Nelci Seibel – Recepção por Raquel S. Thiago

SAUDAÇÃO A NELCI.

Boa noite a todos os presentes,23 ao Presidente Dr. Adauto Vieira, ao demais acadêmicos e especialmente ao Secretário Paulo Silva, cujo interesse e dedicação se refletem na rápida “refundação”  da Academia Joinvilense de Letras .

Minha saudação especial  aos  acadêmicos que hoje tomam seus assentos ao redor da grande mesa desta “ casa de amigos “ – DOMUS AMICA –  por onde circulam   cultura e reflexão . Estou falando de Marcelo Harger, Nelci Seibel e Wilson Goebcke, cujo ingresso nesta Academia  apresenta-se-nos bastante significativo, face às suas produções e alcance intelectual. Sejam todos benvindos. Obedecendo à tradição acadêmica, cumpre-me saudar especialmente a nova acadêmica Nelci Seibel.

Conheci Nelci  no final nos anos 1990, quando ela recorreu à Oficina da Memória, empresa de projetos culturais que eu mantinha na época. Buscava, minha cliente, orientação para elaborar um projeto nada simples  , a fim de buscar recursos junto à  Lei Rouanet para a realização da Fenachopp ( Festa Nacional do Chopp) .

Trabalhamos muito e, neste trabalhar, nossas afinidades foram aflorando até chegar a uma sólida e gratificante amizade . Daí minha alegria quando, na condição de Acadêmica , recebi a incumbência de saudá-la no momento da sua posse.

Formada em Comunicação Social, Nelci voltou suas atividades para o jornalismo turístico, mas não se deixou levar pela idéia simplista de um turismo despido de história. Seu olhar nunca desviou do viés histórico das edificações, dos monumentos, das obras de arte.

É da sua autoria a obra São Francisco do Sul –500 anos –  Construções históricas –( 2004) , valioso registro de boa parte da história da Ilha. Pois, como revela a autora na apresentação, fazia-se importante “ resgatar e valorizar o perfil histórico do casario como agente cultural, educativo e turístico para a cidade “ .

Por volta de 2006  , surgiu nova  oportunidade de trabalhar com Nelci quando prestei consultoria e orientei-a na metodologia da pesquisa e da escrita histórica para escrever a “História do Porto de São Francisco do Sul”. Este fato levou-me a admirá-la ainda mais, pois nem todos os escritores levam consigo a humildade necessária em busca de orientação para o aperfeiçoamento do seu trabalho. Aprender e aprender sempre foi  seu lema .

No decorrer deste trabalho Nelci mostrou-se excelente pesquisadora em documentos; sabia captar o sentido das memórias dos seus entrevistados; cavava até onde não mais pudesse para buscar informações preciosas acerca da história do Porto de São Francisco do Sul sempre na convicção de que  “(…) é preciso  procurar, perguntar, observar, repetir, confirmar, comparar, gravar, escrever frase por frase para compor uma história. Informações podem estar escondidas nas páginas rotas de um velho jornal, nos detalhes quase apagados de uma fotografia, nas entrelinhas de um documento, nas anotações de um velho calendário ou quem sabe confinado dentro de uma garrafa ou nas dobras de uma carta de amor . (…) incontáveis histórias e acontecimentos não revelados povoam uma trajetória de mais de quinhentos  anos, escreveu Nelci na introdução desta obra . E aqui deixou transparecer sua veia poética.

Antes, porém, Nelci , fascinada pelas tradições e não só fascinada mas preocupada com a memória do fazer e do saber fazer,   escrevera  Profissões de Antigamente nos anos oitenta , cujo campo de pesquisa fora o pequeno município  riograndense , Bom Princípio, sua terra natal.

Neste trabalho registra histórias fascinantes e ao mesmo tempo estranhas para nós que vivemos a revolução tecnológica. Descreve, então a profissão de Knochenfleker, ou seja,  consertador de ossos .

Registra  a autora  que  diariamente pessoas procuravam o Knochenflekert para ver o que tinha acontecido com o joelho, com as costas, com o nervo ciático, com o pulso ou o tornozelo, concluindo  Nelci, em seu trabalho, que  conta  não se pode dizer que as pessoas eram atendidas de maneira muito carinhosa, pois quem passou  por um Knochenflekert lembra, em primeiro lugar, dos gritos de dor que ecoavam pelos cantos da sala. Quando estalava um osso podia-se dizer com certeza: mais um problema estava resolvido .

Talvez a profissão mais  importante para Nelci, descrita em outro trabalho,  seja a do queijeiro . Suas lembranças estão  permeadas pela atividade do fabricante de queijo pois  envolve significativamente sua biografia.

Seu pai, Adolíbio Seibel, tinha  uma fábrica de queijos da qual tirava o sustento para sua família.   Aqui vai também uma homenagem a este homem que, com sua esposa Dona Guilhermina, criou – e bem – os 9 filhos.

Nelci descreve passo a passo a produção do queijo naquela época. Mas o que faço questão de registrar aqui, evocando um pouco mais a memória da nova acadêmica, é a participação de todos os filhos do senhor Adolíbio e de Dona Guilhermina em todas as etapas da produção.

Uma delas, porém, lhe foi constrangedora, conforme ela descreve:  imaginem a Nelci, adolescente ou sua irmã Ilone, montadas a cavalo, a atravessar o centro da vila de Bom Princípio. Diz ela : “(…)primero era eu   depois a Iloni. Sentada na cela do cavalo que ela qualificou de “indesejável trono” – com oito a dez latas penduradas, rumava para a vila, até a funilaria (…) Para quem via era uma cena cômica. Para nós, adolescentes, catastrófica, lembra Nelci.

As latas batiam de uma forma sincronizada com trote do cavalo. A prova de fogo, para ela,  era passar pelo centro da vila. Pelo estranho barulho, imaginava que as pessoas pensassem  que   estava sendo anunciada a vinda de algum circo (…) para animar um pouco a pacata vila de Bom Princípio.

Adolíbio e Guilhermina construíram uma família linda,  tendo influenciado não apenas na formação do caráter de todos eles, mas ensejado que todos buscassem sua verdadeira vocação e fossem felizes. Todos têm curso superior, uma socióloga, outra médica, mais uma jornalista, três advogados e por aí vai.

Nelci formou-se em Comunicação Social pela  UNISINOS , em  São Leopoldo, cujo resultado  está se comprovando nesta noite .

Sua  chegada  em Joinville na década de 1980  enriqueceu o setor turístico da cidade , no qual desempenhou diversas atividades em Sindicatos de Hotéis, Relações Públicas, Chefe de Relações Públicas e Cerimonial da Prefeitura de Joinville  .

Colunista de Turismo em diversos jornais da região de Joinville , atualmente no Notícias do Dia,  é portadora de diversos troféus e placas em reconhecimento aos serviços prestados pelo desenvolvimento do Turismo e da  Cultura  em Joinville e  Santa Catarina Comunicação Social.  Participa ativamente  de entidades relacionadas à sua profissão.

Vejo, daqui, os olhos brilhantes de orgulho dos seus filhos, noras e netos por esta mãe, sogra e avó  que teve o mérito de, para além da maternidade, fazer jus à sua existência por meio do seu amor à sua profissão,  sempre sintonizada com as letras, a cultura, a memória e a história. Seja bem vinda, Nelci,

 

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