRIOS, RELIGIOSOS, HOMENS DA MEDICINA DO CORPO E DA MENTE, PENSADORES, TODOS REUNIDOS E SOB A TUTELA DE UM TÍTULO QUE É QUASE UM TÍTULO DE NOBREZA: INTELECTUAL. TENHO HONRADEZ E ORGULHO DE CHEGAR AQUI, COMO MEMBRO IMORTALIZADO DESDE JÁ, DE BUSCAR O INTELECTUAL EM MIM, SEM ESQUECER O HOMEM, E QUE FOI ELE, SEMPRE NA SOMBRA DO CONHECIMENTO PORQUE ELE NUNCA É ALCANÇADO, APENAS TOCADO TÃO VASTO  O SEU UNIVERSO, FOI ESSE HOMEM QUE SE DEPAROU FELIZ, E QUASE O RECUSOU, COM O CONVITE PARA FAZER PARTE DESSA HISTÓRIA, FICANDO NESSE HALL DE GENTE QUE TEVE PARA A CIDADE PAPEL FUNDAMENTAL NA SUA CONSTRUÇÃO, SENDO EU, DESTE SEMPRE, FRUTO TAMBÉM DESSAS HISTÓRIAS. ANDAMOS HOJE SOBRE RUAS QUE TRAZEM A LEMBRANÇA DE PESSOAS ILUSTRES, SENTAMOS EM PRAÇAS,  VISITAMOS LUGARES, ADENTRAMOS EM ESPAÇOS, PÚBLICOS OU PRIVADOS, QUE TRAZEM À LEMBRANÇA, A MEMÓRIA DESSES HOMENS QUE FORMARAM A NOSSA SOCIEDADE. POR ISSO A HONRA, PORQUE DE CERTA FORMA, ESTAREI TAMBÉM NO REGISTRO MEMORIAL DESSE UNIVERSO DA PALAVRA E DAS LETRAS: MEU ALIMENTO, MEU COPO E PRATO, MEU GANHA-PÃO, MINHA FÉ, MINHA MATERIA PRIMA. ESTAREI NA HISTÓRIA EM MEIO A ESSES HOMENS QUE TANTO BRILHARAM EM SUAS ÁREAS, TENDO VENCIDO PELA PALAVRA, PELA EMOÇÃO QUE ELA ME BRILHA, SAÍDO DA RUA DE CHÃO BATIDO DO BAIRRO GUANARABA, E UMA PARTE DAS PALAFITAS DOS MANGUEZAIS DO BAIRRO FÁTIMA, QUANDO MORAR ELA ERA SER INVASOR, ERA SER PARTE DO MANGUE EM SUA FORMA MAIS PEJORATIVA, ERA SER UM HOMEM DA LAMA. E SAÍDO DE LÁ, SEMPRE ME ESPELHANDO NA GARÇA QUE BRANCA ADENTRA NO ESCURO DO LODO E SAI ILESA, CONSEGUI NÃO SUCUMBIR A ORFANDADE AOS 15 ANOS DE IDADE, NEM ME DEIXAR SEDUZIR PELAS OFERTAS DO MUNDO DA ILEGALIDADE E DA MARGINALIDADE QUANDO ME VI SOZINHO, E CHEIO DE OFERECIMENTOS SUBVERSIVOS. CRESCIDO, ADENTRO DESSE ESPAÇO, SÍMBOLO DA ARISTOCRACIA, DA BELEZA, DE UMA ELITE INTELECTUAL, PARA FAZER PARTE DELA, BUSCANDO ,POR MEIO DA MINHA OBRA LITERÁRIA, DO LEGADO QUE PRETENDO DEIXAR, FAZER COM QUE A PALAVRA SIM, ANTES DE MIM AINDA, ELA SEJA ELITE, ELA SEJA A POMPA, ELA SEJA A RAINHA. OU O REI, CONSIDERANDO ESSES TEMPOS DE IGUALDADE, DIVERSIDADE, E ENTRELAÇAMENTOS. E É POR ESTE PERFIL QUE QUERO SER PERCEBIDO: COMO UM INTELECTUAL TAMBÉM, MAS ANTES DE TUDO UM POETA E NÃO SÓ UM ESCRITOR DA POESIA, UM ESCRITOR QUE BUSCA, E CONTINUARÁ BUSCANDO, CONSTRUIR SUA MEMÓRIA COMO A CONSTRUÍDA AQUI POR TANTOS HOMENS.

ANTES DE APRESENTAR O MEU ANTECESSESSOR, E FALAR SOBRE O PATRONO QUE ESCOLHI PARA A MINHA CADEIRA, GOSTARIA DE HONRAR O NOME DO FUNDADOR DESSA INSTITUIÇÃO, O SENHOR ADOLFO BERNARDO SCHNEIDER. ATUALMENTE MEU OBJETO DE ESTUDO NO MESTRADO QUE FAÇO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JOINVILLE, NO TOCANTE A SUA OBRA INFANTIL EM ANÁLISE DO CONTEXTO DA ÉPOCA EM QUE FORAM ESCRITOS, REAÇO AQUI, OS BENEFÍCIOS DEIXADOS, AS MARCAS E O LEGADO QUE O SENHOR ADOLFO BERNARDO SCHNEIDER, PATRONO DESSA ACADEMIA, DEIXOU PARA A CIDADE: NÃO FALO APENAS DE INSTITUIÇÕES COMO O MUSEU SAMBAQUI, O ARQUIVO HISTÓRICO, A BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL ONDE FOI O PRIMEIRO COORDENADOR, ALÉM DESTA ACADEMIA ONDE ESTEVE EM SUA FUNDAÇÃO, MAS OS REGISTROS QUE O MESMO DEIXOU, CERCA DE DEZ MIL DOCUMENTOS, DESDE FOTOGRAFIAS DA NOSSA CIDADE, ATÉ CARTAS TROCADAS COM AUTORIDADES FEDERAIS BUSCANDO SEMPRE PROMOVER A NOSSA HISTÓRIA. EM SEU ACERVO, DESCOBRI, POR EXEMPLO, QUE O PRÍNCIPE DE JOINVILLE ERA ESCRITOR, QUE A SUA ESPOSA, A PRINCESA DONA FRANCISCA, ERA CANTORA, E AMIGA ÍNTIMA DO GRANDE ESCRITOR FRANCÊS, VICTOR HUGO. TENDO DEIXADO UMA HISTÓRIA REPLETA DE AMOR AO UNIVERSO DA PALAVRA, E UM ACERVO MONUMENTAL QUE EU PRETENDO RECUPERAR, QUERO REALÇAR AQUI O NOME DESSA PESSOA, MERECEDOR DE UM BUSTO, POR TUDO O QUE FEZ POR NOSSA CIDADE E QUE NÃO TEVE, INFELIZEMNTE, O RECONHECIMENTO DEVIDO, EM VIDA, SEGUNDO CONSTA SUAS CARTAS, E DEPOIMENTOS DOS QUE JUNTO DELE ESTIVERAM PRESENTES. FICA A MINHA SAUDAÇÃO.

SAÚDO, TAMBÉM O ACADÊMICO CÉSAR AUGUSTO DE CARVALHO, NASCIDO EM 05 DE NOVEMBREO DE 1902 E FALECIDO NO DIA 23 DE OUTUBRO DE 1985. EMPOSSADO COMO MEMBRO-EFETIVO DESSA ACADEMIA NO DIA 07 DE DEZEMBRO DE 1972, EM CERIMÔNIA REALIZADA AQUI MESMO, NESTA SOCIEDADE, HARMONIA LYRA, QUE CONTOU, NAQUELA OCASIÃO, COM MEMBROS DA ACADEMIA CATARINENSE DE LETRAS, NUM EVENTO QUE FICOU CONHECIDO, À ÉPOCA, COMO “ENCONTRO DAS ACADEMIAS”, POIS, ERA NAQUELA OCASIÃO, A PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA QUE OS MEMBROS DA ACADEMIA CATARINENSE DE LETRAS SAÍRAM DA SUA SEDE, EM FLORIANÓPOLIS, E REALIZARAM UMA SESSÃO FORA DELA, OCORRENDO AQUI, UMA SESSÃO CONJUNTA. NESSA OCASIÃO DA POSSE DO SENHOR CEZAR AUGSUTO DE CARVALHO E DE MAIS ALGUNS MEMBROS-ACADÊMICOS, DISCURSOU PELA ACADEMIA JOINVILENSE, O SENHOR CARLOS GOMES DE OLIVEIRA – LEMBRAMOS QUE ELE FOI O FAMOSO SENADOR QUE DERA POSSE AO PRESIDENTE JUSCELINO KUBTISCHEK, EM 1956, NA CONDIÇÃO DE PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL).

CESAR AUGUSTO DE CARVALHO foi pai do também acadêmico Ilmar Gastão de Carvalho, que foi admitido na academia joinvilense em 15 de novembro de 1969, 3 anos antes. Foi um dos raros casos em que pai e filho foram membros da mesma academia de letras, ao mesmo tempo. Lembramos ainda, que o senhor Ilmar de Carvalho ainda vive, estando atualmente com 90 anos de idade , residindo no Rio de Janeiro. O pai de César Augusto, o jornalista e professor Avelino Alves de Carvalho, é Patrono de outra das cadeiras da Academia Joinvilense, que é ocupada pela acadêmica Raquel s. Thiago. Ou seja, são três gerações de literatos, de homens que como nós, membros dessa academia, investiram suas ideias para a proliferação de uma causa nobre.

Cesar Augusto de Carvalho nasceu em São Francisco do Sul, em 05 de novembro de 1902, em pleno início do século XX. Foi contemporâneo das transformações histórias mais contundentes do último século, as duas primeiras guerras, e também, na formação do próprio cunho do intelectual brasileiro, que entre os anos vinte e quarenta se formava, tanto política quanto artisticamente, na ânsia de um Brasil Novo, na busca de uma identidade cultural para nossa nação, despregada dos vícios que ainda restavam do Brasil império, ou seja, uma cultura abrasileirada, independente dos títulos e rótulos, costumes e estéticas europeias. Formado na área das letras, teve sua primeira como professor nas Escolas Reunidas de Mafra, onde permaneceu, já como Diretor, até dezembro de 1922. Nesse período começou a enviar suas primeiras crônicas para o Jornal de Joinville, começando assim, sua vida literária e jornalística. Rapidamente passou a fazer parte da equipe do jornal, acendendo, graças a seu talento, à oportunidade de ter sua própria coluna, “O conto da Semana”, publicado, como diz o nome, semanalmente, naquele jornal. Na sequencia desse fato, passou a colaborar também com o recém fundado jornal A Notícia, jornal onde César Augusto de Carvalho foi colocado no centro do olho do furacão, quando publicado um trecho de “Os Miseráveis” de Victor Hugo, levando o título de “ O Amor”, sob o pseudônimo de Tenente Misterioso, cujas conversas da época, levavam a suspeitar de que  o feito era de sua autoria, de que o Tenente Misterioso era o próprio César Augusto. Nunca provado. Mas, sob a pecha de copiador, César Augusto voltou para São Francisco do Sul. Passado um tempo, voltou para Joinville, assumiu cargos de diretor em algumas escolas, em 1928 ingressou no Jornal A Notícia como redator chefe, até encontrar em Bento Carqueja, o pseudônimo que lhe daria notoriedade como cronista. Neste mesmo ano, a pedido do Barão Von Dreifuss, passa a organizar e dirigir o Anuário Joinvilense, revista que fez muito sucesso, cujos alguns exemplares pretendo recuperar numa republicação como um memorial da literatura joinvilense, que buscarei, por meio de pesquisa, resgatar juntamente a um “dicionário da intelectualidade joinvilense’, onde buscarei trazer à tona, todos os escritores que eu conseguir trazer, que tiveram trabalhos ficcionais ou não, publicados na cidade de Joinville, desde a sua fundação. Tarefa árdua. Mas, gloriosa.

Para finalizar, ou melhor, para abrir essa nova etapa da minha vida, justo que não considero que receberei apenas um título ou uma homenagem, mas farei dessa cadeira algo muito mais do que simbólico, mas uma catapulta para buscar aproximar o povo da academia por meio da redescoberta nas escolas da cidade dos nossos escritores, da nossa história, e do legado de cada um, quero finalizar nomeando, postumamente, é claro, o patrono da minha cadeira, que é uma tradição desta academia, quiçá de todas elas, e que não foi feita na ocasião da permanência aqui, do senhor Cesar Augusto. Defronte uma lista imensa de personalidades-personagens, pois a maioria, no meu inconsciente nem eram mais pessoas, mas ruas, praças monumentos, defronte desse reinado me deparei com nomes dos mais diversos, e desde a primeira vez, me chamou a atenção o nome de Duque d’Aumale. O Duque, também reconhecido como Henrique d’Orleans, tem uma ligação meio que umbílica com nossa cidade, não apenas por ser o irmão do príncipe François Ferdinand Felipe, antigo dono dessas terras, mas por ter sido o responsável pela compra, na época, da região onde hoje fica o Distrito de Pirabeiraba, e o responsável pela primeira indústria da cidade de Joinville, uma Usina de Açúcar, dotada de maquinário importado trazido da Europa, considerada uma das maiores empregadoras e exportadoras que existiu em Joinville no século XIX. Situada na Estrada do Oeste, ainda resta na cidade, como memória de uma época, uma parte do que foi a usina. Mas o que isso teria a ver com uma Academia de Letras, podem perguntar os interessados. É que o Duque d’Aumale é nada mais nada menos que um dos fundadores da Academia Francesa de Letras, que foi a academia modelar a todas as outras academias do mundo! O jovem duque, irmão do príncipe, por força política com fins de manutenção de suas terras, sem a necessidade de divisão com outros reinados, teve que casar com a própria prima em primeiro grau. Talvez tenha sido esse o fato com que fez que todos os seus filhos morressem prematuramente, sendo que apenas dois chegaram a idade adulta. Escritor de narrativas históricas, deixou seu legado por meio da palavra. Único herdeiro de seu tio, recebeu o Castelo de Chantilly como herança, que deixou, também como herança para o povo da França, já que antes de morrer via-se e sentia-se sozinho. Sua história, principesca, contemporâneo de Bonaparte e de vários dos personagens que estiveram conosco em sala de aula, soa quase como um conto de fadas, pelo viés da disparidade social e política entre ele, e nós. E pela disparidade social também que, apesar disso, não me afastou dessa academia com a minha posse, também me vejo como num conto de fadas, e por isso, minha indicação para patrono da minha cadeira, nesta academia, ao Duque de Aumale, se torna tão simbólica, por evocar a importância de alguém que em nossa história só é reconhecido talvez pelos historiadores, assim como a minha ficaria, reconhecida apenas pelos meus parentes diretos, se o presidente desta Academia, senhor Milton Maciel, e todos os seus membros, não tivessem votado a favor, desse escritor em formação, sempre em formação, que se apresenta aqui com a alcunha de Marinaldo de Silva e Silva, em homenagem a todos os outros citados.

Com efeito, o Duque d’Aumale era um amante dos livros, além de escritor e membro da Academia Francesa, a inspiradora das demais Academias de Letras.

E teve seu nome ligado quase que umbilicalmente à história de Joinville, através de Pirabeiraba e da Usina de Açúcar, que foi umas das maiores empregadoras e exportadoras que existiu na Joinville do século XIX, dotada de maquinário importado que o Duque mandou trazer da Europa. Infelizmente dessa grande propriedade resta apenas um dos prédios, hoje tombado.

 

COMPARTILHE: